quinta-feira, 28 de julho de 2016

Evangelho do Dia (28/07/2016)



Evangelho do Dia (28/07/2016) -  Mt 13, 47-53*:

"O Reino dos céus é comparável ainda a uma rede que se lança ao mar e que reúne peixes de toda espécie. Quando está cheia, puxam-na para a praia, depois, sentados, juntam em cestos o que é bom e jogam fora o que não presta. Assim acontecerá no fim do mundo: os anjos sobrevirão e separarão os maus dentre os justos e os lançarão na fornalha de fogo; lá haverá choro e ranger de dentes. Compreendestes tudo isso? - 'Sim', responderam-lhe. E Jesus lhes disse: 'Assim, pois, todo escriba instruído acerca do Reino dos céus é comparável a um dono de casa que tira do seu tesouro coisas novas e antigas'".

Jesus de Nazaré continua explicando por parábolas as comparações que nos aproximam do Reino dos céus (expressão do Evangelho de Mateus para Reino de Deus...). Esta parábola, assim como a do joio, apresenta e acentua a coexistência de maus e de bons, até o fim dos tempos. Ela insiste na ameaça do que se diz respeito ao que não presta. A rede real, usada pelos pescadores na época de Jesus, tinha grandes dimensões e exigia a colaboração de várias pessoas para puxá-la até a praia. A ideia é atingir a maior quantidade possível de destinatários. É importante lembra que o chamado dos discípulos começou com uma imagem de pesca.  Peixes bons e peixes ruins, destes últimos se ouvirão choro e ranger de dentes, pois, não conseguiram captar a mensagem de Jesus de Nazaré. Como estão as redes em nossas comunidades, sobram peixes ruins ou faltam peixes bons? Estamos fazendo acontecer a justiça do Reino de Deus?

Emerson Sbardelotti

* TEB - TRADUÇÃO ECUMÊNICA DA BÍBLIA. São Paulo: Paulinas / Loyola, 1996.

** Arte: Anderson Augusto (MG).

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Evangelho do Dia (27/07/2016)



Evangelho do Dia (27/07/2016) - Mt 13, 44-46*:

"O reinado de Deus se parece com um tesouro escondido num campo: um homem o descobre, volta a escondê-lo e, todo contente, vende todas as suas posses para comprar esse campo. O reinado de Deus se parece com um comerciante em busca de pérolas finas: ao descobrir uma de grande valor, ele vai, vende todas as suas posses e a compra".

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré diz aos seus discípulos e a nós que o lemos, que pelo reinado de Deus, o valor é alto e é preciso sacrificar outros valores. Cabe a nós, enquanto batizados, lideranças, militantes, irmãos e irmãs numa Comunidade Eclesial de Base descobrir o tesouro escondido. No Primeiro Testamento, a sabedoria era vista como tesouro oculto. Era uma prática comum, esconder bens preciosos (moedas, metais, joias) debaixo da terra, principalmente em períodos de crise econômica ou militar. As pérolas, serviam (servem?) para ostentar riqueza. No Evangelho, a pérola encontrada é a boa nova de Deus transmitida por Jesus. Quando a boa nova é encontrada, escutada, se enche de alegria, uma alegria não imaginada. Ao descobrir a beleza profunda da boa nova e ao compreender os seus segredos, a pessoa que o faz, se entrega a Deus por inteira. 

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Sieger Köder

terça-feira, 26 de julho de 2016

Evangelho do Dia (26/07/2016).


Evangelho do Dia (26/07/2016) - Ana e Joaquim, pais de Maria - Mt 13, 36-43*:

"Depois, despedindo a multidão, entrou em casa. Os discípulos foram e lhe pediram:
- Explica-nos a parábola do joio.
Respondeu-lhes:
- Aquele que semeou a semente boa é este Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os cidadãos do reino; o joio são os súditos do maligno; o inimigo que o semeia é o Diabo; a ceifa é o fim do mundo; os ceifadores são os anjos. Assim como se recolhe o joio e se lança ao fogo, assim acontecerá no fim do mundo: Este Homem enviará seus anjos para que recolham em seu reino todos os escândalos e os malfeitores; e os lançarão no forno de fogo. Aí haverá pranto e ranger de dentes. Então no reino de seu Pai, os justos brilharão como o sol. Quem tiver ouvidos, escute".

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré, em casa, responde a uma pergunta dos discípulos, que caberia muito bem para nós: "Explica-nos a parábola do joio". Vivemos em dias de fundamentalismo religioso, de intolerância religiosa, de preconceitos, violências...tudo em nome de Deus!? O que é, quem é o joio mesmo? Nossas comunidades estão semeando no mundo a boa semente? Jesus fala de uma perspectiva escatológica, daquilo que virá, que ainda não aconteceu. Porém, prepara seus discípulos para que esses preparem as comunidades para as tormentas e tempestades que virão. Estamos vivendo hoje tais tormentas e tempestades. Jesus toma a parábola do trigo e do joio como um cenário a respeito da realização do Reino no interior da história humana. A justiça de Deus está sendo confrontada, todo o tempo, pela presença do mal. Ao mencionar o Diabo, o evangelista enfatiza sua confrontação pessoal contra o reinado de Deus, apontando sua característica: o Diabo é um sabotador, não uma autoridade por mérito próprio. Quem se afasta do projeto de vida de Jesus, viverá uma frustração definitiva. Qualquer pessoa, hoje em dia, pode se tornar joio, se abandonar e se discordar da verdade radical anunciada por Jesus de Nazaré; ao ceder às instigações do Diabo se fecha para a novidade do Reino, não consegue ver a luz. Contudo, quem sabe ouvir, guardar estas coisas no coração e as colocar em prática: servindo aos mais necessitados - verá a misericordiosa luz divina.

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Anderson Augusto (MG).

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Evangelho do Dia (25/07/2016)




Evangelho do Dia (25/07/2016) - Tiago, apóstolo - Mt 20, 20-28*:

"Então se aproximou a mãe dos Zebedeus com seus filhos e se prostrou para fazer um pedido. Ele lhe perguntou:
- Que desejas?
Respondeu:
- Ordena que, quando reinares, estes dois filhos meus sentem um à tua direita e outro à tua esquerda.
Jesus lhe respondeu:
- Não sabeis o que pedis. Sois capazes de beber a taça que eu vou beber?
Respondem:
- Podemos.
Diz-lhes:
- Bebereis minha taça, mas sentar à minha direita e esquerda não cabe a mim conceder; será para aqueles a quem meu Pai destinou.
Quando os outros dez ouviram isso, ficaram indignados com os dois irmãos.
Mas Jesus os chamou e lhes disse:
- Sabeis que entre os pagãos os governantes submetem os súditos, e os poderosos impõem sua autoridade. Não será assim entre vós; pelo contrário, quem quiser ser grande entre vós, que se torne vosso servidor, e quem quiser ser o primeiro que se torne vosso escravo. Da mesma forma que este Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate por todos".

O Evangelho de hoje, retoma o tema de grandes e pequenos, porém, desta vez no plano do poder. Os discípulos estão tendo dificuldades em entender o ensinamento de Jesus de Nazaré e isso é mostrado neste episódio. Na comunidade iniciada por Jesus o poder não pode estar acima do serviço. A autoridade exercida por Jesus não é por via da ostentação de poder, mas com espírito de serviço, generosidade, humildade, fraternidade, justiça, misericórdia e paz. Onde há ostentação demais, há Evangelho de menos! A mãe dos Zebedeus será na tradição nomeada entre as mulheres que seguiram Jesus desde a Galileia e que assistiu seu assassinato. A taça, ou o cálice, metáfora de bênção, mas também para falar do sofrimento do Povo de Deus, reaparecerá no Getsêmani, mostrando a dura prova pela qual Jesus passará para assumir sua realeza na cruz. Essa é a taça que Ele oferecerá aos doze. Esse é o cálice que Ele nos oferece hoje. Quem terá coragem de beber do cálice e continuar inerte e em cima do muro frente à toda violência, intolerância, desamor e preconceito existente em nossa sociedade e, infelizmente, dentro de nossas comunidades. Resgatar a vida = pagar o preço pela libertação de um cativo, de um devedor, de um escravo. Servidor = aquele que cuida dos deveres domésticos, especialmente à provisão de alimentos. Escravo = a pessoa não livre, destinada a obedecer a seu senhor. A grande ambição no serviço a Deus deve ser a ambição de servir aos outros, eis o exemplo que Jesus de Nazaré nos deu.

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Anderson Augusto (MG).

domingo, 24 de julho de 2016

Evangelho do Dia (24/07/2016)


Evangelho do Dia (24/07/2016) - Lc 11, 1-13*:

"Certa vez, estava num lugar orando. Quando terminou, um dos discípulos lhe pediu:
- Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou seus discípulos.
Respondeu-lhes:
- Quando orardes, dizei: 'Pai, seja respeitada a santidade de teu nome, venha teu reinado; dá-nos hoje o pão do amanhã; perdoa-nos nossos pecados, como também nós perdoamos os que nos ofendem; não nos deixes sucumbir na prova'. E acrescentou:
- Suponhamos que alguém tem um amigo que acorre a ele à meia-noite e lhe pede: Amigo, empresta-me três pães, pois chegou de viagem um amigo meu e não tenho o que oferecer-lhe. O outro de dentro lhe responde: Não me importunes; estamos deitados eu e meus filhos; não posso levantar-me para dá-los. Eu vos digo que, se não se levantar para dá-los por amizade, se levantará por seu aborrecimento para dar-lhe o que necessita. E eu vos digo: Pedi e vos darão, buscai e encontrareis, batei e vos abrirão; pois quem pede recebe, quem busca encontra, a quem bate lhe abrem. Quem de vós, se seu filho lhe pede pão, lhe dá uma pedra? Ou se lhe pede peixe, lhe dá uma cobra? Ou se pede um ovo, lhe dá um escorpião? Portanto, se vós, sendo tão maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai do céu dará o Espírito Santo àqueles que lhe pedirem".

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré atende ao pedido do discípulo e ensina aquela que ficaria conhecida como a Oração do Pai Nosso. O Evangelho nos propõe uma oração feita por Jesus, aquela que saiu de sua experiência profunda. É uma versão mais curta do que a que está no Evangelho de Mateus. Quem pode rezar assim com tamanha sinceridade é de fato, discípulo de Jesus, pois não há ali nenhuma palavra da boca para fora, mas palavras profundas que jorram de um coração misericordioso em ligação com a vida do povo. A oração responde à palavra escutada. Orar é atividade integrante de toda a vida religiosa. A parábola do "vizinho chato" é uma situação de emergência e que o pedinte seja movido pela obrigação da hospitalidade. Não é capricho nem interesse pessoal. Se tem um regime de amizade, Naquele tempo e devido às condições culturais, o pão era assado em casa a cada dia, todos dormiam num único cômodo, e a porta era trancada com uma barra. Vemos que quem pede, pede pois necessita, e bate à porta de quem com certeza não lhe deixará de mãos vazias. Pedir é comprometer-se! O pedir, o buscar e o bater, encontra hoje também, acolhida na misericórdia e gratuidade de Deus. 

Hoje, fazemos memória daquele 24 de julho de 1985, quando o padre Ezequiel Ramin, foi assassinado, por defender a vida. Para o mártir Ezequiel Ramin, e depois as CEBS, as Pastorais Sociais e os Movimentos Sociais iriam utilizar para homenagear outros mártires da caminhada, foi composto pelo verbita Cireneu Kuhn o cântico Pai Nosso dos Mártires:

Pai nosso, dos pobres marginalizados
Pai nosso, dos mártires, dos torturados
Teu nome é santificado naqueles que morrem defendendo a vida
Teu nome é glorificado, quando a justiça é nossa medida
Teu reino é de liberdade, de fraternidade, paz e comunhão
Maldita toda a violência que devora a vida pela repressão
O, o, o, o, o, o, o, o

Queremos fazer tua vontade, és o verdadeiro Deus libertador
Não vamos seguir as doutrinas corrompidas pelo poder opressor
Pedimos-te o pão da vida, o pão da segurança, o pão das multidões
O pão que traz humanidade, que constrói o homem em vez de canhões
O, o, o, o, o, o, o, o
Perdoa-nos quando por medo ficamos calados diante da morte
Perdoa e destrói os reinos em que a corrupção é a lei mais forte
Protege-nos da crueldade, do esquadrão da morte, dos prevalecidos
Pai nosso revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos
Pai nosso, revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos
O, o, o, o, o, o, o, o
Pai nosso, dos pobres marginalizados
Pai nosso, dos mártires, dos torturados

Que o sangue dos mártires não nos deixem em paz!

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Anderson Augusto (MG).

sábado, 23 de julho de 2016

Evangelho do Dia (23/07/2016)


Evangelho do Dia (23/07/2016) - Mt 13, 24-30*:

"Contou-lhes outra parábola. O reinado de Deus é como um homem que semeou semente boa em seu campo. Enquanto as pessoas dormiam, seu inimigo foi e semeou joio no meio do trigo, e foi embora. Quando as hastes cresceram e começaram a granar, descobriu-se o joio. Os servos foram e disseram ao dono: Senhor, não semeaste semente boa em teu campo? De onde vem o joio? Respondeu-lhes: Um inimigo fez isso. Os servos lhe disseram: Queres que o recolhamos? Respondeu-lhes: Não; pois, ao recolhê-lo, arrancareis com ele o trigo. Deixai que cresçam juntos até a ceifa. Quando chegar a ceifa, direi aos ceifadores: Recolhei primeiro o joio, atai-o em feixes e lançai-o ao fogo; o trigo colocai-o em meu celeiro".

No Evangelho de hoje vemos a contraposição entre o joio e o trigo. O joio é uma planta muito semelhante ao trigo, e somente é percebida quando, crescida, forma sua espiga; sendo tarde demais para removê-la pois as raízes se entrelaçam com as do trigo. Os grãos de joio possuem um forte veneno; uma pequena quantidade de joio colhida e processada com o trigo compromete a qualidade do trigo, sendo prejudicial à saúde. A imagem do joio no meio do trigo tornou-se bem evidente em nossos dias, a tal ponto que a parábola nos é transparente. Em nossas comunidades, quem tem sido o joio e quem tem sido o trigo?

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Anderson Augusto (MG).

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Evangelho do Dia (22/07/2016)



Evangelho do Dia (22/07/2016) - Jo 20, 1-2.11-18*:

"No primeiro dia da semana, muito cedo, ainda às escuras, Maria Madalena vai ao sepulcro e observa que a pedra foi retirada ao sepulcro. Chega correndo onde estavam Simão Pedro e o outro discípulo, o predileto de Jesus, e lhes diz:
- Tiraram do sepulcro o Senhor e não sabemos onde o puseram.
Maria estava fora, chorando diante do sepulcro. Chorando, inclinou-se para o sepulcro e vê dois anjos vestidos de branco, sentados: um à cabeceira e outro aos pés de onde estivera o cadáver de Jesus. Dizem-lhe:
- Mulher, por que choras?
Responde:
- Porque levaram meu senhor, e não sei onde o puseram.
Dito isso, deu meia-volta e viu Jesus de pé; mas não reconheceu que era Jesus.
Diz-lhe Jesus:
- Mulher, por que choras? A quem procuras?
Ela, tomando-o pelo jardineiro, lhe diz:
- Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste e irei buscá-lo.
Diz-lhe Jesus:
- Maria!
Ela se volta e lhe diz (em hebraico):
- Rabbuni (que significa mestre).
Diz-lhe Jesus:
- Solta-me, pois ainda não subi ao Pai. Vai dizer aos meus irmãos: Subo ao meu Pai e vosso Pai, ao meu Deus e vosso Deus.
Chega Maria Madalena anunciando aos discípulos:
- Vi o Senhor e ele me disse isto".

No Evangelho de hoje, Maria de Magdala, ou Maria Madalena é apresentada como diz o Papa Francisco como a Apóstola dos Apóstolos (parafraseando São Tomás de Aquino), pois esteve na caminhada com Jesus, no momento de sua morte e agora é a primeira testemunha da ressurreição. Aqui se conta a metade do que Maria viu, ou melhor, não diz o que não viu: o cadáver de Jesus. O primeiro dia da semana é o primeiro dia da nova criação - o Dia do Senhor: dies dominical dominicus = domingo. Duas testemunhas celestiais tomam conta do local, não do corpo; guardam o lugar da morte. Jesus assume uma figura desconhecida, uma condição corpórea nova, a partir da qual pode se esconder e se manifestar. Jesus chama Maria Madalena, primeiro de "mulher" e ela responde a ele pelo título de "senhor". Ao usar o timbre costumeiro de sua voz e a chamar pelo nome, ela o reconhece, o que faz lembrar as palavras de Jesus de que as ovelhas conhecem a voz de seu pastor; ele as chama pelo nome e elas o seguem; quer abraçá-lo e não soltá-lo, porém, há tarefas que Jesus, apesar de glorificado e possa mandar o Espírito, ainda precisa cumprir antes de encerrar o ciclo, após realizá-las, subirá ao Pai. De forma fraterna a acolhe. Sendo a primeira evangelista, em sua boca, a palavra Senhor, se torna o título de fé, que todos nós temos no Ressuscitado. Maria Madalena a mulher de fé que nos ensina a acreditar de corpo e alma na Boa Nova do Reino, apesar de tudo e de todos.

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Anderson Augusto Pereira (MG)

quinta-feira, 21 de julho de 2016

E TODO O RESTO ACONTECE...



E TODO O RESTO ACONTECE...

Olhando as fotos que tiraram de D. Pedro Casaldáliga, e que postam nas redes sociais, fiquei tocado, como estou agora, enquanto escrevo estas rápidas palavras, por causa de sua fragilidade teimosa e de sua estética evangélica (estar no meio daquele povo todo); porém, eu não tirei nenhuma com ele, nem dele, mas guardo vivo na memória e no meu coração (que batia mais acelerado do que o normal) e para o resto da minha vida, o nosso encontro na casa paroquial, ele me reconheceu; em seu olhar me chamou pelo apelido carinhoso que me deu quando eu era ainda jovem militante da PJ: Divino Impaciente; Pedro é assim, quando ama alguém ele apelida. 
Em nosso aperto de mão, não falamos nada, apenas nos olhamos e tudo foi dito, tudo foi conversado, colegialmente combinado. 

Há muito a se fazer pela defesa da vida!
Naquele aperto e naquele olhar amoroso de avô, pai, irmão, amigo e companheiro de caminhada, ouvi em meu coração ele dizer: "Ser amável com todos é mais fácil, mais cômodo, que ser honestamente profético com todos. Amar é também incomodar". Ninguém ouviu, só eu e ele. 
Me levantei, sorri e me retirei, com o coração cheio de nomes e os olhos cheios de lágrimas de alegria, teimosia e fiel esperança. 
Ser Profeta do Reino, ser Poeta da Gente é gritar com os olhos...e todo o resto acontece...
E sozinho comecei a cantar um antigo poema que Pedro compôs e frei Mingos musicou:


"Somos um povo de gente, somos o povo de Deus. Queremos terra na terra, já temos terra nos céus...
Queremos plantar a roça onde plantamos o amor. Lavrador, a terra é nossa, de um afã e um só Senhor...
Retirantes, chega o dia de assentar o pé no chão:com fé em Deus e teimosia e na força da união...
Temos braços e esperança, somos gente, hoje, aqui! Se a pobreza é nossa herança, na justiça está o porvir...
Conhecemos a verdade e sabemos ver e amar. E exigimos liberdade pra viver e melhorar... 
Conhecemos a verdade e o direito de ser mais. E exigimos igualdade, terra e casa, mesa e paz...
Lavradores, vida nova! Gente unida em mutirão! Gente unida a toda prova, de uma fé um coração...
Essas matas pra lavoura, água clara, puro o ar. Mão na enxada e pé na espora e um bom céu para esperar...".


21 de julho de 2016

* Foto: Emerson Sbardelotti - Santuário dos Mártires da Caminhada Latino-Americana - Ribeirão Cascalheira - MT.

Evangelho do Dia (21/07/2016)



Evangelho do Dia (21/07/2016) - Mt 13, 10-17*:

"Os discípulos se aproximaram e lhe perguntaram:
- Por que lhes falas contando parábolas?
Ele lhes respondeu:
- Porque a vós é concedido conhecer os segredos do reinado de Deus, a eles não é concedido. Àquele que tem, lhe será dado e sobrará; ao que não tem lhe tirarão inclusive o que tem. Por isso lhes falo contando parábolas: porque olham e não veem; escutam e não ouvem nem compreendem. Cumpre-se neles aquela profecia de Isaías: Por mais que escuteis, não compreendereis; por mais que olheis; não vereis. A mente deste povo se embotou; tornaram-se duros de ouvido, taparam os olhos. Não aconteça que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com a mente, e se convertam, e eu os cure. Felizes vossos olhos que veem e vossos ouvidos que ouvem. Eu vos asseguro que muitos profetas ansiaram ver o que vós vedes, e não viram, e ouvir o que vós ouvis, e não ouviram".

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré explica a função das parábolas, onde citando o profeta Isaías, prediz o fracasso do profeta por causa da dureza do coração dos ouvintes, a pregação profética os irrita e endurece e lhes agrava a culpa. Porém, o profeta jamais se cala, pois é o próprio Deus que o envia, para anunciar, denunciar e ameaçar quem semeia o mal. Ver o Messias e ouvir sua mensagem era o desejo oculto dos mais antigos em Israel. Jesus faz a passagem da parábola para a pessoa dele presente na história, pois nele se realiza o reinado de Deus, que se torna conhecido quando este Messias é desejado e esperado acolhem Jesus de Nazaré. O mistério é a mensagem de Deus que constantemente é dada por revelação. Uma vez revelada  não é obscura ou misteriosa. Participar do mistério do Reino é participar ativamente de uma nova realidade na qual será beneficiado com novas compreensões do mesmo mistério. O fracasso que vivemos hoje de não entendermos as parábolas está muitas vezes no fato de que ouvimos e vemos as mesmas como algo do passado, fechando-nos para o divino da Palavra. Quantas lideranças hoje compreendem as parábolas de Jesus?

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Francisco Daniel & Anderson Augusto.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Evangelho do Dia (20/07/2016)



Evangelho do Dia (20/07/2016) - Mt 13, 1-9*:

"Naquele dia, Jesus saiu de casa e sentou-se junto ao lago. Reuniu-se junto a ele uma grande multidão; por isso ele subiu a uma barca e sentou, enquanto a multidão, estava de pé na margem. Explicou-lhes muitas coisas com parábolas. 
'Um semeador saiu a semear. Ao semear, algumas sementes caíram junto ao caminho, vieram os pássaros e as comeram. Outras caíram em terreno pedregoso com pouco terra. Faltando-lhes profundidade, brotaram logo; mas, ao sair o sol, elas se abrasaram e, como não tinham raízes, secaram. Outras caíram entre espinheiros: os espinheiros cresceram e as sufocaram. Outras caíram em terra fértil e deram fruto: algumas cem, outras sessenta, outras trinta. Quem tiver ouvidos, escute'".

Neste Evangelho encontramos Jesus de Nazaré nos limites geográficos de Israel e os povos gentios, um ambiente ideal para falar do alcance universal do reinado e da misericórdia de Deus. Faz do lago o cenário e da barca o púlpito, a sinagoga já não lhe basta, era preciso ir onde o povo estava, para fora, como tem feito o Papa Francisco. O termo parábola pode indicar diferentes figuras de linguagem: comparação, provérbio, charada, história. O objetivo é propor uma verdade importante e novas ideias, utilizando elementos da vida diária dos ouvintes. Como recurso ela atrai quem a escuta para dentro da narrativa, motivando-a uma avaliação e exigindo uma resposta. O termo indica comparações que ilustram ou revelam aspectos da vida. Pode ter forma descritiva ou narrativa, pode ser simples ou bem elaborada. Pode tanto encobrir, despertando a curiosidade. Estas duas funções, descobrir e encobrir, se atribuem às parábolas de Jesus. É a parábola da vitalidade do anúncio do Evangelho, porém, condicionado pelo modo como as pessoas irão receber tal anúncio.

Emerson Sbardelotti

*BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Francisco Daniel


DIÁRIO DE BORDO: ROMARIA DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA LATINO-AMERICANA - 16 E 17/07/2016 - RIBEIRÃO CASCALHEIRA - MT

DIÁRIO DE BORDO: ROMARIA DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA LATINO-AMERICANA - 16 E 17/07/2016 - RIBEIRÃO CASCALHEIRA - MT.



Estive em Ribeirão Cascalheiras-MT para participar da Romaria dos Mártires da Caminhada Latino-Americana. Fui no ônibus das CEB'S da Arquidiocese de São Paulo. Uma galera divertidíssima. Foram 30 horas para ir e 30 horas para voltar, fomos tocando violão e cantando aquelas que ninguém toca e canta mais...mas... cheguei inteiro.Cheguei às 8 horas da manhã na praça da Igreja São João Batista, onde todos os romeiros iriam chegar e se reunir. 
Foi muito legal rever amigos e amigas.
Depois fui para a escola e estendi minha rede, presente que ganhei lá em São Bernardo-MA.
Foram dias de oração, de luta e troca de experiências. 
Conversei com muita gente que nestes 40 anos viveram uma espiritualidade pé no chão, que resistiram a muitas tempestades.
Abracei muitas pessoas, e fui abraçado. Me emocionei com o carinho de tantas pessoas.
Abracei o índio Guarani Kaiowá, que traz em seu peito uma "bala" alojada do lado do seu coração, e que passa imensas necessidades com sua família...que não consegue andar direito, que não pode fazer operação para tirar a "bala", que está ameaçado de morte por defender o seu povo, e que me ensinou que o importante da vida é lutar por ela, para viver com dignidade.
Conversei com os Xavantes, ouvi o clamor que brota do coração deste povo guerreiro. Me emocionei novamente pois reencontrei um dos índios que me recebeu na aldeia deles quando ali estive em 2003.
Revi o amigo e irmão Zeca Terra e o Chico Machado...profetas da esperança.
Conheci jovens que foram visitar a barraquinha da Identidade Pejoteira que vendia seus produtos e também um livrinho meu. Que satisfação abraçar, autografar e tirar fotos com a galera ali presente. Que lindo ouvir de suas bocas: nossa...que camisas bonitas...
Depois participei da roda de conversa e também de um momento da Pastoral da Juventude onde pude rever muita gente querida...os abraços foram inúmeros.
A noite ao redor da fogueira e com as velas acesas, vi, emocionado, meu querido amigo e irmão Pedro Casaldáliga, em sua cadeira de rodas se aproximar para a oração. Não tirei nenhuma foto, pois já o tinha visto na casa paroquial...nada falamos um para o outro...apenas nos olhamos...e segurei nas suas mãos...tudo o que precisava ser dito...foi dito e guardado no coração.
Em caminhada cantei com Zé Vicente e outros camaradas que animavam a romaria. Dizem que tinha quase 15 mil pessoas...em meu coração eu sentia muito mais. E como cantaram bonitas aquelas vozes todas. Em sintonia com a causa dos pobres e do Reino.
No domingo, celebramos juntos a vida dos Profetas do Reino. Me lembrei de pessoas queridas que estão passando por momentos difíceis...essa celebração foi para vocês. O Pedro estava lá...sufocado pelos curiosos e fãs que não paravam de tirar fotos, apesar dos apelos do padre Mirim. Brasileiro sempre quer levar para casa uma lembrança. Quando ele passou por mim, me deu um tchau, me viu, sorriu, isso valeu...não precisei tirar foto nenhuma.
Retornei para São Paulo com a certeza que temos muito o que fazer pelas causas do Reino da Vida. 
Em meu coração não esqueci de nenhum nome que amo.

19 de julho de 2016

Foto de Emerson Sbardelotti

Em tempo: por essa razão minhas reflexões do Evangelho do Dia não foram postadas, pois estava vivendo essa experiência profunda no solo sagrado e vermelho de Ribeirão Cascalheira. 

quinta-feira, 14 de julho de 2016

OFÍCIO DOS MÁRTIRES - 16 E 17/07/2016

OFÍCIO DIVINO DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA LATINO-AMERICANA



ELABORAÇÃO

Emerson Sbardelotti


REVISÃO

Ana Maria Silva Lemos

Emerson Sbardelotti


ARTE

Maximino Cerezo Barredo





APRESENTAÇÃO

Às vezes tenho a sensação de que estou vivendo de gorjeta, porque escapei da morte muitas vezes e, talvez, porque João Bosco tenha morrido em meu lugar. Diante destas situações, diante das ameaças de morte, estou tranquilo, porque, afinal de contas, estou rodeado de muita gente que também está ameaçada. Dizem nossos teólogos da Libertação que o contrário da fé não é a dúvida, mas o medo. O perigo é ter medo do medo.
D. Pedro Casaldáliga

Nos dias 16 e 17 de julho de 2016, em Ribeirão Cascalheira, na Prelazia de São Félix do Araguaia, Mato Grosso, acontece a Romaria dos Mártires da Caminhada Latino-Americana, com o tema Profetas do Reino!
Representantes das Comunidades Eclesiais de Base - CEBS, dos Movimentos Populares, das Pastorais da Juventude, do Centro de Estudos Bíblicos - CEBI, da Rede de Liturgia Popular CELEBRA, Agentes de Pastoral Leigos/as, romeiros e romeiras de todo o Brasil, da América Latina e do Caribe irão experimentar e celebrar comprometidamente a memória dos/as mártires de Nossa América no Santuário dos Mártires da Caminhada. A memória subversiva de tantos/as mártires será o alimento de nossa espiritualidade e mística, da dinâmica do movimento popular, da vitalidade de nossas comunidades. O texto foi feito em mutirão, recolhendo contribuições da Irmandade dos Mártires da Caminhada, do Ofício Divino das Comunidades, do Ofício Divino dos Mártires da Caminhada Latino-Americana, do Ofício de Romaria, do cancioneiro religioso de nossas comunidades.
Neste Ofício Especial, que será rezado e experimentado, pelas lideranças das Pastorais da Juventude, das CEBS, das Pastorais Sociais, dos Movimentos Populares, do CEBI, da Rede CELEBRA, Agentes de Pastoral Leigos/as e pessoas de boa vontade que se doam na defesa constante da vida nas comunidades e em sociedade, reafirma-se que, celebrar a memória do Pe. João Bosco Penido Burnier, nos seus 40 anos de martírio (12/10/1976 – 12/10/2016), é confirmar sua vida e assumir a sua missão na realidade em que vivemos hoje. Unimos a celebração da memória do padre João Bosco à celebração do memorial do Moreno de Nazaré, mártir primeiro, e fazemos nossa a sua missão na opção preferencial pelos jovens e pelos pobres, em defesa da vida no planeta.
Que as comunidades, em sintonia, e que enviam os/as romeiros/as, rezem este Ofício no dia 16 e 17/07/2016 com a certeza da colegialidade solidária que une e fortalece a caminhada. Sigamos na fiel esperança, com a fiel teimosia, na defesa constante da Vida. Amém. Axé. Awiri. Aleluia!

Emerson Sbardelotti




1 CHEGADA Silêncio...Oração pessoal...Refrão meditativo...

Vidas pela Vida (D. Pedro Casaldáliga / Zé Vicente)

Ôôôôôô, Ôôôôôô!
Vidas pela Vida,
vidas pelo Reino,
vidas pelo Reino.
Todas as nossas Vidas,
como as suas Vidas,
como a Vida d’Ele,
o Mártir Jesus!
Vidas pela Vida,
vidas pelo Reino,
vidas pelo Reino
da Vida.

2 ABERTURA

(Uma pessoa acende o Círio e diz em voz bem alta:)

Bendito sejas, Deus da vida, pela luz de Cristo, o Mártir Jesus, e por tantas testemunhas do Reino e pelos mártires da caminhada!

- Vem, ó Deus da vida, vem nos ajudar! (bis)
  Vem, não demores mais, vem nos libertar! (bis)
- Hoje, ó Deus da vida, vimos adorar, (bis)
  com nossos santos mártires, vimos celebrar! (bis)
- Nossas mãos orantes para o céu subindo, (bis)
  cheguem como oferenda ao som deste hino!
- Glória ao Pai e ao Filho e ao Santo Espírito, (bis)
  glória à Trindade Santa, glória ao Deus bendito! (bis)
- Aleluia, irmãs, aleluia, irmãos! (bis)
  Lembrando os mártires, a Deus louvação! (bis)

3 RECORDAÇÃO DA VIDA

(Lembrar o sentido de celebrar a vida, a história do mártir Pe. João Bosco Penido Burnier e sua repercussão em nossas vidas – leia-se o relato abaixo por D. Pedro Casaldáliga).

[...] Duas mulheres, dona Margarida e dona Santana, estavam sofrendo na delegacia, impotentes e sob torturas: um dia sem comer e beber, de joelhos, braços abertos, agulhas na garganta, sob as unhas; essa repressão desumana. Eram mais de 6 horas da tarde, e seus gritos se ouviam na rua: “Não me bata!”. Decidi ir à delegacia, interceder por elas. Um rapaz da Missão quis me acompanhar. Temi por ele, e não lho permiti. O Pe. João Bosco, que estava lendo, rezando, como leu e rezou muito esses dias que conviveu conosco na Prelazia, fez questão de me acompanhar. A escuridão que chegava, a areia da rua, o terror perceptível no ar, no silêncio, nos acompanhavam. Quando chegávamos ao terreno da pequena delegacia local, cercado por arame, o cabo Juraci saía. Possivelmente nos viu chegar. Voltou, poucos minutos depois, com o cabo Messias e dois soldados; os três últimos, de farda. Numa caminhonete do “Bracinho” bate-pau da polícia, segundo o qualificativo do povo do Ribeirão, dirigida naquela hora pelo seu filho de 12 anos, Genivaldo Pedro Nunes. A caminhonete parou ao lado da delegacia. Os policiais nos esperavam enfileirados, em atitude agressiva. Entramos pela cerca de arame, que ia ser também cerca de morte. Eu me apresentei, como bispo de São Félix, dando a mão aos soldados. O Pe. João Bosco também se apresentou. E tivemos aquele diálogo, de talvez três ou cinco minutos. Sereno, de nossa parte; com insultos e ameaças, até de morte, por parte deles. Quando o Pe. João Bosco disse aos policiais que denunciaria aos superiores dos mesmos as arbitrariedades que vinham praticando, o soldado Ezy pulou até ele – três metros apenas – dando-lhe uma bofetada fortíssima no rosto. Inutilmente tentei cortar aí o impossível diálogo: “João Bosco, vamos...” O soldado, seguidamente, descarregou também no rosto do padre um golpe de revólver e, num segundo gesto fulminante, o tiro fatal, no crânio. Sem um ai, o mártir – o mártir sim! – caiu, esticado, pensei que morto. O ar congelou-se, e a noite. Inclinei-me sobre o ferido, chamei-o, respondeu. O cabo Juraci comentou, talvez aliviado, talvez irresponsável: “Foi um tiro para assustá-lo...”, e ainda tentou explicar-me o fato, com triste superioridade de suboficial, dizendo: “Soldado...” [...] Entretanto, o Pe. João Bosco vivia, consciente e generoso, sua agonia de mártir, forte, sofrido, em oblação. Invocou várias vezes o nome de Jesus. Ofereceu várias vezes seu sofrimento pelos índios, pelo povo. Pelo povo da nossa prelazia, pelo povo da sua Prelazia de Diamantino. Lembrou-se do CIMI, de Dom Tomás Balduíno, seu presidente. Lamentou com saudade comovedora: “Sinto não ter tomado nota do que os índios (Tapirape) falaram...”. Recebeu a unção, de minhas mãos, lúcido e fervoroso. Em latim, porque ele rezava em latim o seu breviário, até o último dia. Recordei-lhe, uma e outra vez, que o dia seguinte era festa de Nossa Senhora Aparecida, e ele assentia e oferecia de novo sua dor. [...] Sua última palavra inteligível foi a palavra de Paulo: “Acabei minha carreira”, ou a palavra do próprio Jesus: “Tudo está cumprido”. Tentou em vão levantar-se e disse, solene: “Dom Pedro, acabamos a nossa tarefa”. Depois..., já mais de 10 horas, noite e expectativa afora, numa caminhonete escoltada por um carro amigo, o médico, a irmã e eu saímos, com o padre no soro, respirando como um motor cansado, pela estrada de São Félix, pela desastrada estrada do Xingu, à procura de um táxi-aéreo da Táxi-Aéreo Goiás, que soubemos pernoitava numa fazenda. Foram quatro horas de mortal ansiedade. O Pe. João Bosco foi santificando com o resto de sua vida, oferecendo ao vento da noite e a Deus, aquelas estradas, aquelas fazendas, onde tantas vidas humanas, anônimas, sofreram e foram sacrificadas. Foi aquela uma via-sacra de redenção pelos caminhos da Amazônia Legal, pelas terras dos índios, dos posseiros, dos peões. Às 5 horas da madrugada, já a luz querendo delimitar o horizonte, voamos para Goiânia, para o Instituto Neurológico da avenida T. Tudo era inútil, medicamente. O Pe. João Bosco estava com o cérebro já “morto”, em estado de vasoplegia. (Morreu mesmo no dia 12, lá pelas 5 da tarde). [...] E todos sentimos que aquela vida imolada virava testemunho e comoção. Era um missionário entre os índios que morria, e morria por libertar da tortura duas pobres mulheres do povo do interior. [...] Pe. João Bosco foi sepultado no dia 15 no pequeno cemitério do seminário dos jesuítas, em Diamantino. [...] Durante a missa, a camisa ensanguentada do mártir foi colocada num canto da igreja com uma inscrição abaixo: “Sem derramamento de sangue não há libertação”. [...] O povo é quem entende dos seus mártires... [...] Um jornalista chorou, na missa, quando alguém disse que “a liberdade se compra com sangue e a vida nasce da morte”. Ele entendeu. Os padres jesuítas divulgaram um ótimo documento que, entre outras lições de humildade e de compromisso, agradece aos índios, aos posseiros e aos peões, porque educaram ao Pe. João Bosco no Evangelho. Esses também entenderam. Quando enterrávamos, sob o calor do Mato Grosso, quase meio-dia, o corpo-semente do Pe. João Bosco Penido Burnier, missionário e mártir, perto de uma cerca de arame farpado – símbolo de todas as cercas do latifúndio que oprimem o povo de nossa Amazônia – Deus pôs um sinal no céu: o arco-íris cingiu de Glória e de Paz a nuvem escura que flutuava entre o sol e a terra naquela hora.

4 HINO

Aqui estão os Profetas (Ricardo Canta la Piedra – Versão: D. Pedro Casaldáliga)

(Neste momento um grupo entra com folhas de palmeiras, velas e o Estandarte do Pe. João Bosco Penido Burnier).

1. Aqui estão os profetas
que nestes tempos nos deram
as esperanças e forças
para andar...para andar...

É na cidade e no campo,
no nosso meio estão! (bis)
Aqui estão! (bis)
Onde estão? (bis)

2. Eles nos deram a prova
daquele amor verdadeiro,
que não somente dá tudo,
mas se dá!

3. Luta de amor, estas vidas!
Morte de amor, estas mortes!
Neles florescem os sonhos
do amanhã...do amanhã...

5 SALMO 34(33)  (Jocy Rodrigues)

“Venham para mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso de seu fardo, e eu lhes darei descanso” (Mt 11,28).

- Bendigamos ao Senhor que escuta a oração dos empobrecidos e liberta os oprimidos. Façamos nossa experiência de intimidade com Deus que o salmista nos revela e os mártires da caminhada viveram e testemunharam com a prova do amor maior.

Os justos elevem a Deus o seu grito
e o Deus que liberta escuta o clamor;
bem perto está Deus e salva o abatido,
de suas angústias livra o Senhor.

  1. Vamos juntos dar glória ao Senhor
e ao seu nome fazer louvação.
Procurei o Senhor, me atendeu,
me livrou de uma grande aflição.

Olhem todos para ele e se alegrem,
todo o tempo sua boca sorria.
Este pobre gritou e ele ouviu,
fiquei livre da minha agonia.

  1. Acampou na batalha seu anjo,
Defendendo seu povo e o livrando,
provem todos, pra ver como é bom
o Senhor que nos vai abrigando.

Povo santo, adore o Senhor,
aos que o temem nenhum mal assalta.
Quem é rico empobrece e tem fome,
mas a quem busca a Deus, nada falta.

  1.  Ó meus filhos, escutem o que eu digo
pra aprender o temor do Senhor.
Quem de nós que não ama sua vida,
e a seus dias não quer dar valor?

Tua língua preserva do mal
e não deixes tua boca mentir.
Ama o bem e detesta a maldade,
vem a paz procurar e seguir.

  1. Sobre o justo o Senhor olha sempre,
seu ouvido se põe a escutar.
Que teus olhos se afastem dos maus,
pois ninguém deles vai se lembrar.

Deus ouviu quando os justos chamaram
e livrou-os de sua aflição.
Está perto de quem se arrepende,
ao pequeno ele dá salvação.

  1. Para o justo não há momentos amargos,
mas vem Deus pra lhe dar proteção.
Ele guarda com amor os seus ossos;
nenhum deles terá perdição.

A malícia do ímpio o liquida,
quem persegue o inocente é arrasado.
O Senhor e seus servos liberta,
quem se abriga em Deus é poupado.

  1. Glória a Deus, Criador que nos ama,
glória a Cristo que é nosso bem.
E ao Espírito, Mãe de ternura,
desde agora e pra sempre. Amém!

Oração silenciosa...Repetição de frases ou palavras do salmo, intercalando com um breve silêncio.

Oração sálmica:

Deus da vida, pai de ternura, tu que escuta o clamor dos justos, vem em socorro do teu povo, liberta-nos da aflição, da opressão e da agonia. Dai-nos a vossa paz, a coragem e a firmeza dos mártires da caminhada. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

6 LEITURA BÍBLICA

Leitura do Livro do Apocalipse 7,2-4. 9-14.

Eu João, vi um outro anjo que vinha do Oriente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele gritou em alta voz aos quatro anjos, que tinham sido encarregados de fazer mal à terra e ao mar: “Não prejudiquem a terra, nem o mar, nem as árvores! Primeiro vamos marcar a fronte dos servos do nosso Deus”. Ouvi então o número dos que receberam a marca: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos do povo de Israel.
Depois disso eu vi uma multidão que ninguém podia contar: gente de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam todos de pé diante do trono e diante do Cordeiro. Vestiam vestes brancas e traziam palmas na mão. Em alta voz, a multidão proclamava: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro”.
Nesta hora, todos os anjos que estavam ao redor do trono, dos Anciãos e dos quatros Seres vivos, ajoelharam-se diante do trono para adorar a Deus. E diziam: “Amém! O louvor, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus, para sempre. Amém!”.
Um dos Anciãos tomou a palavra e me perguntou: “Você sabe quem são e de onde vieram esses que estão vestidos com roupas brancas?”. Eu respondi: “Não sei não, Senhor! O Senhor é quem sabe!”. Ele então me explicou: “São os que vêm chegando da grande tribulação. Eles lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do Cordeiro”.
Palavra do Senhor.
- Graças a Deus!

7 Palavras de Testemunhas: Pe. João Bosco Penido Burnier

- “Temos que nos inculturar (no povo indígena) para poder transmitir o Evangelho e descobrir na vida dos índios os valores evangélicos; não nos desvencilharmos do nosso contexto cultural...”
- “O essencial da vida cristã é que haja vida. Não é um resultado, também não é uma semente – é a vida daquele povo concreto informado pelo Espírito do Evangelho...”
- “Levamos sobre nós um pecado histórico que só com o testemunho da vida poderemos superar”.
- “Não é a partir de um povo destruído que se vai a estabelecer uma missão”.
- “A encarnação já é evangelização”.
- “Contra esses abusos da autoridade e da falsa justiça, temos que opor nossos protestos e a nossa ação pública; mesmo com o risco de ficarmos expostos a represálias e à incompreensão das autoridades”.
- “Ofereço minha vida pelo CIMI..., pelo povo do Brasil... Acabamos nossa tarefa!”

Responso:   
                        Ôôôôôô, Ôôôôôô!
                        Vidas pela vida,
                        vidas pelo Reino,
                        Vidas pelo Reino.
                        Todas as nossas vidas,
                        como as suas vidas,
                        como a vida d’Ele,
                        o Mártir Jesus!
Vidas pela Vida,
vidas pelo Reino,
vidas pelo Reino
da Vida.

8 MEDITAÇÃO – Silêncio...partilha...refrãos meditativos

9 PRECES

Junto ao Pe. João Bosco Penido Burnier e a todos os mártires unamo-nos à intercessão de Jesus e rezemos:

Escuta-nos, Senhor da glória!

  • Pelo testemunho dos mártires, tu te revelaste próximo de nós e companheiro de nossas vidas.

  • Acolhe o louvor de todas as criaturas e a oferenda que fizeram de suas vidas os mártires de todos os tempos e lugares.

  • Nós te bendizemos pelos sinais de amor que cada pessoa e toda a nossa comunidade tem recebido de ti.

  • Da terra regada pelo sangue dos mártires, faz brotar, Senhor, flores de aleluia e vida, frutos de paz e justiça para teu povo...

  • Julga, Senhor, os responsáveis pela morte de nossos Mártires que compreendam o mal que fizeram e se convertam de seu pecado...

Preces espontâneas...

Pai Nosso

Pai Nosso dos Mártires (Cirineu Kuhn)

Pai Nosso, dos pobres marginalizados!
Pai Nosso, dos Mártires, dos torturados!

  1. Teu nome é santificado
naqueles que morrem defendendo a vida.
Teu nome é glorificado
quando a justiça é nossa medida.
Teu reino é de liberdade,
de fraternidade, paz e comunhão.
Maldita toda violência,
que devora a vida pela repressão. Ô, ô, ô.

  1. Queremos fazer tua vontade,
és o verdadeiro Deus libertador.
Não podemos seguir as doutrinas
corrompidas pelo poder opressor.
Pedimos-te o pão da vida,
o pão da segurança, o pão das multidões,
o pão que traz humanidade
que constrói a vida em vez de canhões. Ô, ô, ô.

  1. Perdoa-nos quando por medo,
ficamos calados diante da morte!
Perdoa e destrói os reinos
em que a corrupção é a lei mais forte.
Protege-nos da crueldade,
do esquadrão da morte, dos prevalecidos.
Pai Nosso revolucionário,
Parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos!

Oração

Deus da vida e de toda a família humana, que caminha na vossa presença. Fazendo memória dos mártires da caminhada e do Pe. João Bosco Penido Burnier, celebramos a Páscoa do vosso Filho Jesus, a Testemunha Fiel. Nós vos bendizemos pelo amor que venceu o medo e a tortura e vos pedimos que nos torneis filhas e filhos da mesma Graça, testemunhas e herdeiros do sangue derramado, fiel ao Evangelho do Reino. Por Cristo nosso Senhor. Amém!

Ou

Oração dos Mártires da Caminhada

Deus da Vida e do Amor, Trindade Santa: Em irmandade com os Mártires da Caminhada da Nossa América, vos louvamos e agradecemos pela força que derramastes em seus corações para darem a vida e a morte pela Vida no Amor. Como Jesus, foram fiéis até o fim e deram a prova maior. Por Ele e com Ele, venceram o pecado, a escravidão e a morte e vivem gloriosos, sendo páscoa na Páscoa. Derramai também em nós o vosso Espírito de união, de fortaleza e de alegria, para que demos totalmente nossas vidas pela causa do vosso Reino. Por esses muitos irmãos e irmãs, testemunhas pascais. Por Maria, a mãe da Testemunha Fiel. E pelo mesmo Jesus Cristo, o Crucificado Ressuscitado, Primogênito vencedor da morte.
Amém, Axé, Awiri, Aleluia!

10 BÊNÇÃO

O Deus da vida e da resistência que se revela nos Mártires da Caminhada, nos encha do seu Espírito materno e nos renove na alegria do amor, agora e para sempre.
Amém, Axé, Awiri, Aleluia!

- Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
  Para sempre seja louvado!

11 SAIDEIRA

Liberdade (Zé Martins)

1. Liberdade vem e canta e saúda este novo sol que vem.
Canta com alegria o escondido amor que no peito tem.
Mira o céu azul, espaço aberto pra te acolher (bis).

2. Liberdade vem e pisa neste firme chão de verde ramagem.
Canta, louvando as flores que ao bailar do vento fazem sua mensagem.
Mira essas flores, abraço aberto pra te acolher (bis).

3. Liberdade vem e pousa nesta dura América, triste e vendida.
Canta com os seus gritos nossos filhos mortos e a paz ferida.
Mira este lugar, desejo aberto pra te acolher (bis).

4. Liberdade, liberdade, és o desejo que nos faz viver.
És o grande sentido de uma vida pronta para morrer.
Mira o nosso chão banhado em sangue pra reviver.
Mira a nossa América banhada em morte pra renascer.


FONTES

A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.

CASALDÁLIGA, Pedro. Martírio do Pe. João Bosco Penido Burnier. São Paulo: Edições Loyola, 2006.

OFÍCIO DIVINO DAS COMUNIDADES. 18.ed. São Paulo: Paulus, 2014.

OFÍCIO DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA LATINO-AMERICANA. São Félix do Araguaia: Irmandade dos Mártires da Caminhada, 2016.

VELOSO, Reginaldo. Ofício de Romaria. São Paulo: Paulus, 2013.