quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Evangelho do Dia (14/09/2016)



Evangelho do Dia (14/09/2016) - Exaltação da Santa Cruz - Jo 3,13-17*:

"E, no entanto, ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. E assim como Moisés levantou a serpente no deserto, é preciso que o Filho do Homem seja levantado, a fim de que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo não para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele".

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré nos diz que para sermos salvos é preciso passar pela cruz! Não há outro caminho, não há jeitinho brasileiro. O que era um símbolo de loucura e maldição, se tornou sinal de redenção. Infelizmente, nos dias atuais, a cruz se tornou um objeto de lucro e prosperidade para muitas pessoas, distorcendo assim o seu real objetivo: levar os seres humanos a crerem que Jesus de Nazaré é o Filho único do Deus vivo e por causa de seu testemunho somos convidados a defender a vida até as últimas consequências, seguindo assim, o seu exemplo. É muito fácil para as pessoas colocarem no peito uma cruz, difícil é praticar o que Jesus de Nazaré fez: encher o coração de compaixão e misericórdia por um outro ser humano que está machucado, humilhado, esquecido, espoliado, com fome, com sede, com frio! Me intriga muito o fato de entrar em muitas igrejas católicas e não encontrar no altar o Crucificado, e sim, apenas o Glorificado ou o ícone ou imagem de algum padroeiro; penso que Jesus de Nazaré precisou experimentar o inferno do sofrimento humano, cumprindo assim o desejo do Pai de armar sua tenda em nosso meio, ser semelhante a nós em tudo, menos no pecado, humanamente divino, divinamente humano. Lembro da igreja matriz onde fiz minha primeira comunhão, que em uma das reformas, retiraram o Crucificado, colocaram o Glorificado, porém, no corredor central, foi colocada uma enorme cruz, que ia da porta até próximo ao altar. Teologicamente correto. Quem entrava pela porta central, ao se benzer e caminhar em direção ao altar passava por debaixo dela, ao olhar para cima, lembrava-se todo domingo que sem a cruz na caminhada não há salvação. Essa imagem ficou para sempre na minha memória. Em nossas comunidades, equipes de serviço, como está sendo experimentada a espiritualidade libertadora da cruz de Jesus de Nazaré? E me lembro de uma pergunta de Leonardo Boff, que também é título de um de seus livros: "Como pregar a cruz hoje numa sociedade de crucificados?". Pergunta útil e necessária!


Emerson Sbardelotti

* A BÍBLIA TRADUÇÃO ECUMÊNICA. São Paulo: Paulinas / Loyola, 1995.

** Arte de Claudio Pastro (SP) - Santuário Nossa Senhora Aparecida.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Evangelho do Dia (13/09/2016)



Evangelho do Dia (13/09/2016) - João Crisóstomo, bispo e pai da Igreja, Constantinopla, século 4 - Lc 7,1-10*:

"Ele foi em seguida a uma cidade chamada Naim. Seus discípulos e numerosa multidão caminhavam com ele. Ao se aproximar da porta da cidade, coincidiu que levavam a enterrar um morto, filho único de mãe viúva; e grande multidão da cidade estava com ela. O Senhor, ao vê-la, ficou comovido e disse-lhe 'Não chores!'. Depois, aproximando-se, tocou o esquife, e os que o carregavam pararam. Disse ele, então: 'Jovem, eu te ordeno, levanta-te!'. E o morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: 'Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo'. E essa notícia difundiu-se pela Judeia e por toda a redondeza".

No Evangelho de hoje Jesus de Nazaré tem misericórdia e se compadece de uma mãe, viúva, que perde seu único filho. Por ser mulher não tinha direitos na sociedade judaica daquele tempo, sendo viúva, as privações eram ainda maiores, e sem o único filho, a situação desta mulher era insuportável. Jesus de Nazaré vê na multidão que acompanha o cortejo fúnebre, que mãe e filho eram amados e intervêm. Ele sabe o que aquela mulher irá sofrer. Ele devolve a vida àquele jovem. Ele entrega o filho à sua mãe...No momento da cruz, Jesus de Nazaré fará o inverso: entregará sua própria mãe para o discípulo amado, para que não fique sozinha e desamparada. Será que em nossas comunidades as mães que perdem seus filhos e filhas são cuidadas da mesma forma que a mãe do Evangelho? Quantos filhos e filhas estamos devolvendo às suas mães em nossas comunidades? Ou será que nós estamos reproduzindo a exclusão, a discriminação, o desinteresse pelo ser humano. Somos capazes de ter misericórdia, de ter compaixão com a realidade que está em nossa frente, batendo em nossas portas? Somos capazes de nos comover perante a dor do outro? Se não somos capazes de nutrir compaixão e misericórdia por um irmão, por uma mãe que sofre, de nada vale o nosso batismo, os nossos sacramentos adquiridos, nosso título de cristãos e cristãs. Somos hipócritas. Hipocrisia é também uma forma de violência. 
A Igreja festeja hoje João Crisóstomo, que nasceu em Antioquia. Foi educado pela mãe após a morte precoce do pai, recebeu o batismo por volta dos 18 anos. Se dedicou à ascese e ao estudo bíblico. A maioria de suas homilias era comentários a respeito do Primeiro e do Segundo Testamento. Ele explicou o Gênesis, comentou Isaías e os Salmos. O que fazia com mais agrado era pregar o Evangelho. Teceu longos comentários sobre o de Mateus e o de João. Paulo era o seu autor preferido; sentia afinidade com o Apóstolo dos gentios. De João Crisóstomo resta-nos uma série de catequeses batismais, que preparavam os catecúmenos para o batismo. As últimas foram reencontradas em 1955, no monte Atos. Inúmeras vezes João Crisóstomo tomou a defesa dos pobres e dos infelizes, dos que morriam de fome e sede; ergueu com veemência sua voz contra os flagelos sociais, o luxo e a cobiça. Lembrou a dignidade do ser humano, mesmo pobre, e os limites da propriedade. Dizia: "Libertai o Cristo da fome, da necessidade, das prisões, da nudez!".

Emerson Sbardelotti 
(em 13 de setembro de 1972, a 44 anos atrás, começava a minha história neste mundo...que Deus continue me abençoando a servir e defender a vida do povo)

* A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.

** Arte: Cerezo Barredo

terça-feira, 6 de setembro de 2016

MIQUEIAS - livro do mês da Bíblia


MIQUEIAS* - livro do mês da Bíblia - setembro de 2016

O livro: Os sete capítulos do livro alternam, num ritmo ternário, perspectivas de julgamento (1,1 - 2,11; 3,1-12; 6,1 - 7,6, em que se misturam censuras, ameaças, sentenças de condenação, lamentos...) e oráculos de salvação (2,12-13; 4 - 5) ou liturgia de esperança (7,7-20). Tal organização confere ao conjunto uma coloração nitidamente escatológica. A autenticidade de certo número de peças ainda é objeto de discussão. Mas ao menos se atribui a Miqueias de Moréshet o essencial dos três primeiros capítulos, que embasam o núcleo de um trabalho redacional de amplitude e importância variáveis, segundo os críticos.

O homem e seu tempo: Originário da baixada, a sudoeste de Jerusalém, o profeta teria exercido seu ministério sob os reinados de Iotam, Acaz e Ezequias (1,1), entre 740 e 687 a.C. Contemporâneo do profeta Isaías, deve ter vivido, como ele acontecimentos dolorosos, decisivos para o futuro de Israel: primeiro, a queda de Samaria e a ruína definitiva do reino do Norte em 722. Miqueias anuncia esses fatos no marco de uma grandiosa teofania de julgamento (1,3-7). Depois, a invasão do reino do Sul pelo rei assírio Senaquerib, em 701. Essa campanha deve ter deixado a terra em tal estado de desolação que o profeta não pôde deixar de chorar sobre sua pátria arruinada e de entoar o emocionante lamento de Mq 1,8-16. Desse modo, mostra até que ponto, ele, o mensageiro do julgamento, se solidariza com seu povo, diante de cuja sorte não pode ficar insensível. Mas, apesar disso, o livro permite entrever que ele viveu numa solidão amarga, visto que devia se insurgir tanto diante das classes ricas (2,1-5) e dos responsáveis: príncipes, sacerdotes, profetas (3), como diante de todo o povo (1). Mas é com coragem que ele os enfrenta, na consciência de estar sendo guiado pelo Espírito do Senhor (3,8).

A mensagem: Miqueias deixará na história a marca de um profeta de desgraças (Jr 26,18). Mas, na verdade, a ruína de Samaria (1,6-8) e a de Jerusalém (3,12) representam para ele apenas etapas de um único projeto divino: o  mesmo "golpe de IHWH" (1,9), como uma onda, se estende de Samaria a Jerusalém. Que não se veja, porém, nessa catástrofe a mão de uma cólera cega, mas o julgamento de um Deus que já não suporta a traição. Antes de condenar, Miqueias acusa. Múltiplas são as censuras: a idolatria de Israel do Norte (1,6), mas sobretudo a escandalosa injustiça social em Judá. O profeta se dirige particularmente aos ricos e aos chefes: a venalidade das figuras de destaque toma dimensões assustadoras. Nem mesmo os profetas são poupados. Em trocas de jarras de vinho (3,5-11), "eles constroem Sião no sangue e Jerusalém no crime". O mal se encontra de tal forma enraizado nos corações que Samaria e Jerusalém tornam-se a personificação viva do pecado e do crime (1,5). E tudo isso, numa boa fé fundada numa concepção equívoca da aliança: "o Senhor não está no meio de nós? Não, a desgraça não cairá sobre nós". Falsa segurança, denuncia Miqueias, que passa a proclamar a ruína total da cidade santa (3,13). Será a última palavra de Deus? Não, se se vir no anúncio do juízo o último apelo à conversão. Para além da catástrofe, o livro abre largos horizontes de esperança e paz. Ele tenta conciliar as duas grandes linhas da escatologia veterotestamentária, a do Deus que vem estabelecer seu reinado e a do Messias há séculos aguardado. Quando, no momento de maior provocação, a situação parece desesperadora para um Israel deslocado, para os membros esparsos em meio às nações, o próprio IHWH empreende a reunião das ovelhas dispersas: ele toma a frente do rebanho, para conduzi-lo ao aprisco de Sião, onde estabelecerá seu reinado. E ele transformará "esse resto manco e doente em uma nação poderosa" (2,12-13; 4,6-8). E ela encontrará sua unidade na pessoa do Messias, da linhagem de David e nascido em Belém, como seu ilustre antepassado (5,1-2). Exercendo seu poder em nome de IHWH seu Deus, o novo David se tornará fonte de paz para o mundo (5,4). E é pela mediação da comunidade escatológica assim estruturada, "o resto de Jacó" renovado, que a vingança de Deus virá sobre as nações endurecidas em sua recusa à conversão (5,6), ou, ao contrário, que a bênção divina se expandirá como orvalho fecundante sobre os povos em busca de Deus (5,7). Jerusalém será erigida em pólo de atração universal: uma visão grandiosa de alto teor espiritual, o profeta vê acorrer a ela, em imensa peregrinação, todas as nações do mundo, para encontrar Deus e acolher ali sua Palavra. Todas as falsas seguranças humanas, todos os cultos mentirosos, todas as práticas idólatras serão varridas. A humanidade nova se entregará inteiramente a Deus, esperando a salvação apenas da iniciativa divina (5,9-14), e o Senhor "lançará ao fundo do mar todos os pecados" (7,19).

* Introdução da A BÍBLIA TRADUÇÃO ECUMÊNICA. São Paulo: Paulinas / Loyola, 1995.

** Arte: Luís Henrique Alves Pinto (MG)

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Evangelho do Dia (02/09/2016)



Evangelho do Dia (02/09/2016) - Lc 5, 33-39*:

"Disseram-lhe então: 'Os discípulos de João jejuam frequentemente e recitam orações, os dos fariseus também, ao passo que s teus comem e bebem!'. Jesus respondeu-lhes: 'Acaso podeis fazer que os amigos do noivo jejuem enquanto o noivo está com eles? Dias virão, porém, em que o noivo lhes será tirado; e naqueles dias jejuarão'. Dizia-lhes ainda uma parábola: 'Ninguém rasga um retalho de uma roupa nova para colocá-lo numa roupa velha; do contrário, rasgará a nova e o remendo tirado da nova ficará desajustado na roupa velha. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; caso contrário, o vinho novo estourará os odres, derramar-se-á, e os odres ficarão inutilizados. Coloque-se, antes, vinho novo em odres novos. Não há quem, após ter bebido vinho velho, queira do novo. Pois diz: O velho é que é bom!'".

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré é questionado sobre a prática do jejum e responde com a parábola do retalho de roupa nova, do vinho novo e do odre novo. O problema não é o jejum, mas as falsas seguranças que se sustentam nele. Para a comunidade que está sendo formada em torno de Jesus de Nazaré, a partilha do pão, a compaixão e a misericórdia, são marcas da novidade trazida por ele aos seres humanos, de ontem e de hoje, porém, nos esquecemos disso. A partir da partilha, da compaixão, da misericórdia, a lei será compreendida de forma a promover a justiça. Uma lei que não promove a justiça não faz parte do projeto de vida de Deus, e regulamenta um projeto de morte. A novidade trazida por Jesus de Nazaré exige bases novas, e os seres humanos têm de se dispor a acolhê-la. Isso explica porque o vinho novo que Jesus de Nazaré oferece não é do gosto daqueles que beberam o velho vinho da Lei. As pessoas não querem mudar por uma questão de comodidade e conveniência...mudar pode trazer problemas...é preferível não arriscar. Não é preciso ser costureiro/a para saber que um retalho de roupa nova não ficará bem numa roupa velha ou vice-versa, tende a se romper o remendo. Ninguém em sã consciência rasga uma roupa nova para remendar uma roupa velha. Odre, do latim - utre, é como se chama um antigo recipiente feito de pele de animal, geralmente de cabra, usado para o transporte de líquidos como água, azeite, leite, manteiga, queijo e vinho. Qual o tipo de retalho estamos sendo, o tipo de vinho e o tipo de odre em nossas relações na sociedade e na Igreja? Queremos a novidade ou estamos presos à coisas velhas que nos impedem de avançar para águas mais profundas?

Emerson Sbardelotti

* A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.

** Foto de um odre de vinho retirada da Internet.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Evangelho do Dia (01/09/2016)



Evangelho do Dia - (01/09/2016) - Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação - Lc 5,1-11*:

"Certa vez em que a multidão se comprimia ao redor dele para ouvir a palavra de Deus, à margem do lago de Genesaré, viu dois pequenos barcos parados à margem do lago; os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. Subindo num dos barcos, o de Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra; depois, sentando-se ensinava do barco às multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão: 'Faze-te ao largo; lançai vossas redes para a pesca'. Simão respondeu: 'Mestre, trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar; mas, porque mandas, lançarei as redes'. Fizeram isso e apanharam tamanha quantidade de peixes que suas redes se rompiam. Fizeram então sinais aos sócios do outro barco para virem em seu auxílio. Eles vieram e encheram os dois barcos, a ponto de quase afundarem. À vista disso, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: 'Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!' O espanto, com efeito, se apoderara dele e de todos os que estavam em sua companhia, por causa da pesca que haviam acabado de fazer; e também de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus, porém, disse a Simão: 'Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens'. Então, reconduzindo os barcos à terra e deixando tudo, eles o seguiram".

No Evangelho de hoje há uma narrativa dos lugares onde Jesus de Nazaré fazia sua pregação e a história de uma pesca milagrosa, o chamado de Simão e a vocação dos primeiros discípulos após um período de ensinamentos e milagres. Nota-se que Lucas quis tornar mais real sua resposta imediata ao chamado. Pela tradição, Jesus de Nazaré apelida Simão, de Pedro. André, irmão de Simão, não é nomeado no Evangelho, provavelmente estivesse no barco, junto com Thiago e João. Este episódio apresenta para os discípulos, a missão que os esperava. Posso dizer que também para nós hoje, depois dos últimos acontecimentos (do dia 31/08/2016: um golpe parlamentar que trará inúmeros problemas para as gerações futuras), temos uma enorme e difícil missão pela frente: reconstruir a barca, que está afundando. Nossa esperança é Jesus de Nazaré é o mesmo que se apresenta como Boa Nova aos Pobres e ungido pelo Espírito, agora, manda, lançar as redes, em águas mais profundas, para pegar os melhores peixes, em quantidade que os barcos quase afundem. Os discípulos, e nós, somos chamados para irmos ao encontro da humanidade perdida...perdida na teologia da prosperidade, perdida no individualismo, perdida em preconceitos e racismo, perdida em violência e extermínio das juventudes. A novidade do programa de ação de Jesus de Nazaré é anunciar a Boa Notícia aos pobres, a libertação aos presos, a recuperação da vista aos cegos, dar liberdade aos oprimidos. Apesar de termos trabalhado a noite inteira e não apanharmos nada, mesmo assim, enquanto batizados, enquanto discípulos missionários, precisamos jogar sempre nossas redes em águas mais profundas. Como devemos nos comportar daqui para frente? Como manter viva a chama da luta? Pois, luto, para mim é apenas um verbo! Hoje comemoramos o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação...Criação que está sendo destruída por interesses mesquinhos das elites que sempre em toda a História da Humanidade só fizeram duas coisas: encher seus bolsos com os lucros da escravidão e da exploração e exterminar seus inimigos (lideranças que lutavam/lutam um sistema opressor). A Terra grita não só por dores de parto, mas por que está sendo assassinada. Uma desobediência não violenta se faz necessária, para que tenhamos uma oportunidade melhor de vida. Precisamos cuidar da humanidade, mostrando para ela que a democracia é ainda o melhor regime para se viver. Sem medo de ser feliz, pois o perigo é ter medo do medo! E cantar aquela antiga canção do Padre Zezinho, scj:
Há um barco esquecido na praia
Já não leva ninguém a pescar
É o barco de André e de Pedro
Que partiram pra não mais voltar
Quantas vezes partiram seguros
Enfrentando os perigos do mar
Era chuva, era noite, era escuro
Mas os dois precisavam pescar
De repente aparece Jesus
Pouco a pouco se acende uma luz
É preciso pescar diferente
Que o povo já sente que o tempo chegou
E partiram sem mesmo pensar
Nos perigos de profetizar
Há um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia

Há um barco esquecido na praia
Já não leva ninguém a pescar
É o barco de João e Tiago
Que partiram pra não mais voltar
Quantas vezes em tempos sombrios
Enfrentando os perigos do mar
Barco e rede voltavam vazios
Mas os dois precisavam pescar

De repente aparece Jesus
Pouco a pouco se acende uma luz
É preciso pescar diferente
Que o povo já sente que o tempo chegou
E partiram sem mesmo pensar
Nos perigos de profetizar
Há um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia
Quantos barcos deixados na praia
Entre eles o meu deve estar
Era o barco dos sonhos que eu tinha
Mas eu nunca deixei de sonhar
Quanta vez enfrentei o perigo
No meu barco de sonho a singrar
Jesus Cristo remava comigo
Eu no leme, Jesus a remar

De repente me envolve uma luz
E eu entrego o meu leme a Jesus
É preciso pescar diferente
Que o povo já sente que o tempo chegou
E partimos pra onde ele quis
Tenho cruzes mas vivo feliz
Há um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia

Emerson  Sbardelotti

* A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.

**Arte de Cerezo Barredo.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Evangelho do Dia (16/08/2016)



Evangelho do Dia (16/08/2016) - Mt 19, 23-30*:

"Jesus disse aos seus discípulos:
- Eu vos asseguro: um rico dificilmente entrará no reino de Deus. Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino de Deus.
Ao ouvir isso, os discípulos ficaram espantados e disseram:
- Então, quem poderá salvar-se?
Olhando para eles, Jesus lhes disse:
- Para os homens isso é impossível, para Deus tudo é possível.
Então Pedro lhe respondeu:
- Vê, nós deixamos tudo e te seguimos. Que será de nós?
Jesus lhes disse:
- Eu vos asseguro que vós, que me tendes seguido, no mundo renovado, quando o Filho do Homem sentar em seu trono de glória, também vós sentarei em doze tronos para reger as doze tribos de Israel. E todo aquele que por mim deixar casas, irmãos ou irmãs, pai ou mãe, mulher ou filhos, ou campos, receberá cem vezes mais e herdará vida perpétua. Mas muitos primeiros serão últimos e últimos serão primeiros.

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré abre os olhos dos discípulos para o fato de que o jovem rico não conseguiu se desvencilhar de suas posses materiais e para o perigo das riquezas acumuladas que impedem o seguimento ao projeto de vida que Ele vem instituir. As palavras de Jesus: "é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino de Deus" são uma expressão proverbial semelhante a várias outras utilizadas no mundo semita para descreverem uma completa impossibilidade. De fato, a intenção de Jesus é contrastar o maior dos animais da Palestina (o camelo) com o menor dos orifícios conhecidos na época (o buraco de uma agulha). Jesus mostra o quanto é difícil uma pessoa se salvar enquanto ainda está apegado às suas posses materiais. Trabalhar a virtude do desapego na sociedade em que vivemos hoje, é muito difícil, não é impossível, mas é difícil. Precisamos sempre tentar e não desistir. Com certeza a pessoa que faz isso será chamado de louca, no fundo estará realizando o que Jesus esperava do jovem rico. A maior riqueza está no seguimento a Jesus. Ele mesmo diz que a recompensa será inimaginável, cem vezes mais. É preciso reconstruir o próprio ser humano, viciado no relativismo, no individualismo, no egoísmo, no fundamentalismo, no fanatismo, no racismo, em tantos ismos que o impedem de se livrar de riquezas que no fundo fazem mais mal do que bem. Como é que isso acontece nas nossas vidas? Nas nossas famílias? Nas nossas comunidades? Trabalhamos em nós a virtude do desapego? 

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte de Luís Henrique Alves Pinto (MG).

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Evangelho do Dia (15/08/2016)



Evangelho do Dia (15/08/2016) - Mt 19,16-22*:

"Então aproximou-se alguém e lhe disse:
- Mestre, que obras boas devo fazer para alcançar vida perdurável?
Respondeu-lhe:
- Guarda os mandamentos.
Perguntou-lhe:
- Quais?
Jesus lhe disse:
- Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não perjurarás, honra o pai e a mãe, e amarás o próximo como a ti mesmo.
O jovem lhe disse:
- Cumpri tudo isso. O que me resta fazer?
Jesus lhe respondeu:
- Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois segue-me.
Ao ouvir isso, o jovem partiu triste pois era muito rico".

No Evangelho de hoje, uma pessoa se aproxima de Jesus de Nazaré e o questiona. A princípio não se sabe quem é, que idade tem; à frente, é apresentado como jovem e rico. A pergunta pode ser feita por qualquer um independente da idade, pois era sabido na época de Jesus, que as obras boas poderiam assegurar a vida eterna (cf. Dt 5,32-33). A pergunta supõe que a salvação definitiva pode ser conseguida fazendo algo especial. Jesus de Nazaré seleciona aqueles mandamentos que dizem respeito a comportamentos observáveis do relacionamento social e sintetizam a vida ética de um bom judeu de sua época. Jesus chama aquela pessoa, o jovem rico, ao seguimento pessoal, removido o impedimento da riqueza. A perfeição é mais do que a pura observância dos mandamentos; não é apenas cumprir, mas seguir. A palavra perfeito denota integridade, maturidade, mais do que ausência de defeitos morais. Jesus exige isso de seus discípulos, ontem e hoje. O tesouro no céu equivale a um tesouro em Deus. O seguimento é um convite superior, por isso, a libertação da preocupação material não é o segredo da vida eterna, mas a origem de um novo tipo de vida como discípulo de Jesus. É exercitar cotidianamente a renúncia, a generosidade e o seguimento.

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte de Igreja Povo de Deus em Movimento (SP).

domingo, 14 de agosto de 2016

Evangelho do Dia (14/08/2016)



Evangelho do Dia - (14/08/2016) - Lc 12, 49-53*:

"Vim pôr fogo à terra, e o que mais quero se já está aceso! Tenho de passar por um batismo, e como me impaciento até que se realize. Pensais que vim trazer paz à terra? Não paz, eu vos digo, mas divisão. Daqui para a frente haverá cinco numa família, divididos: três contra dois, dois contra três. Opor-se-ão pai a filho e filho a pai, mãe a filha e filha a mãe, sogra a nora e nora a sogra".

No Evangelho de hoje, reafirmamos a opção por Jesus de Nazaré, pelos traços de Deus que enxergamos nEle e por todas as opções que Ele fez, principalmente a opção pelos pobres! Jesus de Nazaré apresenta uma interpretação do fogo em chave de julgamento. É um dos aspectos de sua missão, que sua vida inaugura. O outro aspecto é o batismo da morte que consumará o projeto do Pai. As pessoas terão que tomar partido, passando por cima dos laços familiares, diante de Jesus de Nazaré. A divisão provocada pelo Mestre atravessará grupos humanos naturais. É uma divisão profunda pois nos afeta diretamente no coração. A expectativa de uma paz messiânica não pode ignorar o fato que Ele está presente em nosso meio e deixa claro que essa paz só vem por meio da justiça, se não houver justiça não haverá paz, justiça e paz se abraçarão; na língua de Jesus, a expressão paz, significa plenitude, a satisfação de tudo o que o ser humano possa desejar honestamente diante de DeusA lealdade a Jesus de Nazaré e a seu projeto engendra oposições da parte daqueles que servem a projetos contrários ao de Deus. Em nossas comunidades estamos sendo leais ao projeto que Jesus propõe? Jesus de Nazaré exige que façamos uma opção, de preferência a mesma que Ele fez! Não é possível ficar em cima do muro. Não é possível ficar esperando um milagre cair do céu, pois sabemos, que do céu, só cai chuva, pedaço de satélite, avião e cocô de passarinho. É fazer uma opção sempre pelo mais desprotegido, o excluído, o discriminado pelo sistema. É lutar sempre por mais justiça, só assim haverá paz. O Papa Francisco está sendo aceito pacificamente por toda a Igreja ou por uma pequena porção dela? Ele está sendo fiel ao que Jesus de Nazaré propõe, pois retomou o Concílio Ecumênico Vaticano II, e tem sugerido mudanças, mudanças que estão provocando muito barulho, perseguições, comentários maldosos e divisões. Francisco veio para colocar fogo...e nós?

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte de Cerezo Barredo

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Evangelho do Dia (11/08/2016)




Evangelho do Dia (11/08/2016) - Clara de Assis, consagrada ao Senhor, Itália, séc. 13 - Mt 18,21 - 19,1*:

"Então Pedro aproximou-se e perguntou: 
- Senhor, se meu irmão me ofende, quantas vezes devo perdoá-lo? Até sete vezes?
Jesus lhe responde:
- Eu te digo que não sete vezes, mas setenta e sete. Pois bem, o reino de Deus parece com um rei que decidiu ajustar contas com seus criados. Imediatamente apresentaram-lhe um que devia dez mil talentos. Como não tinha com que pagar, o patrão mandou que vendessem sua mulher, seus filhos e todas as suas posses para saldar a dívida. O criado se prostrou diante dele, suplicando-lhe: Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo. Compadecido, o patrão daquele criado o deixou ir e lhe perdoou a dívida. Ao sair, aquele criado encontrou outro criado que lhe devia cem denários. Agarrou-o e o sufocava, dizendo: Paga o que me deves. Caindo a seus pés, o companheiro lhe suplicava: Tem paciência comigo, e eu te pagarei. Mas o outro negou e o pôs na prisão até que pagasse a dívida. Ao ver o que acontecera, os outros criados ficaram muito tristes e foram contar ao patrão tudo o que havia acontecido. Então o patrão o chamou e lhe disse: Criado perverso! Eu te perdoei toda aquela dívida porque me suplicaste; não devias também tu ter compaixão de teu companheiro como eu tive de ti? E indignado o entregou aos torturadores até que pagasse totalmente a dívida. Assim vos tratará meu Pai do céu, se não perdoais de coração cada um a seu irmão. Quando Jesus terminou esse discurso, transferiu-se da Galileia para a Judeia, do outro lado do Jordão.

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré responde com uma parábola à pergunta de Pedro. Na parábola, fica evidente que, ofensa e dívida são dois símbolos que expressam a situação negativa do ser humano diante de Deus. Cem denários é o salário de cem dias de trabalho de diarista, o denário era uma moeda romana de prata, equivalente a um quarto de um ciclo judeu; dez mil talentos (um talento = uns 30 a 35 quilos) é uma medida de peso em metal, referindo-se à prata. Um talento de prata equivalia a seis mil denário. Dez mil talentos é uma quantia extraordinária, exorbitante, inimaginável.  O texto não diz como a pessoa consegue se endividar tanto, ele não se recusa a pagar, pede paciência. Quem cobra, talvez um rei, age com compaixão, pensando, talvez, que aquele cobrado, o servo, não tem condição de pagar e o perdoa. Infelizmente, depois de perdoado, não repete o exemplo com o colega que devia bem menos do que ele. Como exercitamos a misericórdia e a compaixão? Esse texto nos questiona profundamente. Como exercitamos o perdão? Na época de Jesus de Nazaré, perdoar três vezes era considerado suficiente pelos rabinos. Porém, o Deus da Vida perdoa-nos muitas vezes mais. Há pessoas que dizem que perdoam mas não esquecem; será que perdoaram de fato? Da forma como perdoarmos, Deus irá nos perdoar. E junto com o poeta cantador Zé Vicente cantamos homenageando Santa Clara de Assis: 

SANTA CLARA CLAREOU
Zé Vicente – tom Em


Santa Clara a tua estrela, clareou,clareou!
Na constelação do amor, clareou,clareou! //

Salve o teu nome, Flor Bela de Assis!
Foi o Cristo pobre que te fez feliz.
Junto ao Irmão Francisco, na paixão da Paz
Seguiste o Caminho(Jo 14,6), sem voltar atrás!

Salve a tua história, de rara firmeza!
Vivendo o exemplo da livre pobreza
Mais de oito séculos, hoje festejamos
O teu testemunho,oi, alegres cantamos!

Salve o teu exemplo,sempre a ser seguido!
Teu ensinamento jamais esquecido!
Cruz e Eucaristia; dor e comunhão
Partida e chegada, de tua vocação!

Salve a tua vida, toda consagrada
Na luz do Evangelho; foste iluminada!
Força feminina para o bem da Igreja
Clara, irmã querida, sempre amada

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Foto de Emerson Sbardelotti



quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Evangelho do Dia (10/08/2016)



Evangelho do Dia (10/08/2016) - Lourenço, diácono dos pobres, mártir, séc. 3. Frei Tito, mártir da justiça, Brasil - Jo 12, 24-26*:

"Asseguro-vos que, se o grão caído na terra não morrer, ficará só; se morrer, dará muito fruto. Aquele que se agarrar à vida, a perderá; aquele que desprezar a vida neste mundo, a conservará para uma vida eterna. Quem me serve que me siga, e onde eu estou estará meu servidor. Se alguém me servir, o Pai o honrará".

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré nos fala de sua Paixão e de sua Ressurreição. Pela Paixão chegará a glória. Mesmo destino terá seus discípulos, os de ontem e os de hoje que o seguem. O egoísmo puro destrói o sentido da vida e a dimensão da vida. Quem segue a Jesus sabe que para chegar na salvação terá que passar pela cruz, não há jeitinho brasileiro para isso. Jesus não está pregando um ódio à vida, mas pede que rejeitemos os padrões que o mundo impõe para se viver nos dias de seu tempo e nos dias atuais. Celebramos os martírios de Lourenço e de Frei Tito, que adubaram o chão com sangue, para que a justiça fosse feita aos pobres de ontem e de hoje. Frei Tito dizia que "a Igreja não pode omitir-se. As provas das torturas trazemos no corpo". Acredito que muitos de nós que estamos nas CEBS ainda gritamos e não deixamos a Igreja se omitir, somos perseguidos por isso, todos os dias. Rezemos juntos o poema que Frei Tito escreveu em Paris, a 12 de outubro de 1972: "Quando secar o rio da minha infância, secará toda dor. Quando os regatos límpidos do meu ser secarem, minh'alma perderá sua força. Buscarei, então, pastagens distantes, lá onde o ódio não tem teto para repousar. Ali erguerei uma tenda junto aos bosques. Todas as tardes, me deitarei na relva e nos dias silenciosos farei minha oração. Meu eterno canto de amor: expressão pura de minha mais profunda angústia. Nos dias primaveris, colherei flores para meu jardim da saudade. Assim, exterminarei a lembrança de um passado sombrio".  Amém. Axé. Awiri. Aleluia.

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Foto de Emerson Sbardelotti

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Evangelho do Dia (09/08/2016)



Evangelho do Dia (09/08/2016) - Edith Stein, filósofa judia e monja cristã, mártir, Polônia, 1942. Bomba atômica lançada pelos EUA destrói Nagazaki, Japão, 1945 - Mt 18, 1-5.10.12-14*:

"Naquele momento, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: 'Quem é, então, o maior no Reino dos Céus?'. Ele, chamando uma criança para perto de si, colocou-a no meio deles e disse: 'Amém, eu vos digo: se não mudardes e não vos tornardes como crianças, nunca entrareis no Reino dos Céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus; e aquele que acolher uma criança como esta em meu nome, a mim acolhe. Cuidado para não mostrar desprezo a um destes pequenos! Eu vos digo que seus anjos, nos céus, continuamente veem o rosto do meu Pai, que está nos céus. Que vos parece? Se um homem tem cem ovelhas e uma delas se extravia, não deixará ele as noventa e nove nos montes para ir à procura da extraviada? E, se consegue encontrá-la, eu vos asseguro, se alegrará mais por essa do que pelas noventa e nove que não se extraviaram. Do mesmo modo, vosso Pai, que está nos céus, não quer que se perca nenhum desses pequenos'".

No Evangelho de hoje, há várias instruções para a comunidade. A temática central é a atenção devida aos pequenos, necessitados, ofensores, extraviados. É grande o valor dado à humildade, a compreensão, o perdão mútuo e a reconciliação. Jesus de Nazaré responde a uma pergunta colocando como exemplo uma criança. O termo grego paidíon, além da idade, pode denotar o ofício: menino, criança, criado ou servente. Na cultura de sua época, toda criança tinha uma situação social inferior. Era pouca coisa, assumia uma posição social baixa. A criança colocada no centro por Jesus é uma presença simbólica: no Reino dos Céus todos serão pequenos, filhos de Deus, essa será sua grandeza. Os discípulos deveriam assumir a situação de uma criança se desejavam entrar no Reino dos Céus: deveriam se humilhar, deveriam se tornar pouca coisa. Acolher a Jesus de Nazaré é realizar esta mudança de vida. Ninguém na História do Povo de Deus viu o rosto de Deus. Jesus porém tem acesso pessoal ao Pai. A imagem do pastor e suas ovelhas é comum no Primeiro Testamento; no Segundo Testamento, Jesus a retoma várias vezes para explicar que a preocupação por uma vida extraviada deve ser uma atitude da comunidade, que tomará todas as providências para que a vontade de Deus seja implantada entre seu povo. As ovelhas reconhecem o seu pastor.  Neste dia recordo as palavras de Santa Edith Stein: "A essência mais íntima do amor é a doação. Deus, que é amor, dá-se à criatura que Ele mesmo criou por amor. Há circunstâncias em que nos entendemos mais facilmente sem palavras. Uma coisa é certa, que vivamos no momento e no lugar presentes para alcançar a nossa salvação e a daqueles que nos foram confiados. Quem procura a verdade procura Deus, ainda que não o saiba". O mundo está em guerra como nos recorda o Papa Francisco, porém insistimos que a Paz e o Amor sejam maiores que as bombas.

Emerson Sbardelotti

* A BÍBLIA - NOVO TESTAMENTO. São Paulo: Paulinas, 2015.

** Foto: Emerson Sbardelotti

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Evangelho do Dia (08/08/2016)



Evangelho do Dia (08/08/2016) - Mt 17, 22-27*:

"Enquanto estavam reunidos na Galileia, Jesus lhes disse: 'O Filho do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens, e o matarão, e ao terceiro dia será ressuscitado'. Eles ficaram profundamente entristecidos. Quando chegaram a Cafarnaum, os que cobravam o imposto do Templo aproximaram-se de Pedro e lhe perguntaram: 'Vosso mestre não paga o imposto do Templo?'. Ele respondeu: 'Paga sim'. Tendo entrado na casa, Jesus se antecipou e lhe disse: 'Que te parece, Simão? Os reis da terra, de quem cobram tributos e impostos? De seus filhos ou dos estranhos?'. Como respondesse: 'Dos estranhos', Jesus lhe disse: 'Nesse caso, os filhos estão isentos. Contudo, para não escandalizá-los, vai ao mar, lança o anzol e pega o primeiro peixe que fisgares. Quando abrires sua boca, encontrarás uma moeda de prata; pega-a e paga-lhes por mim e por ti'".

No Evangelho de hoje há o segundo anúncio da paixão. A resposta é a tristeza do grupo. Pedro já não opõe resistência. Encontramos neste anúncio uma motivação hostil, pois alguém entregará Jesus; e uma reação emocional dos discípulos, mostrando que a ressurreição parece estar fora de sua compreensão. Lucas irá trabalhar de maneira parecida no episódio dos discípulos de Emaús, quando Jesus já ressuscitado não é reconhecido e tem que retomar toda a história da salvação. Como é difícil para os discípulos de ontem e de hoje entenderem a mensagem de Jesus de Nazaré! Para sustentar o templo, o pagamento deveria ser feito por todo israelita varão por meio da moeda grega didracma. Ela equivalia a dois dias de trabalho e era recolhido, dentro e fora da Palestina, um mês antes da Páscoa. No Primeiro Testamento, a expressão reis da terra tem conotação negativa, pois se refere aos reis que se opõem à vontade e soberania de Deus; estes esquecem, que Deus continua tendo controle sobre eles. Jesus de Nazaré explica para Pedro que como filhos do Reino de Deus, são livres, pagar o tributo é concessão, não obrigação. A moeda de prata - estáter - era a moeda grega que valia quatro dracmas. Provavelmente estas instruções do Evangelho foram dadas à comunidade enquanto ainda existia o templo de Jerusalém.

Emerson Sbardelotti

* A BÍBLIA - NOVO TESTAMENTO. São Paulo: Paulinas, 2015.

** Arte: Luís Henrique Alves Pinto (MG).

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Evangelho do Dia (28/07/2016)



Evangelho do Dia (28/07/2016) -  Mt 13, 47-53*:

"O Reino dos céus é comparável ainda a uma rede que se lança ao mar e que reúne peixes de toda espécie. Quando está cheia, puxam-na para a praia, depois, sentados, juntam em cestos o que é bom e jogam fora o que não presta. Assim acontecerá no fim do mundo: os anjos sobrevirão e separarão os maus dentre os justos e os lançarão na fornalha de fogo; lá haverá choro e ranger de dentes. Compreendestes tudo isso? - 'Sim', responderam-lhe. E Jesus lhes disse: 'Assim, pois, todo escriba instruído acerca do Reino dos céus é comparável a um dono de casa que tira do seu tesouro coisas novas e antigas'".

Jesus de Nazaré continua explicando por parábolas as comparações que nos aproximam do Reino dos céus (expressão do Evangelho de Mateus para Reino de Deus...). Esta parábola, assim como a do joio, apresenta e acentua a coexistência de maus e de bons, até o fim dos tempos. Ela insiste na ameaça do que se diz respeito ao que não presta. A rede real, usada pelos pescadores na época de Jesus, tinha grandes dimensões e exigia a colaboração de várias pessoas para puxá-la até a praia. A ideia é atingir a maior quantidade possível de destinatários. É importante lembra que o chamado dos discípulos começou com uma imagem de pesca.  Peixes bons e peixes ruins, destes últimos se ouvirão choro e ranger de dentes, pois, não conseguiram captar a mensagem de Jesus de Nazaré. Como estão as redes em nossas comunidades, sobram peixes ruins ou faltam peixes bons? Estamos fazendo acontecer a justiça do Reino de Deus?

Emerson Sbardelotti

* TEB - TRADUÇÃO ECUMÊNICA DA BÍBLIA. São Paulo: Paulinas / Loyola, 1996.

** Arte: Anderson Augusto (MG).

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Evangelho do Dia (27/07/2016)



Evangelho do Dia (27/07/2016) - Mt 13, 44-46*:

"O reinado de Deus se parece com um tesouro escondido num campo: um homem o descobre, volta a escondê-lo e, todo contente, vende todas as suas posses para comprar esse campo. O reinado de Deus se parece com um comerciante em busca de pérolas finas: ao descobrir uma de grande valor, ele vai, vende todas as suas posses e a compra".

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré diz aos seus discípulos e a nós que o lemos, que pelo reinado de Deus, o valor é alto e é preciso sacrificar outros valores. Cabe a nós, enquanto batizados, lideranças, militantes, irmãos e irmãs numa Comunidade Eclesial de Base descobrir o tesouro escondido. No Primeiro Testamento, a sabedoria era vista como tesouro oculto. Era uma prática comum, esconder bens preciosos (moedas, metais, joias) debaixo da terra, principalmente em períodos de crise econômica ou militar. As pérolas, serviam (servem?) para ostentar riqueza. No Evangelho, a pérola encontrada é a boa nova de Deus transmitida por Jesus. Quando a boa nova é encontrada, escutada, se enche de alegria, uma alegria não imaginada. Ao descobrir a beleza profunda da boa nova e ao compreender os seus segredos, a pessoa que o faz, se entrega a Deus por inteira. 

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Sieger Köder

terça-feira, 26 de julho de 2016

Evangelho do Dia (26/07/2016).


Evangelho do Dia (26/07/2016) - Ana e Joaquim, pais de Maria - Mt 13, 36-43*:

"Depois, despedindo a multidão, entrou em casa. Os discípulos foram e lhe pediram:
- Explica-nos a parábola do joio.
Respondeu-lhes:
- Aquele que semeou a semente boa é este Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os cidadãos do reino; o joio são os súditos do maligno; o inimigo que o semeia é o Diabo; a ceifa é o fim do mundo; os ceifadores são os anjos. Assim como se recolhe o joio e se lança ao fogo, assim acontecerá no fim do mundo: Este Homem enviará seus anjos para que recolham em seu reino todos os escândalos e os malfeitores; e os lançarão no forno de fogo. Aí haverá pranto e ranger de dentes. Então no reino de seu Pai, os justos brilharão como o sol. Quem tiver ouvidos, escute".

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré, em casa, responde a uma pergunta dos discípulos, que caberia muito bem para nós: "Explica-nos a parábola do joio". Vivemos em dias de fundamentalismo religioso, de intolerância religiosa, de preconceitos, violências...tudo em nome de Deus!? O que é, quem é o joio mesmo? Nossas comunidades estão semeando no mundo a boa semente? Jesus fala de uma perspectiva escatológica, daquilo que virá, que ainda não aconteceu. Porém, prepara seus discípulos para que esses preparem as comunidades para as tormentas e tempestades que virão. Estamos vivendo hoje tais tormentas e tempestades. Jesus toma a parábola do trigo e do joio como um cenário a respeito da realização do Reino no interior da história humana. A justiça de Deus está sendo confrontada, todo o tempo, pela presença do mal. Ao mencionar o Diabo, o evangelista enfatiza sua confrontação pessoal contra o reinado de Deus, apontando sua característica: o Diabo é um sabotador, não uma autoridade por mérito próprio. Quem se afasta do projeto de vida de Jesus, viverá uma frustração definitiva. Qualquer pessoa, hoje em dia, pode se tornar joio, se abandonar e se discordar da verdade radical anunciada por Jesus de Nazaré; ao ceder às instigações do Diabo se fecha para a novidade do Reino, não consegue ver a luz. Contudo, quem sabe ouvir, guardar estas coisas no coração e as colocar em prática: servindo aos mais necessitados - verá a misericordiosa luz divina.

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Anderson Augusto (MG).

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Evangelho do Dia (25/07/2016)




Evangelho do Dia (25/07/2016) - Tiago, apóstolo - Mt 20, 20-28*:

"Então se aproximou a mãe dos Zebedeus com seus filhos e se prostrou para fazer um pedido. Ele lhe perguntou:
- Que desejas?
Respondeu:
- Ordena que, quando reinares, estes dois filhos meus sentem um à tua direita e outro à tua esquerda.
Jesus lhe respondeu:
- Não sabeis o que pedis. Sois capazes de beber a taça que eu vou beber?
Respondem:
- Podemos.
Diz-lhes:
- Bebereis minha taça, mas sentar à minha direita e esquerda não cabe a mim conceder; será para aqueles a quem meu Pai destinou.
Quando os outros dez ouviram isso, ficaram indignados com os dois irmãos.
Mas Jesus os chamou e lhes disse:
- Sabeis que entre os pagãos os governantes submetem os súditos, e os poderosos impõem sua autoridade. Não será assim entre vós; pelo contrário, quem quiser ser grande entre vós, que se torne vosso servidor, e quem quiser ser o primeiro que se torne vosso escravo. Da mesma forma que este Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate por todos".

O Evangelho de hoje, retoma o tema de grandes e pequenos, porém, desta vez no plano do poder. Os discípulos estão tendo dificuldades em entender o ensinamento de Jesus de Nazaré e isso é mostrado neste episódio. Na comunidade iniciada por Jesus o poder não pode estar acima do serviço. A autoridade exercida por Jesus não é por via da ostentação de poder, mas com espírito de serviço, generosidade, humildade, fraternidade, justiça, misericórdia e paz. Onde há ostentação demais, há Evangelho de menos! A mãe dos Zebedeus será na tradição nomeada entre as mulheres que seguiram Jesus desde a Galileia e que assistiu seu assassinato. A taça, ou o cálice, metáfora de bênção, mas também para falar do sofrimento do Povo de Deus, reaparecerá no Getsêmani, mostrando a dura prova pela qual Jesus passará para assumir sua realeza na cruz. Essa é a taça que Ele oferecerá aos doze. Esse é o cálice que Ele nos oferece hoje. Quem terá coragem de beber do cálice e continuar inerte e em cima do muro frente à toda violência, intolerância, desamor e preconceito existente em nossa sociedade e, infelizmente, dentro de nossas comunidades. Resgatar a vida = pagar o preço pela libertação de um cativo, de um devedor, de um escravo. Servidor = aquele que cuida dos deveres domésticos, especialmente à provisão de alimentos. Escravo = a pessoa não livre, destinada a obedecer a seu senhor. A grande ambição no serviço a Deus deve ser a ambição de servir aos outros, eis o exemplo que Jesus de Nazaré nos deu.

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Anderson Augusto (MG).

domingo, 24 de julho de 2016

Evangelho do Dia (24/07/2016)


Evangelho do Dia (24/07/2016) - Lc 11, 1-13*:

"Certa vez, estava num lugar orando. Quando terminou, um dos discípulos lhe pediu:
- Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou seus discípulos.
Respondeu-lhes:
- Quando orardes, dizei: 'Pai, seja respeitada a santidade de teu nome, venha teu reinado; dá-nos hoje o pão do amanhã; perdoa-nos nossos pecados, como também nós perdoamos os que nos ofendem; não nos deixes sucumbir na prova'. E acrescentou:
- Suponhamos que alguém tem um amigo que acorre a ele à meia-noite e lhe pede: Amigo, empresta-me três pães, pois chegou de viagem um amigo meu e não tenho o que oferecer-lhe. O outro de dentro lhe responde: Não me importunes; estamos deitados eu e meus filhos; não posso levantar-me para dá-los. Eu vos digo que, se não se levantar para dá-los por amizade, se levantará por seu aborrecimento para dar-lhe o que necessita. E eu vos digo: Pedi e vos darão, buscai e encontrareis, batei e vos abrirão; pois quem pede recebe, quem busca encontra, a quem bate lhe abrem. Quem de vós, se seu filho lhe pede pão, lhe dá uma pedra? Ou se lhe pede peixe, lhe dá uma cobra? Ou se pede um ovo, lhe dá um escorpião? Portanto, se vós, sendo tão maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai do céu dará o Espírito Santo àqueles que lhe pedirem".

No Evangelho de hoje, Jesus de Nazaré atende ao pedido do discípulo e ensina aquela que ficaria conhecida como a Oração do Pai Nosso. O Evangelho nos propõe uma oração feita por Jesus, aquela que saiu de sua experiência profunda. É uma versão mais curta do que a que está no Evangelho de Mateus. Quem pode rezar assim com tamanha sinceridade é de fato, discípulo de Jesus, pois não há ali nenhuma palavra da boca para fora, mas palavras profundas que jorram de um coração misericordioso em ligação com a vida do povo. A oração responde à palavra escutada. Orar é atividade integrante de toda a vida religiosa. A parábola do "vizinho chato" é uma situação de emergência e que o pedinte seja movido pela obrigação da hospitalidade. Não é capricho nem interesse pessoal. Se tem um regime de amizade, Naquele tempo e devido às condições culturais, o pão era assado em casa a cada dia, todos dormiam num único cômodo, e a porta era trancada com uma barra. Vemos que quem pede, pede pois necessita, e bate à porta de quem com certeza não lhe deixará de mãos vazias. Pedir é comprometer-se! O pedir, o buscar e o bater, encontra hoje também, acolhida na misericórdia e gratuidade de Deus. 

Hoje, fazemos memória daquele 24 de julho de 1985, quando o padre Ezequiel Ramin, foi assassinado, por defender a vida. Para o mártir Ezequiel Ramin, e depois as CEBS, as Pastorais Sociais e os Movimentos Sociais iriam utilizar para homenagear outros mártires da caminhada, foi composto pelo verbita Cireneu Kuhn o cântico Pai Nosso dos Mártires:

Pai nosso, dos pobres marginalizados
Pai nosso, dos mártires, dos torturados
Teu nome é santificado naqueles que morrem defendendo a vida
Teu nome é glorificado, quando a justiça é nossa medida
Teu reino é de liberdade, de fraternidade, paz e comunhão
Maldita toda a violência que devora a vida pela repressão
O, o, o, o, o, o, o, o

Queremos fazer tua vontade, és o verdadeiro Deus libertador
Não vamos seguir as doutrinas corrompidas pelo poder opressor
Pedimos-te o pão da vida, o pão da segurança, o pão das multidões
O pão que traz humanidade, que constrói o homem em vez de canhões
O, o, o, o, o, o, o, o
Perdoa-nos quando por medo ficamos calados diante da morte
Perdoa e destrói os reinos em que a corrupção é a lei mais forte
Protege-nos da crueldade, do esquadrão da morte, dos prevalecidos
Pai nosso revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos
Pai nosso, revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos
O, o, o, o, o, o, o, o
Pai nosso, dos pobres marginalizados
Pai nosso, dos mártires, dos torturados

Que o sangue dos mártires não nos deixem em paz!

Emerson Sbardelotti

* BÍBLIA DO PEREGRINO. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005.

** Arte: Anderson Augusto (MG).