sábado, 20 de março de 2010

UTOPIA POÉTICA

Felicia Borges

Emerson Sbardelotti Tavares escreve poesias não é de hoje. Catalogadas, ela crê que deve ter mais ou menos umas mil guardadas em um armário de casa, desde que começou, por volta de 1985. Algumas de suas poesias já foram musicadas por artistas capixabas, mas agora, nesta quarta-feira (14), Emerson lança o livro Utopia Poética, com um pouco deste trabalho.Ao todo, são 100 poesias, divididas em nove capítulos, a maioria escritas a partir de 2004 e algumas da década de 1990. Os temas são os mais variados: fé e vida, autobiografia, cidadania, questões sociais, amor. "Além de ser um prazer imenso, ao mesmo tempo é uma válvula de escape para vários problemas", fala o autor.Entre as referências, são vários os nomes que Emerson cita de autores nacionais e internacionais. "Sempre gostei de ler poesia. Tenho aqueles poetas de cabeceira, que são Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Pablo Neruda, José Saramago, Monteiro Lobato, Ziraldo. Fui lendo durante a vida e fui vivendo essas poesias", diz.Formado em Turismo, Emerson trabalha como educador popular, em pré-vestibulares alternativos, dando aulas de ética, cidadania e história, e como professor ele conta que busca sempre incentivar seus alunos a tomarem gosto pela leitura. "Eu sempre gostei muito de ler. Eu acredito que você só escreve bem se você lê bem. Com a lógica da internet, das abreviações de palavras, isso tem sido muito prejudicado", acredita.O livro é a primeira parte do projeto, que prevê, para o ano que vem, o lançamento de um CD com os poemas musicados por amigos do poeta e por ele mesmo, que também é músico. Utopia Poética é o segundo livro de Emerson Tavares, que já lançou O Mistério e o Sopro, com roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens.ServiçoO lançamento do livro Utopia Poética, de Emerson Sbardelotti Tavares, será nesta quarta-feira (14), a partir das 18h, na Biblioteca Pública de Vila Velha, dentro do prédio Titanic, no Centro de Vila Velha, pelo CEBI - Centro de Estudos Bíblicos. Durante o lançamento do livro, haverá declamação de poemas, apresentações musicais, coquetel e momento de autógrafos com o autor. O livro será vendido a R$10.
O preço médio é R$ 13,00 pelo vendas@cebi.org.br

YVY MARÃ EI

Primeiro prêmio do Concurso de Páginas Neobíblicas convocado pela Agenda Latinoamericana-Mundial'2002na sua VII edição.Veja a nova convocatória que traz a Agenda'2003 (VIII edição).

YVY MARÃ EI (A TERRA SEM MALES)
Releitura do Éxodo 3: enquanto vejo Tupiniquins e Guranis sendo mortos pela Aracruz Celulose

Muito tempo depois morreu o Imperador do Mal, e os Filhos do Sol, gemendo sob o peso da escravidão e da extinção, clamavam, e do fundo da escravidão e da extinção o seu clamor subiu até Tupã. E Tupã ouviu os seus lamentos e gemidos; Tupã lembrou-se do dia em que dançou com os grandes caciques, com os grandes pajés, com os grandes xamãs com os grandes anciãos. Tupã viu o os Filhos do Sol e os conheceu e se compadeceu.
Eis que caçava e pescava Galdino, Pataxó Hã-Hã-Hãe, as margens do Araguaia, próximo aos Karajás, num território que já não pertencia a ele, nem aos seus semelhantes, muito menos aos seus antepassados e isso aumentava ainda mais o sofrimento que trazia em sua alma. E Tupã lhe apareceu no meio dos toros. Os toros originaram o Quarup. E os toros dançavam, como se estivessem vivos e estavam. E os toros dançavam ao som do canto dos pássaros da floresta, ao som de tambores que Galdino nunca tinha ouvido antes. E Galdino disse: “Darei uma volta e verei este fenômeno estranho, verei por que os toros dançam, como se vivos estivessem, como se guerreiros fossem”.
E Tupã viu que Galdino deu uma volta para ele ver. E Tupã o chamou: “Galdino, Pataxó Hã-Hã-Hãe”.
Galdino respondeu: “Eis-me aqui”.
Tupã disse: “Eis a Criação! Dance! Dance para te aproximar. Eis a Pacha Mama e teus antepassados, eis a Grande Gaia! Eu sou Tupã! Eu sou Tupã!”
E Galdino dançou, e ouviu os cantos dos pássaros e dos tambores. E dançou ao redor dos toros onde estava Tupã.
E disse Tupã: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está nesta terra continental. Ouvi o seu clamor, o seu lamento por causa dos opressores; pois eu conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de liberta-lo da mão do Mal, e para faze-lo subir desta terra a uma terra boa e vasta, terra onde se pesca e caça, onde se planta e colhe, terra onde não existe a morte, onde não há extinção, terra em que não há exclusão. Agora o clamor dos Filhos do Sol chegou até a mim, e também sinto a opressão com que o Mal está oprimindo. Vai, agora, pois eu te enviarei para subir desta terra e ir para o lugar que se chamaYvy marã ei, onde dançaremos a feliz dança da vida”.
Então Galdino disse a Tupã: “Como farei sair os Filhos do Sol para a terra sem males?”
“Eu estarei contigo”, disse Tupã. E disse ainda: “Vai, reúne os caciques e anciãos e diga-lhes: “Tupã, o Deus de nossos pais, de nossas mães, me apareceu dizendo: “Subirão todos para Yvy marã ei, e dançaremos a dança da vida”.
Mas disse Galdino: “Não nos deixarão sair. Seremos assassinados... Destruirão nossa cultura. Nos queimarão vivos enquanto dormimos!”
E disse Tupã: “Estenderei minha mão e ferirei aquele que se diz poderoso. Neste dia a onça pintada não sairá para caçar, o jacaré não entrará no rio, as piranhas não se alimentarão, os pássaros não irão voar nem cantarão, pois Tupã ferirá a casa d’Aquele que se diz poderoso. Se ouvirá em toda a floresta, vale ou campina, na praia ou sertão, o som da guerra em favor do meu povo. E quando todo o povo indígena partir, uma vida nova estará nascendo por essa nova estrada em que caminham os meus guerreiros, as minhas guerreiras.
Eis a terra que lhes dou: Yvy marã ei!”
E Galdino saiu da presença de Tupã com seu espírito fortalecido. Sentira agora, coisas que o sofrimento apagara de seu coração guerreiro. Correndo pela floresta fez a experiência plena na certeza da vitória, pois Tupã desceu e se fez indígena no meio do seu povo

Emerson Sbardelotti
Mestrando em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.