quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"QUANDO COMEÇAR A ACONTECER TUDO ISSO, ERGUEI-VOS E LEVANTAI A CABEÇA POIS SE APROXIMA A VOSSA SALVAÇÃO"

ICJ/ES – INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA



1º. DOMINGO DO ADVENTO – 29.11.2009



“QUANDO COMEÇAR A ACONTECER TUDO ISSO, ERGUEI-VOS E LEVANTAI A CABEÇA POIS SE APROXIMA A VOSSA SALVAÇÃO ”



“Da terra tão seca já brota uma flor, afagando prantos e gritos de dor. Correntes se quebram, as cercas tombando, uma nova era da história brotando – Manoelão -
Cd O Canto das Comunidades – Paulinas”.



Para início de conversa


O Evangelho de Lucas inicia neste domingo a esperança da vinda do Senhor e o Ano C da Liturgia Católica. Lucas não conheceu pessoalmente Jesus, mas sendo discípulo e companheiro de viagem de Paulo, se impressionou com o rosto do Ressuscitado que este trazia consigo após o encontro no caminho de Damasco. Enquanto historiador, descobriu o Cristo no recém-nascido de Belém, no menino dialogando no Templo com os doutores da lei, no profeta que orientou toda sua vida para a morte na cruz em Jerusalém. Lucas impressionou-se com a humanidade do Senhor em Jesus. Seu evangelho irradia a alegria do Senhor em salvar todos os seres humanos. O terceiro Evangelho é atribuído por Irineu de Lião, em 180 E.C., ao parceiro e discípulo do apóstolo Paulo, desde o século II e tem várias características: é objeto de estudo mais complicado do que o de Marcos, ele é produto de um artista literário mais consciente, um homem que escreve em um grego excelente e é capaz de adaptar o estilo à situação, que faz uma narrativa perfeitamente coesa e se dirige a um público capaz de apreciar tais qualidades. O Evangelho de Lucas é o testemunho da passagem do mundo palestino para o mundo helenístico; e ele tem a pretensão de mostrar Jesus e a missão dos apóstolos. Lucas é um cristão gentio de Antioquia, culto e de perspectiva cosmopolita, historiador atento aos seus personagens, que tem um inevitável interesse nas mulheres que seguem ou que se encontram no caminho de Jesus, são apresentadas com grande simpatia. Sua narração tem um caráter particular, uma vez que os acontecimentos relatados são em sua visão, intervenções do Senhor. Lucas escreve uns vinte anos depois da morte de Paulo e não deve ser situado depois dos anos 80-90 E.C.; está em concordância com as datas das viagens de Paulo, entre 55-60 E.C., aproximadamente.
A palavra Advento, foi tirada do vocabulário pagão, e significa chegada ou vinda. É o tempo anterior ao tempo do Natal em preparação à vinda do Senhor; é baseado na espera da vinda do Reino onde a nossa atitude básica é acender as velas do animo e do desejo de sermos de fato discípulos/as - missionários/as.
A Liturgia Católica no Ocidente, nas duas primeiras semanas do Advento, acentua a espera da segunda vinda do Mestre de Nazaré no final dos tempos. Nas duas semanas que faltam, enfatiza-se a preparação pessoal e comunitária para a solenidade do Natal: Maranatha! Vem, Senhor Jesus!
Como dizia minha avó Lavigna: “O melhor da festa é esperar por ela”.

Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Lc 21, 25-28.34-36.


No Evangelho de hoje, Lucas utiliza o gênero literário apocalíptico, uma corrente de pensamento e uma literatura surgida em Israel entre os anos 200 a.E.C. e 100 E.C. A apocalíptica é filha e herdeira da profecia. Ela funciona como literatura de resistência. Este gênero não quer falar de coisas que vão acontecer num futuro próximo, mas do presente de nossa existência. É uma linguagem para tempos de grande dificuldade e perseguição, cuja a finalidade é animar as comunidades, as de ontem e as de hoje, para a denúncia profética e para a resistência a tudo o que se opõe a defesa da vida e ao projeto do Senhor em Jesus.
Ao escrever o seu Evangelho, Lucas tem em mente a destruição de Jerusalém ocorrida no ano 70 E.C. que já havia ocorrido, mas as lembranças da matança estavam bem frescas nas mentes e nos corações do povo judeu; mas a impressão que temos ao ler o texto de hoje, é que todas estas coisas estão para acontecer. O fim de Jerusalém não é o fim do projeto do Senhor. O Evangelho não quer apontar o fim dos tempos, até porque, só o Senhor sabe quando será este fim, mas quer nos chamar dentro da história de vida de cada um, cada uma, para que possamos levantar nossas cabeças e ficarmos de pé, pois a libertação se aproxima.
Todos os sinais e símbolos que aparecem no texto são sinônimos da presença do Senhor em favor dos pequeninos, dos injustiçados e de seus aliados. É a própria ação do Senhor na história. E todos que se opõem ao projeto do Senhor na defesa e manutenção da vida em abundância serão julgados, por isso verão o Filho do Homem em seu poder e glória. Quem rejeita hoje as propostas do Reino serão julgados.
Em contrapartida, a vinda do Filho do Homem é salvação para quem está preso a um sistema que explora, que aliena e mata o ser humano em sua dignidade. A libertação é o resgate que o Mestre pagou com o seu sangue na cruz. Por isso os inocentes ficarão de pé e de cabeças erguidas verão a vitória. Mas nada disso acontecerá se não aumentarmos e fortalecermos a vigilância enquanto discernimento do que leva ou não ao projeto do Senhor. Somente com lucidez, senso crítico em relação à sociedade e aos fatos reais da história, é que as pessoas experimentam a presença do Senhor agindo a nosso favor.
A oração é a responsável pela força da vigilância.
Orar sempre, mesmo que seja apenas meia hora por dia. Que cristão eu sou, que liderança de comunidade e na paróquia eu sou, se eu não oro, se não escuto o que o Senhor tem a me dizer, a me pedir, a me sugerir, como proposta de transformação do mundo?
O que estamos fazendo de concreto em nossas equipes, ministérios, pastorais e outros serviços na comunidade, que nos levam a uma vigilância fraterna, serena e responsável?
É a ternura do Senhor da vida que nos coloca de pé diante dela, e por isso somos jogados em sua defesa a qualquer custo. É esta ternura divinal que nos alenta e abre novos caminhos, e fortalece a nossa fé frente aos desmandos dos donos do poder, frente a todas as formas de violência que testemunhamos dia após dia. Muitas vezes ficamos em silêncio, mas não estamos calados. Muitas vezes a chama fica fraquinha, mas ela não se apaga.
Maranatha!

Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Estudante do Curso Superior de Teologia do Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

Msn: emersonpjbes@hotmail.com
Blog: http://omisterioeautopia.blogspot.com/
Ilustração de Maximino Cerezo Marredo: http://servicioskoinonia.org/cerezo/

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

ANÚNCIO QUERIGMÁTICO

CRISMA: UM HÁLITO DE VIDA!

“Então o Senhor modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente”. Gn 2,7.

ROTEIRO 03

ANÚNCIO QUERIGMÁTICO

“Eu vi, eu vi...uma chama se acender...e o coração do meu povo aquecer”.
Zé Vicente

OBJETIVOS

1. Conhecer o Reino de Deus a partir de uma divulgação contínua e incansável da Palavra de Deus, investindo no anúncio querigmático, recomeçando a partir de Cristo para sermos sujeitos da História.
2. Valorizar as experiências de fé e os testemunhos dos evangelizadores e da comunidade cristã, fazendo o Evangelho ser Palavra encarnada na vida daqueles que abraçaram a fé.
3. Favorecer o clima de integração entre os/as participantes.
4. Motivar os/as participantes para a perseverança e para o compromisso.

MATERIAL SUGERIDO
Bíblia aberta. Vela acesa. Incenso. Uma música instrumental de fundo. Cangas coloridas onde todos irão se sentar.

ACOLHIDA

A equipe que preparou o encontro possa estar meia hora antes do início, recepcionando a todos/as com carinho, sorrisos e abraços. Que todos/as estejam descalços/as (faça um cartaz com a frase bíblica que está em Ex 3,5: “Ele disse: Não te aproximes daqui; tire as sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa”.) e sejam convidados/as a se sentarem nas cangas, ao redor do altar previamente preparado. Alguém com voz suave e afinada deve entoar um refrão meditativo.

ORAÇÃO
Pai-Mãe de bondade, que nos deu Jesus Cristo, que morreu por nossos pecados, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia para cumprir tudo o que estava escrito, que apareceu aos apóstolos, amigos e amigas, a todas as pessoas que nele acreditaram e que transmitiram até nós a Palavra e a esperança de fazermos parte da sua herança. Dá-nos coragem no serviço do teu povo, isso te pedimos em nome dele, nosso irmão e Senhor. Amém.

DINÂMICA: O QUE É QUERIGMA?
1º. Passo: No centro, próximo ao altar feito em cima das cangas coloridas, coloque um cartaz com a palavra QUERIGMA. Quem anima, pergunta aos participantes quem já ouviu esta palavra, quem sabe o que ela significa? Dê alguns minutos para pensarem e para que possam responder. Anote-se todas as respostas dadas e coloque-as em folhas de papel para que todos/as possam ver.
2º. Passo: Espalhe ao redor do cartaz com a palavra QUERIGMA algumas folhas de papel com as seguintes frases: “PROCLAMAÇÃO DE UM EVENTO HISTÓRICO-SALVÍFICO”; “ANÚNCIO DE VIDA”; “DAS PROMESSAS, DO REINO E DO MISTÉRIO PASCAL”; “ATUALIZAÇÃO DA IRRUPÇÃO DO ESPÍRITO DE DEUS”; “CHEGADA DO REINO DE DEUS”. Dê alguns minutos para que leiam e reflitam cada uma destas frases. Pergunte: “Qual destas frases, na opinião de vocês é o verdadeiro significado de QUERIGMA?”. Anote todas as respostas dadas pelo participante. Suscite o debate e as defesas de cada resposta.
3º. Passo: Comente as respostas dadas e anuncie a resposta correta: TODAS. Observe como irão reagir ao resultado, pois cada um irá tentar fazer valer aquela resposta pela qual mais se identificou.

REFLETINDO JUNTOS

[Quem anima deverá fazer a ligação da dinâmica com o tema do encontro.]

O que é o Querigma?
É a proclamação de um evento histórico-salvífico e de um anúncio de vida. É o anúncio de que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, que se fez ser humano, foi morto e ressuscitou para a salvação de todos/as nós. É o anúncio do nome dele, dos ensinamentos, das promessas, do Reino e de seu Mistério Pascal. É anúncio para manter sempre acesa a chama da fé, atualizando a irrupção do Espírito de Deus que transforma a face da terra e dos seres humanos convertendo seus corações.
É a certeza de que na História da gente a salvação é oferecida.

CANTO

Eu vi, Eu vi – Zé Vicente.

A PALAVRA DO SENHOR

1Cor 15, 1 – 11

REFLETINDO JUNTOS II

[Quem anima oriente a refletirem no silêncio. Se for preciso repetir a leitura, que o faça, mas agora com todos sentados em círculo. Depois convidem a todos/as a falarem em uma frase ou uma palavra o que a leitura impulsiona a fazer. Levar os/as participantes a descobrirem o sentido profundo da leitura, as características marcantes do anúncio querigmático. Deixe o tempo livre para a reflexão, valorizando a participação de todos/as.]

AVALIAÇÃO DO ENCONTRO

Como anunciar de forma eficiente e eficaz no meio da juventude o Mistério Pascal de Jesus?
Como realizar o anúncio querigmático todos os dias de nossas vidas?
O que mais chamou a atenção no encontro de hoje? O que mais preencheu o nosso ser?

NOSSO COMPROMISSO

O tema de nosso encontro de hoje foi: “Anúncio Querigmático”. E agora, quando estamos nos despedindo e voltando para nossos lares, como é sentimos este anúncio em nossas vidas?
Assim como os primeiros apóstolos e as primeiras comunidades se dedicaram em divulgar e em experimentar o anúncio da Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, que nesta semana que começa, os participantes possam conversar um pouco com os familiares, amigos e amigas e anotar o que eles sentem sobre o anúncio de Jesus.

DESPEDIDA

Quem anima se despede e faz despedir com muitos abraços e desejos de uma ida e uma volta sempre na certeza que somos filhos, filhas, amados/as pelo Senhor.
E abraçados em círculo, repetem com voz suave a seguinte oração:

CREDO APOSTÓLICO (Ecumênico)

Creio em Deus Pai todo-poderoso,
criador do céu e da terra;
e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor;
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo;
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;
desceu à mansão dos mortos;
ressuscitou ao terceiro dia;
subiu aos céus,
está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
donde há de vir e julgar os vivos e os mortos;
creio no Espírito Santo,
na Santa Igreja Universal,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição do corpo,
na vida eterna. Amém.

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Este roteiro é para ser usado pelos grupos de jovens e pelas lideranças juvenis que servem à comunidade na Pastoral da Crisma.
O encontro não está de maneira alguma encerrado, pode ser ampliado e revisado. Contudo, peço, que me enviem tais ampliações e revisões pelo email institutocapixabadejuventude@gmail.com
Quando forem usar este roteiro, sempre, citem a fonte.

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Emerson Sbardelotti
Estudante do curso superior de Teologia no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – ROTEIROS PARA ACAMPAMENTOS E REUNIÕES DE GRUPOS DE JOVENS. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.

Os demais roteiros estarão disponíveis no blog do autor:

http://omisterioeautopia.blogspot.com/

e no blog do ICJ- Instituto Capixaba de Juventude:

http://icjinstitutocapixabadejuventude.blogspot.com/

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

"A HISTÓRIA DE CADA UM/A DE NÓS".

CRISMA: UM HÁLITO DE VIDA!

“Então o Senhor modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente”. Gn 2,7.

ROTEIRO 02


“A HISTÓRIA DE CADA UM/A DE NÓS”.

“E a criança tão humana que é divina. É esta minha quotidiana vida de poeta, e é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre”.
Fernando Pessoa


OBJETIVOS

Procurar conhecer um pouco da história de vida de cada um/a dos/as participantes a partir da criação da árvore genealógica.
Valorizar as diferenças e aceitar os limites de cada um/a.
3. Favorecer o clima de integração entre os/as participantes.
4. Motivar os/as participantes para a perseverança e para o compromisso.

MATERIAL SUGERIDO

Fotos dos/as participantes (solicitadas ao final do último encontro; que seja em um tamanho bom para que todos/as possam visualizar e irem identificando-se; se for preciso coloque o nome atrás.), estas devem ser colocadas em círculo ao redor do altar, cangas coloridas colocadas no chão, bíblia, vela, incenso, música de fundo (repetindo várias vezes): Um Certo Galileu – Padre Zezinho, scj.

ACOLHIDA

A equipe que preparou o encontro possa estar meia hora antes do início, recepcionando a todos/as com carinho, sorrisos e abraços. Que todos/as estejam descalços/as (faça um cartaz com a frase bíblica que está em Ex 3,5: “Ele disse: Não te aproximes daqui; tire as sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa”.) e sejam convidados/as a se sentarem nas cangas, ao redor do altar previamente preparado. Alguém com voz suave e afinada deve entoar um refrão meditativo.

ORAÇÃO

Pai-Mãe da história, da nossa e de todos os povos da Terra.
Abençoa nossos passos e os caminhos que iremos trilhar na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e humana.
Santifica-nos pelo teu Espírito para que possamos dedicar toda a nossa vida a ti, com fez Jesus Cristo, nosso irmão, teu Filho, nosso Senhor. Amém.

DINÂMICA: A ÁRVORE

1º. Passo: Todos/as os/as participantes recebem uma folha de papel em branco, lápis, caneta ou pincel.
2º. Passo: Quem anima, pede para que os/as participantes acompanhem as orientações enquanto desejam. Haverá participante dizendo que não sabe desenhar, não ligue para isso, motive para que todos/as cumpram a tarefa.
3º. Passo: Peça aos/as participantes que desenhem a raiz de uma árvore e coloque aí a data do seu nascimento, o nome do pai, da mãe, do avô, da avó, do irmão, da irmã, do/a melhor amigo/a e de um acontecimento que marcou a vida de zero a cinco anos de idade.
4º. Passo: Peça aos/as participantes que desenhem o tronco da árvore e nele anote a motivação que lhe faz crescer enquanto jovem, enquanto ser humano.
5º. Passo: Peça aos/as participantes que desenhem as folhas, flores e frutos e escrevam os sonhos, as utopias e as esperanças que carregam no peito.
6º. Passo: Peça aos/as participantes que coloquem o próprio nome na árvore e que escolham uma outra árvore (colega), com quem irá partilhar o que foi escrito.
7º. Passo: Depois do cochicho, partilhar no grupo.

REFLETINDO JUNTOS

[Quem anima deverá fazer a ligação da dinâmica com o tema do encontro.]

Quais foram os sentimentos descobertos com esta dinâmica?
O que está faltando na história de cada um, cada uma de nós?
Nossas árvores são frutíferas? Nossas sombras conseguem acolher a quem as procuram?
Cada ser humano é um ser em construção, é um ser diferente dos demais seres e por isso mesmo, se torna tão apaixonante e apaixonado.
Cada ser humano tem a sua missão, mas a primeira missão, a mais importante é se auto-conhecer. Somente quando nos conhecemos em nossa profundidade, no nosso íntimo, é que podemos partir a passos largos em direção ao outro e viver emoções seguras e verdadeiras, com respeito e diálogo sincero.
Buscar na mente o nome de nossos antepassados não é uma coisa muito fácil, pois não temos a prática que possuem os Povos Indígenas do Continente americano, eles lembram de todos os nomes de seus antepassados, pois ao lembrarem conseguem se manter vivos, ao lembrarem entram em sintonia com a Mãe-Terra, e nesta comunhão conseguem tocar em frente as suas vidas. Buscar na mente e no coração o nome e as feições de pessoas queridas que já se foram, nos remetem ao fato de que nossa estadia nesta terra é curto, e por isso mesmo, precisamos viver com sabedoria e dignidade.

CANTO

Minha História – Chico Buarque.

A PALAVRA DO SENHOR

Mt 1, 18 – 25.


Quem anima pode fazer toda a turma viver uma cena teatral desta leitura, aparecem Maria grávida de Jesus, José seu esposo, o narrador e o anjo do Senhor. As falas ficam apenas para o narrador e o anjo do Senhor. Os/as leitores/as (escolhidos com antecedência) procurem proclamar a leitura com suavidade e clareza as palavras. Os personagens acima nada falarão, apenas com o olhar, com o semblante e com gestos serenos.

REFLETINDO JUNTOS II

[Quem anima oriente a refletirem no silêncio. Se for preciso repetir a leitura, que o faça, mas agora com todos sentados em círculo. Depois convidem a todos/as a falarem em uma frase ou uma palavra o que a leitura impulsiona a fazer. Levar os/as participantes a descobrirem o sentido profundo da leitura, as características marcantes de cada personagem. Deixe o tempo livre para a reflexão, valorizando a participação de todos/as.]

AVALIAÇÃO DO ENCONTRO

Como será a partir deste encontro contada e recontada a história de cada um/a de nós? Acrescentaremos ou tiraremos nomes de nossas árvores? Por que?
O que levamos de incentivador para nossos lares? Como faremos para repetir a experiência do encontro nos nossos lares?

NOSSO COMPROMISSO

O tema de nosso encontro de hoje foi: “A história de cada um/a de nós”. E agora, quando estamos nos despedindo e voltando para nossos lares, como é sentimos o Senhor nas nossas histórias de vida?
Maria disse sim ao Senhor para que Jesus viesse ao mundo e se tornasse o Deus Conosco. José, quis repudiá-la em segredo. Foi preciso a intervenção amorosa do anjo do Senhor, para que ele entendesse o projeto de vida traçado para a humanidade. Como é que cada um/a de nós hoje entendemos este projeto de vida?
Durante a semana poderíamos procurar na Bíblia, precisamente nos Evangelhos, os modelos de projeto de vida que o Senhor indicou por meio de Jesus para o povo de Israel. Depois de identificados, como é que poderíamos atualizá-los para os nossos dias atuais?
E anotar o que descobriu e o que atualizaria numa folha de papel para que possa ser pregada num varal no próximo encontro, e lido por todos/as.

DESPEDIDA

Quem anima se despede e faz despedir com muitos abraços e desejos de uma ida e uma volta sempre na certeza que somos filhos, filhas, amados/as pelo Senhor.
E abraçados em círculo, repetem com voz suave a seguinte oração:

ORAÇÃO A CRISTO
“Nós te seguiremos, Senhor Jesus.
Mas para que te sigamos, chama-nos.
Pois, sem ti, ninguém caminha.
Tu és, com efeito, o caminho, a verdade e a vida.
Recebe-nos como estrada acolhedora,
acalma-nos como só a verdade pode acalmar.
Vivifica-nos porque só tu és a vida”.
Santo Ambrósio (340 – 397 E.C.)



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Este roteiro é para ser usado pelos grupos de jovens e pelas lideranças juvenis que servem à comunidade na Pastoral da Crisma.
O encontro não está de maneira alguma encerrado, pode ser ampliado e revisado. Contudo, peço, que me enviem tais ampliações e revisões pelo email institutocapixabadejuventude@gmail.com
Quando forem usar este roteiro, sempre, citem a fonte.


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Emerson Sbardelotti
Estudante do curso superior de Teologia no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – ROTEIROS PARA ACAMPAMENTOS E REUNIÕES DE GRUPOS DE JOVENS. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.


Os demais roteiros estarão disponíveis no blog do autor:

http://omisterioeautopia.blogspot.com/

e no blog do ICJ- Instituto Capixaba de Juventude:

http://icjinstitutocapixabadejuventude.blogspot.com/

terça-feira, 22 de setembro de 2009

"VOCÊ FOI ESCOLHIDO/A PELO SENHOR".

CRISMA: UM HÁLITO DE VIDA!

“Então o Senhor modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente”. Gn 2,7.

ROTEIRO 01

“VOCÊ FOI ESCOLHIDO/A PELO SENHOR”.

“A essência de Deus não é a solidão, é comunhão”.
Papa João Paulo II

OBJETIVOS

1. Expressar a alegria de saber que é o Senhor quem escolhe e chama para experimentarem o Sacramento do Crisma na fraternidade em comunidade, nos diversos serviços, nas diversas pastorais e movimentos.
2. Favorecer o clima de apresentação e o entrosamento entre os/as participantes.
3. Salientar que o Crisma não é apenas mais um sacramento, mas com ele, somos fortalecidos no e pelo Espírito.
4. Motivar os/as participantes para a perseverança e para o compromisso.

MATERIAL SUGERIDO

Bíblia (aberta de preferência na leitura escolhida para este encontro); cartazes com frases bíblicas relacionadas ao encontro; cangas coloridas espalhadas pelo chão; música instrumental; vela acesa; bacia e ou alguns potes com água; uma toalha para serem enxugadas as mãos; argila; incenso (que deverá ser aceso antes da chegada dos/as participantes, criando um clima de silêncio e contemplação).

ACOLHIDA

A equipe que preparou o encontro possa estar meia hora antes do início, recepcionando a todos/as com carinho, sorrisos e abraços. Que todos/as estejam descalços/as e sejam convidados/as a se sentarem nas cangas, ao redor do altar previamente preparado. Alguém com voz suave e afinada deve entoar um refrão meditativo.

ORAÇÃO

Pai-Mãe de bondade, de carinho e amor.
Seus filhos e filhas estão aqui reunidos, escutaram o teu chamado e dispostos a lhe servir compareceram, felizes e motivados/as.
Se é do teu agrado, fortalece-nos no teu Espírito e conduza-nos a um outro mundo possível, agora e sempre. Amém.

DINÂMICA: O EU DE ARGILA.

1º. Passo: Todos/as sentados/as em círculo, no chão, bem à vontade. Aos poucos quem anima o encontro, vai pedindo que silenciem e se concentrem na argila que será entregue a cada um, a cada uma.
2º. Passo: Cada participante recebe uma quantidade suficiente de argila. Com esta, passa a modelar a si próprio, como se vê enquanto criatura do Senhor e enquanto ser vivente.
3º. Passo: Se possível, manter durante o processo de modelagem, a concentração e o silêncio.
4º. Passo: Expor a criatura criada, o eu de argila para os/as demais participantes. Destacar as características mais importantes e outras mais comuns como: nome, idade, escolaridade, estado civil, em que gostaria de trabalhar, planos para o futuro, etc. {É o momento em que os/as participantes irão se apresentar }.
5º. Passo: Deixar que o grupo partilhe o que foi experimentado: o que mais chamou atenção na dinâmica?

REFLETINDO JUNTOS

[Quem anima deverá fazer a ligação da dinâmica com o tema do encontro.]

O Senhor convoca a cada um, a cada uma de nós, desde o ventre materno. Nós não escolhemos o Senhor, é Ele quem nos escolhe e acolhe. É Ele que nos anima a caminhar e ir de encontro ao outro.
Somos filhos e filhas de um Deus da Vida, de um Deus amoroso, carinhoso, bondoso, misericordioso, que está sempre criando e recriando, por isso, esperando de nós orações e ações bem concretas e inspiradas na realidade do mundo em que vivemos.
Qual foi a sensação de estarmos criando um boneco de argila?
Este boneco, criação nossa, é o nosso espelho?
O sacramento do Crisma não é apenas mais um sacramento, mas é o sacramento que fortalece o nosso espírito no Espírito d’Ele. Faz parte dos Sacramentos da Iniciação Cristã: Batismo, Eucaristia e Crisma (Confirmação).
No Batismo, como nos lembra a Tradição da Igreja, somos incorporados ao corpo eclesial que tem como cabeça Jesus de Nazaré, divinamente humano, humanamente divino. Na Eucaristia, vivemos o memorial do Cordeiro de Deus: “Este é o meu corpo e o meu sangue, comam e bebam, em minha memória”. No Crisma, o Espírito sopra um hálito de vida, revigorando a nossa vida na vida de tantos irmãos e irmãs, local e globalmente ligados a nós na Vida d’Ele.
Mulher e homem, imagem de Deus... Nas palavras do teólogo Leonardo Boff: “seria um pai maternal e uma mãe paternal”... Em clara sintonia com o mundo, com todos os seres vivos... Nós somos terra...somos parte da terra...por isso, devemos saber cuidar de tudo que no Planeta Terra foi criado. Morrendo o Planeta, morremos todos.
O Senhor é o Deus da Vida...
Vida em abundância para todos, para todas, indistintamente.
Por causa do que o Senhor criou e somos suas testemunhas, podemos proclamar que não só acreditamos em Deus, mas sentimos Deus!

CANTO

Vocação – Padre Zezinho, sjc.

A PALAVRA DO SENHOR

Mc 1, 16 – 21; 2, 13 – 14; 3, 13 – 19.

O/A Leitor/a deverá proclamar a leitura de forma segura, transmitindo ternura e carinho, com a voz suave, de preferência tocando em cada um, em cada uma, (no ombro, nas mãos, na cabeça, andando ao redor deles) no momento em que o próprio Jesus convida seus discípulos. Os participantes devem se sentir chamados, convidados, convocados pela leitura a viverem o sacramento do Crisma.

REFLETINDO JUNTOS II

[Quem anima oriente a refletirem no silêncio. Se for preciso repetir a leitura, que o faça. Depois convidem a todos/as a falarem em uma frase ou uma palavra o que a leitura impulsiona a fazer. Levar os/as participantes a descobrirem o sentido profundo das ações de Jesus na leitura. Deixe o tempo livre para a reflexão, valorizando a participação de todos/as.]

AVALIAÇÃO DO ENCONTRO

O que mais lhe motivou no encontro de hoje, lhe fará retornar no próximo? Explique.
Nós acreditamos mais em Deus ou sentimos mais a Deus?

NOSSO COMPROMISSO

O tema de nosso encontro de hoje foi: “Você foi escolhido/a pelo Senhor”. E agora, quando estamos nos despedindo e voltando para nossos lares, como é que esta predileção do Senhor por nós está falando ou gritando em nossos corações?
Qual é o compromisso que cada um, cada uma de nós podemos assumir na prática durante toda esta semana? [Tempo para pensar.]
Jesus chamou os seus discípulos, e continua nos chamando hoje ainda; por isso vocês estão aqui...Sugerimos que vocês releiam a leitura deste encontro e durante a semana procurem perceber na comunidade, aquela equipe, aquela pastoral, aquele movimento, em que você possa se identificar. Conversar com as lideranças sobre como funcionam as equipes que participam e se envolvam, pois a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos.

DESPEDIDA

Quem anima se despede e faz despedir com muitos abraços e desejos de uma ida e uma volta sempre na certeza que somos filhos, filhas, amados/as pelo Senhor.
E abraçados em círculo, escutam no silêncio o seguinte pensamento:

“Quando mergulhamos no inferno existencial da solidão e nos sentimos marginalizados e excluídos. Ele nos sussurra: ‘Eu estou contigo’.
Quando ficamos abatidos pela perversão da humanidade, pelas chagas infligidas à Mãe Terra, pelas águas que contaminamos, o solo que envenenamos, o ar que poluímos, Ele suscita em nós um amor redobrado a tudo que existe e vive.
E quando nos sentimos prostrados, sem vontade de viver e de estar com os outros, Ele nos convida: ‘Vem à minha casa e repousa e refaz as forças e experimenta como é suave meu amor’.”
Leonardo Boff





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Este roteiro é para ser usado pelos grupos de jovens e pelas lideranças juvenis que servem à comunidade na Pastoral da Crisma.
O encontro não está de maneira alguma encerrado, pode ser ampliado e revisado. Contudo, peço, que me enviem tais ampliações e revisões pelo email abaixo.
Quando forem usar este roteiro, sempre, citem a fonte.


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Emerson Sbardelotti
Estudante do curso superior de Teologia no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – ROTEIROS PARA ACAMPAMENTOS E REUNIÕES DE GRUPOS DE JOVENS. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.


Os demais roteiros estarão disponíveis no blog do autor:

http://omisterioeautopia.blogspot.com/

e no blog do ICJ- Instituto Capixaba de Juventude:

http://icjinstitutocapixabadejuventude.blogspot.com/

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O RESPEITO AO DIFERENTE

O RESPEITO AO DIFERENTE

Vivemos numa sociedade localmente globalizada, onde nossas ações, experiências e vivências são globalmente locais.
Vivemos numa sociedade em que o pluralismo cultural e religioso dita a moda, a mídia e tudo o mais que se relaciona com o agir do ser humano. Eles se impõem, independente se você aceita ou não.
O meu e o seu ponto de vista deveria ser sempre a vista de um ponto.
Mas, infelizmente, não é assim que as coisas funcionam nesta sociedade em que o fundamentalismo religioso, o preconceito, impede o respeito, o encontro e o debate com o outro, com o diferente.
Como é possível viver uma religião, se esta e seus interlocutores não religam a terra com o céu, o profano com o sagrado, o corpo com a alma, o homem e a mulher?
Como é possível viver uma religião, se esta e seus pastores e padres não se sentem à vontade para dialogar com sinceridade e fraternura? E passam para seus rebanhos que o outro não está salvo por crer diferente, que é herege, infiel e diabólico!
Revisar a vida é um passo muito importante, mas quem hoje em sã consciência tem coragem para admitir os próprios erros? Sem que estes erros sejam usados nos programas religiosos das madrugadas na TV para aguçar o emocional humano psicologicamente perturbado, por isso, aberto a qualquer investida paliativa do sagrado.
Foram 20 séculos de exclusivismo cristão. Foram dois mil anos em que o cristianismo tem pensado – local, global, oficial e majoritariamente – ser a única religião verdadeira, enquanto todas as outras religiões seriam falsas.
Há religiões muito mais antigas que o cristianismo!
Há conceitos éticos e morais, muito mais acessíveis do que a ética e a moral cristã.
Cristo era cristão?
Ele não conviveu com pessoas diferentes e suas diferenças no seu tempo?
Onde estão os profetas e as profetisas, onde estão as discípulas e os discípulos que anunciam e denunciam?
A profecia morreu?
Como podemos entender o grito, o choro e o lamento dos primeiros habitantes da Nossa América, que ao atualizarem o memorial-fonte, relembram, com lágrimas e dores as violências cometidas pelos europeus?

“Nós índios dos Andes e da América, decidimos aproveitar a visita de João Paulo II para devolver-lhe sua Bíblia, porque em cinco séculos ela não nos deu nem amor, nem paz, nem justiça. Por favor, tome de novo sua Bíblia e devolva-a a nossos opressores, porque eles necessitam de seus preceitos morais mais do que nós. Porque desde a chegada de Cristovão Colombo, impôs-se à América pela força uma cultura, uma língua, uma religião e valores próprios da Europa. A Bíblia chegou a nós como parte do projeto colonial imposto. Ela foi a arma ideológica desse assalto colonialista. A espada espanhola que de dia atacava e assassinava o corpo dos índios, de noite se convertia na cruz que atava a alma índia”. [1]

Os povos indígenas estão errados ao fazerem este lamentoso, sentido e verdadeiro pedido ao Papa? Se estão errados, qual é este erro? Como ler a Bíblia se ela foi usada para matar seres humanos? De que outra forma expressariam sua vontade de serem livres, por séculos aprisionada e assassinada?

O poeta sente e pensa diferente. Por isso muitas vezes não é compreendido e a perseguição velada ou explicita acontece e ele adoece por não conseguir compreender por que é difícil aceitar o outro? A única forma que possui para se fazer ouvir vem em forma de palavras, comovidas e ácidas:

CONVIVER COM A DIFERENÇA [2]

o grande desafio do mundo
é conviver com a diferença
de aromas, texturas, sons e cores
sabores que no profundo ou nas alturas
deveriam encantar as pessoas

infelizmente nem todas
conseguem aceitar
aquilo que a princípio assusta
ver o sol a partir de tantos olhares
é ver o belo no diferente

e se nos fazem sangrar e jorrar
só terão como resposta o vermelho
no chão, nossas sombras são iguais
seremos sementes e flores nos quintais
já não terá valor aquele espelho

a grande opção é viver em harmonia
descobrindo a partir das duras derrotas
que cada um, cada uma, é companhia
na edificação do outro mundo possível
aprendendo e ensinando sempre uma nova rota

Como fazer acontecer o diálogo inter-religioso e ecumênico, se todas as mudanças são vistas como heresias e deturpações da ordem já estabelecida?
As mudanças não são também sopro do Espírito? Não são vontades do próprio Deus?
Apressadamente se julgam as pessoas que trabalham na construção de um outro mundo possível, esquecendo-se que há lugar para todos.
Lembro-me de uma parábola contada pelo querido amigo carmelita Frei Carlos Mesters, no final da década de 1990 e que até hoje, rende para o próprio, adjetivos, como: herege, infiel, lobo vermelho, padre comunista, entre outros. Mas quem o acusa não se esforça para saber qual foi o contexto em que a parábola foi escrita, qual foi a contribuição do autor para a caminhada da Igreja no Brasil e no Continente. É muito fácil somente acusar, levantar falsos testemunhos e dizer que nada do que escreve não presta...podemos pensar que a inveja é muito maior do que qualquer outro sentimento.
Quando há respeito, há o encontro e há o diálogo. É uma via de mão-dupla. É um caminho árduo, mas não impossível. Mesters já deu um passo significativo nesta direção, sem abrir mão de sua fé. Pelo contrário, sempre dialogou chegando primeiro com um sorriso e depois com um abraço bem apertado. Sempre se manteve fiel às suas convicções enquanto carmelita, enquanto parte do Magistério e do Povo desta Igreja. Eis a parábola:

UMA PARÁBOLA [3][4]

Quando Deus andou no mundo, a São Pedro disse assim:

Certa vez, Jesus reuniu os discípulos e as discípulas e disse: “Quando você forem anunciar o Reino, não devem levar dinheiro nem comida, mas devem confiar no povo. Chegando num lugar, se vocês forem acolhidos e o povo partilhar comida e casa com vocês, e se vocês participarem da vida deles trabalhando e tratando dos doentes e do pessoal marginalizado, sem voz nem vez, então podem dizer ao povo com toda a certeza: “Gente! Olhe aqui! O Reino chegou! Está chegando!”. E eles foram.
Jesus também foi. Andou, andou. Já era quase noite. Estava começando a escurecer, quando chegou num terreiro. O pessoal que entrava, saudava e dizia: “Boa Noite, Jesus! Sinta-se em casa. Participe com a gente!”. Jesus entrou. Viu o pessoal reunido. A maioria era pobre. Alguns, não muitos, da classe média. Todo o mundo dançando, alegre. Havia muita criança no meio. Viu como todos eles se abraçavam entre si. Viu como os brancos eram acolhidos pelos negros como irmãos. Jesus, ele também, foi sendo acolhido e abraçado. Estranhou, pois conheciam o nome dele. Eles o chamavam de Jesus, como se fossem amigo e irmão de longa data. Gostou de ser acolhido assim.
Via também como a mãe-de-santo recebia o abraço de todos e como ela retribuía acolhendo a todos. Viu como invocavam os orixás e como alguns vinham distribuindo passes para ajudar os aflitos, os doentes e os necessitados. Jesus também entrou na fila e foi até a mãe-de-santo. Quando chegou a vez dele, abraçou-a e ela disse: “A paz esteja com você, Jesus!”. Jesus respondeu: “Com a senhora também!”. E acrescentou: “Posso fazer uma pergunta?”. E ela disse: “Pois não Jesus!”. E ele disse: “Como é que a senhora me conhece? Como é que eles sabem o meu nome?”. E ela disse: “Mas Jesus, aqui todo o mundo conhece você. Você é muito amigo da gente. Sinta-se em casa, aqui no meio de nós!”.
Jesus olhou para ela e disse: “Muito obrigado!”. E continuou: “Mãe, estou gostando, pois o Reino de Deus já está aqui no meio de vocês!”. Ela olhou para ele e disse: “Muito obrigada, Jesus! Mas isto a gente já sabia. Ou melhor, já adivinhava! Obrigado por confirmar a gente. Você deve ter um orixá muito bom. Vamos dançar, para que ele venha nos ajudar!”. E Jesus entrou na dança. Dentro dele o coração pulava de alegria. Sentia uma felicidade imensa e dizia baixinho: “Pai eu te agradeço, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste ao povo humilde aqui do terreiro. Sim, Pai, assim foi do teu agrado!”. Dançou um tempão. No fim comeu pipoca, cocada e batata assada com óleo de dendê, que o pessoal partilhava com ele. E dentro dele, o coração repetia, sem cessar: “Sim, o Reino de Deus chegou! Pai, eu te agradeço! Assim foi do teu agrado!”

Fico imaginando que além desta proposta de colocar Jesus no encontro e no diálogo com as Religiões Africanas, podemos também colocá-lo no encontro com Muhammad e o Islamismo, no encontro com Siddhartha Gautama e o Budismo, no encontro com Kung-Fu-Tse e o Confucionismo, no encontro com todas as Religiões Indígenas, entre tantas outras, sem denegrir a ética, o amor, a mensagem, a humanidade e a divindade de Jesus, pois ele mesmo se colocava nesta direção quando iniciava colóquios com o centurião romano, com a cananéia, com a samaritana...ele não deixou de ser judeu para anunciar uma vida em abundância para todos.
Qual é o medo de convivermos com o diferente?
Qual é o medo que se tem em dialogar numa sociedade que é plural?
Jesus é fruto de uma particularidade histórica que caminha para a universalidade salvífica:
“O primeiro pressuposto é partir da particularidade histórica e geográfica de Jesus de Nazaré para chegar a universalidade do Cristo da fé. Nem as primeiras comunidades, nem os apóstolos tiveram conhecimento imediato de que em Jesus Cristo acontecia a revelação definitiva de Deus. Para eles, Jesus de Nazaré era um bom judeu, praticamente piedoso, reformador de práticas judaicas que diziam respeito à lei e ao templo. Em sua proposta significativamente revolucionária em termos religiosos e, a partir daí, sociais, políticos e culturais, eles perceberam que esse evento dizia respeito não somente ao entorno judaico, mas devia ser levado ao conhecimento e ao seguimento de todos os seres humanos.
Fora dessa particularidade histórica, geográfica, profundamente humana, de Jesus de Nazaré, o cristianismo transforma-se em idéia, ideologia, símbolo; o próprio Cristo torna-se mito. Como se sabe, idéias e ideologias que não estejam baseadas em práticas só conseguem impor-se pela força da razão e do poder. Elas não somente impedem o acesso às práticas, mas as encobrem e mascaram. Práticas, ao contrário, não se impõem; elas valem por si, como testemunho; são frutos da experiência, referem-se diretamente ao chão da existência. Analogamente, os símbolos que não estejam enraizados na realidade perdem seu significado, seu conteúdo, tornam-se magia. Esse é o risco constante do cristianismo: fora da pessoa e da prática de Jesus, transmuda-se em puro símbolo e magia, pura idéia e ideologia. Magia que desconecta a fé da realidade, tirando-lhe o vigor transformador e libertador. Ideologia que aliena a fé, justificando atitudes e instituições opressoras. O cristianismo, para anunciar a verdade salvífica de Cristo, deve referir-se constantemente à pessoa e à prática de Jesus. Sem Jesus, não há Cristo. É de Jesus, de sua particularidade histórica, que deve partir sempre a cristologia. Sobretudo em seu diálogo com as outras religiões.
Quando, no diálogo com as religiões, tomamos como ponto de partida a universalidade de Jesus Cristo, como Deus feito homem, morto e ressuscitado para a salvação de todos os seres humanos, uma universalidade que normalmente encobre sua particularidade histórica, geográfica, cultural, social, política, etc., somos imediatamente levados a impor nossa concepção religiosa sobre os outros. Partimos do pressuposto de que já temos toda a verdade, de que devemos, portanto, anunciá-la aos outros. O cristianismo cometeu graves pecados em sua história, por causa dessa concepção não-cristã de verdade e de prática evangelizadora, pecados pelos quais hoje freqüentemente acusados e dos quais somos convidados a pedir perdão, conduzidos pela sábia decisão de João Paulo II. Há de se ter em mente que a verdade de Cristo é a obra de Deus, e não conquista humana, é dom de Deus a ser partilhado, e não imposto. Por isso, torna-se necessário impostar a reflexão cristológica para o diálogo inter-religioso dentro de uma “humildade soteriológica” que retome a singular humanidade de Jesus.
Além disso, os cristãos de hoje são levados à preguiça e à indiferença se desconhecem que a universalidade da pessoa e da ação de Cristo se manifestou para nós numa particularidade situada e que foi sendo aos poucos explicitada pelos primeiros grandes teólogos do cristianismo, em penoso trabalho de reflexão teológica, de ação pastoral e de evangelização inculturada. Recebemos a verdade pronta, acabada, julgando que basta agora impô-la à força. Cruzam-se os braços, julgando que a obra da inculturação do Evangelho terminou com a tomada do Império Romano, com a cristianização de toda a civilização ocidental, com a conquista das maiorias para o rebanho da Igreja. Esquece-se que os primeiros tempos do cristianismo apresentaram a verdade do Evangelho tendo em conta o respeito por dois flancos de realidade: a particularidade situada de Jesus de Nazaré e as particularidades culturais, lingüísticas, filosóficas etc., igualmente situadas, nas quais o Evangelho ia sendo semeado.
Urge, portanto, partir da humanidade particular, concreta e empírica de Jesus de Nazaré para chegar à divindade de Jesus Cristo e à pretensão de seu significado universal. Nem os apóstolos, nem as primeiras comunidades cristãs experimentaram de modo explicito o encontro com a divindade em Jesus de Nazaré. De certa maneira, o próprio Jesus de Nazaré não sabia que era Deus. Foi no encontro com as obscuridades da vida e no diálogo amoroso e religioso com o Pai, que Jesus foi se dando conta de sua missão messiânica e de sua identidade divina”. [5]

E aí pode-se perguntar: por que a teologia é necessariamente pluralista?
Primeiro, pois o Mistério da fé é transcendente, superando infinitamente todo entendimento humano e não se esgotando jamais numa única forma de interpretação. Segundo, pois esse mesmo entendimento teológico é sempre contextual: está situado sem escapatória dentro de uma cultura determinada, sendo que o campo cultural é justamente o campo das variedades.
O pluralismo teológico é legítimo, necessário e inevitável.
O respeito ao diferente é legítimo, necessário e inevitável se você quer continuar acreditando e professando sua fé.


___________________

[1] VIGIL, José Maria. Teologia do Pluralismo Religioso – para uma releitura do cristianismo. São Paulo: Paulus, 2006.
[2] TAVARES, Emerson Sbardelotti. Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007.
[3] NONO Encontro Intereclesial. São Paulo: Salesiana, 1996.
[4] CÍRCULOS Bíblicos. Sub-Regional do Espírito Santo: 1997.
[5] FELLER, Vitor Galdino. O Sentido da Salvação – Jesus e as religiões. São Paulo: Paulus, 2005.

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Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Estudante do Curso Superior de Teologia pelo Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO - TdL

Teologia da Libertação

(Revista História Viva - 2005)

J. B. Libanio

Parafraseando H. Vaz, a teologia da América Latina era uma teologia-reflexo. E com a TdL passou a ser considerada teologia-fonte, para seu próprio Continente, mas também para outros países e inclusive para a própria Europa.
Os teólogos latino-americanos seguiam quase exclusivamente a neoescolástica ensinada e ditada pela Universidade Gregoriana de Roma e ainda assim em tom menor. E depois da Conferência dos Bispos Latino-americanos em Medellín, Colômbia, em 1968, na esteira da liberdade aberta pelo Concílio Vaticano II, Gustavo Gutiérrez lançou o livro programático “Teología de la liberación” em 1971. A partir daí iniciou-se uma trajetória que prossegue até hoje com altos e baixos publicitários, com aceitação e rejeição eclesiástica, mas sempre coerente com a opção central de produzir uma teologia a partir da prática libertadora dos pobres.
A cultura midiática tem criado a consciência de que morreu, acabou, tudo o que deixou de ser notícia. A publicidade tornou-se o critério de realidade. E por isso, freqüentemente se pergunta se a TdL não desapareceu uma vez que já não se fala quase nada dela. De tempos em tempos, aparece alguma referência de soslaio. Entretanto, a publicidade nunca foi critério de relevância e verdade. Ela vive da emoção e da gigantesca rotatividade das notícias. A partir dela os juízos são superficiais. O fato de a TdL deixar de freqüentar as manchetes do mundo da mass media e das instâncias eclesiásticas não significa seu desaparecimento. Ela marcou e continua a marcar o universo teológico, a vida da Igreja e a sociedade.

O mundo teológico

A teologia católica dos últimos séculos se elaborou nas Faculdades teológicas romanas sob a forma escolástica e na Europa central em diálogo com a modernidade. Ambas se preocupavam quase exclusivamente com a intelecção da fé predominantemente para os estudantes de teologia e para quem se interessava diretamente por ela. Sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial, alguns teólogos europeus assumiram discutir os temas teológicos em confronto com as questões que as ciências e as filosofias modernas levantavam. Permaneciam, no entanto, no nível da compreensão do significado da fé.
A originalidade da TdL consistiu em que ela modificou a pergunta de base. Não buscava uma simples melhor compreensão da fé cristã diante da problemática intelectual do momento presente. Quis ir mais longe. Foi antes de tudo, uma libertação da teologia dos moldes europeus para responder a nossa situação (J. L. Segundo). Por isso, ela parte dos problemas da América Latina.
O teólogo europeu se pergunta pela razoabilidade e plausibilidade da fé cristã para quem está imerso na cultura moderna. O teólogo da libertação desloca a questão: como crer num mundo de tanta injustiça e opressão? Como ser cristão nele?
Ao responder essa questão, modificou o método da teologia. Partiu da práxis entendida como ação transformadora da realidade social. Aí hauriu as perguntas. As respostas se orientaram também para a práxis do cristão. E por isso o teólogo sentiu-se necessitado de inserir-se, ele mesmo, nessa práxis e deixar sua teologia ser questionada por ela. Substituiu a figura do teólogo acadêmico europeu por um teólogo metido na pastoral. Uma “teologia pé no chão” (Cl. Boff), “uma teologia à escuta do povo” (L. Boff), uma “teologia da enxada” (J. Comblin).
Como a primeira teologia desde a periferia com método próprio questionou as outras, sobretudo quanto a suas implicações ideológicas, relevância social e caráter profético. De modo original e profundo, articulou fé e realidade social com mútuo enriquecimento. Os binômios, que simbolizam esse trabalho teórico exigente, traduzem bem a intenção fundamental da sua metodologia: fé e vida, Revelação e realidade, mística e militância, ortodoxia e ortopráxis, etc. Levantou a suspeita de que muita teologia produzida na Igreja é alienante e não provoca o cristão a um compromisso social. Nisso ela se tornou uma teologia-fonte e crítica para a Europa e, de modo especial, para o resto do Terceiro Mundo que necessitava de uma TdL.

A vida da Igreja

Sua influência na Igreja foi significativa. Num primeiro momento, na Igreja da América Latina e especialmente no Brasil. Ela alimentou as Comunidades eclesiais de base que surgiram na década de 60. Estas nasceram em íntima ligação com a leitura popular da Bíblia e com o compromisso com as lutas populares em busca de libertação. Existe atualmente uma rede de comunidades praticamente em todas as dioceses do Brasil e nos outros países da América Latina. "As CEBs constituem hoje, em nosso país, uma realidade que expressa um dos traços mais dinâmicos da vida da Igreja e, por motivos diversos, vai despertando o interesse de outros setores da sociedade". Elas são "um novo modo de ser Igreja". "Fator de renovação interna e novo modo de a Igreja estar presente ao mundo, elas constituem, por certo, um fenômeno irreversível, senão nos detalhes de sua estruturação, ao menos no espírito que as anima". São afirmações de um documento oficial da Igreja do Brasil. Elas foram e ainda são sustentadas na fé pela TdL, traduzida em linguagem popular, e pela leitura militante da Escritura, segundo a metologia de um dos teólogos da libertação mais eminente: Carlos Mesters . Para ter-se idéia do alcance dessa presença, estudiosos contabilizam umas 100 mil CEBs envolvendo alguns milhões de fiéis.
A TdL influenciou a produção de textos importantes do magistério eclesiástico desde Medellín, quando nascia, até Santo Domingo em termos de Igreja da América Latina. No Brasil, documentos significativos do episcopado foram marcados pela TdL. Os temas mais importantes das Campanhas da Fraternidade por ocasião da Quaresma e as Diretrizes básicas da Pastoral do país não se entendem sem ela.
A repercussão foi além da América Latina. É fato inédito que uma teologia em tão pouco tempo tenha tido repercussões no próprio centro do Catolicismo. Roma se manifestou a respeito dela de uma maneira paradoxal. A imprensa projetou a idéia de que o Papa João Paulo II a condenara e que os processos contra L. Boff e G. Gutiérrez eram a prova cabal de tal condenação. A questão é mais complexa e matizada.
De fato, houve um documento da Congregação para a Doutrina da Fé que fez pesadas críticas à TdL. Lendo-o, porém, atentamente, percebe-se que ele não se dirige diretamente a nenhuma teologia concreta. Não condena nenhum teólogo da libertação. Ele descreve um tipo de teologia, a modo de modelo, sem dizer onde ele se realiza, e condena-o. A reação dos teólogos da libertação foi dizer que eles também não se identificavam com o modelo condenado e por isso não sentiam afetados pelo documento. E aí terminou a história.
Mais: para amenizar romanamente a questão vieram dois outros documentos. Um da mesma Congregação que também, em termos gerais, defende certo tipo de libertação. João Paulo II, para tirar a impressão de que Roma se opunha aos reclamos fundamentais da TdL, dirigiu uma mensagem ao episcopado brasileiro em que escreveu:: “estamos convencidos, nós e os Senhores (os bispos do Brasil), de que a TdL é não só oportuna mas útil e necessária”. Noutro lugar afirma uma tese central da TdL: “Os pobres deste País, que têm nos Senhores os seus Pastores, os pobres deste Continente são os primeiros a sentir urgente necessidade deste evangelho da libertação radical e integral. Sonegá-lo seria defraudá-los e desiludi-los” (João Paulo II, Mensagem aos Bispos do Brasil, São Paulo, Paulinas, 1986, n. 5 e 6.). No fundo, Roma aceitou as teses fundamentais da TdL, por serem evangélicas e segundo a melhor de sua Tradição: a opção pela libertação dos pobres, a dimensão social da fé e as expressões populares das comunidades de base.
Outra questão de atrito da TdL com setores da Igreja veio por causa do marxismo. A sua relação com ele tem nuanças. Rejeita o marxismo enquanto sistema global, ideologia e filosofia materialista. Assume dele o traço dialético e elementos da análise da sociedade. Críticas superficiais e sensacionalistas tentaram identificá-la grotescamente com o marxismo. Isso fazia parte do jogo ideológico de
setores conservadores tanto eclesiásticos como políticos.
A reserva, que o Vaticano II teve em relação ao marxismo, não veio de sua dimensão social, mas da forma atéia de sua realização e de sua visão do ser humano sem nenhuma transcendência. A queda do socialismo real confirmou a verdade da crítica da Igreja. Não surgiu naqueles países nenhum homem novo, mas lá estavam as mesmas corrupções e mazelas. Para bem da verdade, as mesmas críticas Roma tem em relação ao capitalismo por sua base materialista e compreensão do ser humano como ser de necessidades materiais. A Igreja institucional adverte para idêntica catástrofe nos países ricos.
Numa palavra, a TdL despertou a Igreja para o valor evangélico do compromisso libertador com os pobres numa linha para além do tradicional assistencialismo caridoso. Alimentou a prática pastoral de muitas Igrejas, comunidades e cristãos até o heroísmo do martírio.

A sociedade

Sua repercussão na sociedade sofreu oscilações. Houve um momento em que a mídia nacional e mundial atribuiu relevo à TdL, pois ela significou novidade e originalidade no mundo teológico. Além disso, ela exprimiu, em termos religiosos, reação crítica ao Regime militar do Brasil e aos de muitos outros países da América Latina, atraindo o apoio da imprensa liberal. Esta se tinha também alinhado a tal comportamento. Veio muito a calhar nesse processo liberalizante dar relevo à condenação de L. Boff, como exercício de prepotência por parte da Igreja institucional. Ao atacar-lhe tal atitude, fazia-o indiretamente ao Estado brasileiro, muito mais opressor e castrador com censuras e torturas.
Visto do lado da Igreja, estavam em jogo outras questões referentes, não diretamente à temática da libertação, mas à sua estrutura de governo. No entanto, tal mobilização da publicidade serviu para marcar mais a presença social da TdL.
O seu verdadeiro serviço crítico foi outro. Acima foi dito que ela alimentou as CEBs, fazendo que a dimensão libertadora lhes atravessasse a vida. Uma de suas originalidades foi articular a leitura da Escritura, as celebrações, muitos dos ministérios com as lutas populares, com os movimentos de melhoria das condições de vida e de trabalho. Elas tiveram certa importância no contexto social do Brasil. A jornalista H. Salem afirma que as CEBs foram o berço da grande maioria dos movimentos populares nascidos em São Paulo e que apressaram o fim do militarismo. E portanto, indiretamente está a TdL. Castelo Branco, na sua famosa coluna do Jornal do Brasil, dedicou espaço à relevância das CEBs nas campanhas eleitorais. Agentes de Pastoral do Pará comentavam que certo candidato ao Senado, conservador, de tradição e eleição garantida, foi derrotado pelo trabalho de formiga das CEBs.
O próprio surgimento do PT não se explica sem significativa presença da TdL. O MST, hoje considerado o movimento social de maior peso no país, e quem sabe, em todo Continente, teve seus inícios no seio da Igreja da libertação.
A TdL desbloqueou os cristãos para o compromisso social radical em nome da fé, mostrando que o maior problema da fé na América Latina não estava em questões dogmáticas, mas como enfrentar à sua luz a situação de opressão, de exploração das grandes massas populares. Os cristãos podiam, portanto, engajar-se no processo de libertação, motivados e iluminados pela fé. Não precisavam temer nenhuma contradição fundamental entre ela e a luta libertadora dos pobres.
Sua função não era organizar, nem programar as lutas pela libertação. Isso competia aos movimentos políticos. Mas motivar e iluminar o cristão com suas reflexões nessa luta, sustentando-lhes a fé. Pois vimos com tristeza no passado muitos cristãos que, ao engajarem-se na luta, a perderam. E isso porque viram oposição e não articulação entre fé e política, entre fé e luta libertadora, entre fé e compromisso social.
Mais. A TdL causou duplo impacto contraditório sobre a sociedade. Para os pobres, oprimidos e excluídos, tornou-se referencial indiscutível. Encontraram nela elementos e motivos de esperança para sua luta libertadora. Para outros segmentos da sociedade, foi o grande inimigo a ser combatido repressivamente até as raias do assassinato de seus protagonistas.

Situação atual

E agora qual é a sua situação? Conserva a opção fundamental de teologizar a partir da experiência de Deus nos pobres e de identificar-se com a causa deles. A queda do socialismo real deixou os pobres ainda mais desprovidos. O reinado solitário do neoliberalismo é-lhes desastroso. A TdL, expressão teológica da Igreja dos pobres, faz-se-lhes luz, fonte de esperança e utopia.
Novas questões surgiram vindas das ciências, da ecologia, da antropologia e de muitos novos movimentos sociais mundiais como desafios à TdL. Para respondê-los, ela precisou ultrapassar a leitura sócio-estrutural da realidade que até então fazia. Construiu uma teologia negra, indígena, feminista com originalidade e criatividade. Ao tocar questões culturais e antropológicas, atingiu raízes mais profundas da dominação e, por conseguinte, percebeu melhor a exigência de uma cultura da solidariedade, da partilha, do respeito às diferenças, da colaboração a partir das vítimas da história. Em comunhão com o movimento ecológico, mostrou a articulação entre o grito dos pobres e o grito da Terra. Ampliou assim o horizonte de uma visão puramente ambientalista para uma ecologia social, mental e integral.
Mais recentemente, a TdL tem enfrentado o desafio do fenômeno religioso da pós-modernidade que exaspera a subjetividade e levanta uma onda espiritualista de corte alienante. Toca-lhe recuperar a seiva espiritual e mística que a alimentou desde os inícios e propor verdadeira espiritualidade da libertação. Esta vem cobrir-lhe o déficit espiritual e afetivo. Compromisso libertador, mística e afetividade: os três ingredientes da atual TdL.


segunda-feira, 17 de agosto de 2009

ANIVERSÁRIO SHOW

Gostaria de convidar a todos os amigos, todas as amigas para o meu aniversário no dia 12 de setembro de 2009, a partir das 22 horas, na BOJANGLES MUSIC BAR, rua Henrique Laranja, em frente a Faculdade Metodista (antiga Univila), Centro, Vila Velha/ES.
Teremos neste dia a apresentação da Banda UTÓPICOS URBANOS - banda cover oficial do Barão Vermelho no Estado do Espírito Santo e algumas bandas convidadas, que irão animar a noite.
Conto com a sua presença e divulgação.
Abreijos.

Emerson Sbardelotti

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Agradecimentos

Agradecimentos a todas as pessoas que foram no show da banda UTÓPICOS URBANOS, no último sábado, dia 08 de agosto de 2009, na BOJANGLES MUSIC BAR...
No próximo dia 12 de setembro estaremos tocando novamente na casa e aguardamos a presença de todos vocês...
Saudações musicais.
Banda Utópicos Urbanos

sábado, 25 de julho de 2009

Receita do Baião de Dois

Baião de Dois

Comida típica do sertão do nordeste. Originalmente, o feijão é cozido em uma panela de ferro, e só depois, acrescente o arroz e deixa cozinhar. O processo todo demora muito tempo. Para facilitar, pode cozinhar o feijão à parte, na panela de pressão.


Baião de Dois
Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira


Capitão que moda é essa

Deixe a tripa e a cuié

Homem não vai na cozinha

Que é lugar só de mulhé

Vô juntá feijão de corda

Numa panela de arroz

Capitão vai já pra sala

Que hoje tem baião de dois

Ai, ai, ai

Ai baião que bom tu sois

Ó baião é bom sozinho

Que dirá baião de dois


Sucesso antigo da dupla Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, honra e glória da música popular brasileira, a letra de Baião-de-dois, escrita em meados do século passado, mostra que o prato nasceu humildemente, como aconteceu com o próprio o rei do baião — Gonzagão era filho de família pobre de Exu, Pernambuco. No Ceará, terra do parceiro Humberto Teixeira e berço provável da receita, compunha-se da mistura simples de feijão-com-arroz, toucinho, algum tempero, um pouco de farinha e nada mais.


Variações:

Hoje, abriga ingredientes diferentes, dependendo da região, da oferta de alimentos, das preferências do cozinheiro e do gosto do freguês. Na Paraíba, chama-se rubacão. Em Alagoas, arrumadinho. Há quem use queijo de Minas ao invés do de coalho, adote temperos diferentes, troque a cebola por pimentão, sirva a carne-de-sol como acompanhamento, junto com paçoca e pirão. Apesar da variabilidade, tudo é baião-de-dois. É um prato comum em São Paulo. Afinal, a capital paulista abriga um contingente de mais de quatro milhões de nordestinos ou descendentes. Centenas de restaurantes, bares ou barracas de feiras oferecem versões diversas cotidianamente, entre outras receitas típicas. Alguns são sofisticados, do ponto de vista formal, embora a qualidade da comida nem sempre acompanhe o capricho visual. Outros se destacam pelo sabor de seus pratos, atraindo gente de tudo quanto é canto, credo, cor, poder aquisitivo e profissão.


Baião de Dois / Receita


Ingredientes:

2 kg de feijão verde, ou feijão de corda, que é feijão verde já seco

300 g de bacon

2 paios (cortados em rodelas)

3 línguiças defumadas (cortadas em rodelas)

4 tabletes de caldo de bacon ou de carne seca

2 cebolas grandes picadas ou raladas

4 dentes de alho amassado

4 pimentas de cheiro amarela

6 colheres (sopa) de óleo (o certo é manteiga de garrafa)

Salsinha ou coentro picado, de 1 colher (sopa) à 1 xícara

1kg de arroz

200g de queijo de coalho (cortado em fatias finas)


Preparo:
Lave o feijão verde e deixe-o de molho de véspera.
No dia seguinte, cozinhe-o juntamente com o paio e o caldo de bacon ou de carne seca dissolvido em dois e meio litros de água fria.
Se usar o feijão mulatinho opte pela panela de pressão.
Tampe a panela e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de 1 hora.
Em outra panela, doure a cebola e o alho, no óleo.
Junte o coentro e o arroz e refogue bem até ficar brilhante e um pouco transparente.
Acrescente o feijão e o paio já cozidos, juntamente com o caldo.
Misture bem, tampe a panela e deixe cozinhar até que o arroz fique cozido, úmido e com consistência cremosa.
Durante o cozimento do arroz, se necessário adicione água, tomando o cuidado para não deixar a mistura ficar seca.
Junte a salsinha e mexa com cuidado.
Então, cubra o arroz com as fatias de queijo.
Tampe a panela novamente e deixe que o vapor derreta o queijo.


Sirva em uma travessa de barro acompanhado de um ou mais acompanhamentos abaixo:
Costelas de porco
Mandioca frita
Ovo frito
Carne de sol (seca) frita ou assada
Banana-da-terra cozida e picada ou com farinha de mandioca


Dicas e Opções:
Acrescente 3 pimentões vermelhos ou verdes grandes e picados.
O bacon é usado para dar gosto ao feijão. Se preferir, cozinhe o feijão com carne seca dessalgada e picada em pedaços pequenos.
Use queijo mussarela ou queijo de minas no lugar de queijo de coalho, mas isso só se não achar.
Use manteiga de garrafa ao invés de óleo.
O feijão pode ser substituído por mulatinho ou carioquinha, claro que não dá o mesmo resultado.


É um prato maravilhoso de bom.


Emerson Sbardelotti

quinta-feira, 30 de abril de 2009

O PACTO DAS CATACUMBAS

O PACTO DAS CATACUMBAS

No dia 16 de novembro de 1965, poucos dias antes da clausura do Concílio Vaticano II, cerca de 40 Padres Conciliares celebraram uma Eucaristia nas catacumbas de Domitila, em Roma, pedindo fidelidade ao Espírito de Jesus. Após essa celebração, firmaram o "Pacto das Catacumbas".

O documento é um desafio aos "irmãos no Episcopado" a levarem uma "vida de pobreza", uma Igreja "servidora e pobre", como sugeriu o papa João XXIII. Os signatários - dentre eles, muitos brasileiros e latino-americanos, sendo que mais tarde outros também se uniram ao pacto - se comprometiam a viver na pobreza, a rejeitar todos os símbolos ou os privilégios do poder e a colocar os pobres no centro do seu ministério pastoral. O texto teve forte influência sobre a Teologia da Libertação, que despontaria nos anos seguintes.

Um dos signatários e propositores do Pacto foi Dom Hélder Câmara, cujo centenário de nascimento foi celebrado em 2008.
PACTO DAS CATACUMBAS DA IGREJA SERVA E POBRE

Nós, Bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre as deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incentivados uns pelos outros, numa iniciativa em que cada um de nós quereria evitar a singularidade e a presunção; unidos a todos os nossos Irmãos no Episcopado; contando sobretudo com a graça e a força de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos sacerdotes de nossas respectivas dioceses; colocando-nos, pelo pensamento e pela oração, diante da Trindade, diante da Igreja de Cristo e diante dos sacerdotes e dos fiéis de nossas dioceses, na humildade e na consciência de nossa fraqueza, mas também com toda a determinação e toda a força de que Deus nos quer dar a graça, comprometemo-nos ao que se segue:

1) Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue. Cf. Mt 5,3; 6,33s; 8,20.

2) Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza, especialmente no traje (fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias de matéria preciosa (devem esses signos ser, com efeito, evangélicos). Cf. Mc 6,9; Mt 10,9s; At 3,6. Nem ouro nem prata.

3) Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco, etc., em nosso próprio nome; e, se for preciso possuir, poremos tudo no nome da diocese, ou das obras sociais ou caritativas. Cf. Mt 6,19-21; Lc 12,33s.

4) Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e material em nossa diocese a uma comissão de leigos competentes e cônscios do seu papel apostólico, em mira a sermos menos administradores do que pastores e apóstolos. Cf. Mt 10,8; At. 6,1-7.

5) Recusamos ser chamados, oralmente ou por escrito, com nomes e títulos que signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência, Monsenhor...). Preferimos ser chamados com o nome evangélico de Padre. Cf. Mt 20,25-28; 23,6-11; Jo 13,12-15.

6) No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos aquilo que pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferência qualquer aos ricos e aos poderosos (ex.: banquetes oferecidos ou aceitos, classes nos serviços religiosos). Cf. Lc 13,12-14; 1Cor 9,14-19.

7) Do mesmo modo, evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade de quem quer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou por qualquer outra razão. Convidaremos nossos fiéis a considerarem as suas dádivas como uma participação normal no culto, no apostolado e na ação social. Cf. Mt 6,2-4; Lc 15,9-13; 2Cor 12,4.

8) Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração, meios, etc., ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso prejudique as outras pessoas e grupos da diocese. Ampararemos os leigos, religiosos, diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama a evangelizarem os pobres e os operários compartilhando a vida operária e o trabalho. Cf. Lc 4,18s; Mc 6,4; Mt 11,4s; At 18,3s; 20,33-35; 1Cor 4,12 e 9,1-27.

9) Cônscios das exigências da justiça e da caridade, e das suas relações mútuas, procuraremos transformar as obras de "beneficência" em obras sociais baseadas na caridade e na justiça, que levam em conta todos e todas as exigências, como um humilde serviço dos organismos públicos competentes. Cf. Mt 25,31-46; Lc 13,12-14 e 33s.

10) Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso governo e pelos nossos serviços públicos decidam e ponham em prática as leis, as estruturas e as instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao desenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens, e, por aí, ao advento de uma outra ordem social, nova, digna dos filhos do homem e dos filhos de Deus. Cf. At. 2,44s; 4,32-35; 5,4; 2Cor 8 e 9 inteiros; 1Tim 5, 16.

11) Achando a colegialidade dos bispos sua realização a mais evangélica na assunção do encargo comum das massas humanas em estado de miséria física, cultural e moral - dois terços da humanidade - comprometemo-nos: a participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos urgentes dos episcopados das nações pobres; a requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais, mas testemunhando o Evangelho, como o fez o Papa Paulo VI na ONU, a adoção de estruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem nações proletárias num mundo cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobres saírem de sua miséria.

12) Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida com nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso ministério constitua um verdadeiro serviço; assim: esforçar-nos-emos para "revisar nossa vida" com eles; suscitaremos colaboradores para serem mais uns animadores segundo o espírito, do que uns chefes segundo o mundo; procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores...; mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião. Cf. Mc 8,34s; At 6,1-7; 1Tim 3,8-10.

13) Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossos diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão, seu concurso e suas preces.

AJUDE-NOS DEUS A SERMOS FIÉIS.

Notas:
1. Publicado no livro "Concílio Vaticano II", Vol. V, Quarta Sessão (Vozes, 1966), organizado por Boaventura Kloppenburg (p. 526-528).

domingo, 22 de março de 2009

"A LUZ VEIO AO MUNDO, E OS HOMENS PREFERIRAM AS TREVAS À LUZ."

ICJ/ES – INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA


4º. DOMINGO DA QUARESMA – 22.03.2009


“A LUZ VEIO AO MUNDO, E OS HOMENS PREFERIRAM AS TREVAS À LUZ.”


“E quem quer viver unida sua vida à de Jesus, não terá outro caminho: pela cruz se chega à luz!” Pe. José Weber, Hinário Litúrgico 2 – CNBB, Paulus.

Para início de conversa

Este Evangelho é o do encontro entre Nicodemos e Jesus, são pessoas que se estimam, mas estão em campos totalmente diversos, e recebemos o anúncio de sua paixão e manifestação de amor ao mundo. No passado do povo de Jesus, Deus pediu a Moisés que colocasse uma serpente de bronze num estandarte; a serpente foi um sinal de libertação para o povo no deserto, os mordidos de serpentes se curavam pela fé ao olharem para ela. Este ato livrava o povo de uma morte repentina,para a comunidade, este sinal é Jesus, que crucificado dará a vida eterna. A comunidade de João revendo sua caminhada nos diz que Deus enviou seu Filho ao mundo, não para condenar, mas para que o mundo seja salvo por ele. Porém, os homens preferiram as trevas à luz. O amor de Deus, que se manifestou em Jesus, foi rejeitado.
A elevação de Jesus na cruz é um julgamento. Neste confronto, o mundo se divide entre os que aceitam a luz e os que a rejeitam; pois, não é fácil encarar a vida nesta luminosa claridade. O Filho faz a obra do Pai, quem permanece nele, deverá também, todos os dias da vida, fazer as suas obras.
Nicodemos está amarrado ao que é antigo, não consegue aceitar o radicalmente novo de Jesus, por isso em sua busca, ele questiona, mas não se decide. De um lado são colocados os problemas, as convicções e a mentalidade de Nicodemos e de um outro lado as argumentações e a proposta de Jesus. O que falta a Nicodemos?

Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Jo 3, 14 - 21.

O Evangelho começa a partir do memorial do povo no deserto, no tempo de Moisés, em que este precisou levantar uma serpente de bronze sobre um poste, quem fosse mordido por uma cobra venenosa, ao olhar para a serpente ficava curado. A ligação com o que vai acontecer com Jesus é direta: ao morrer crucificado, trará a luz que cura a todos, a todas. Para a comunidade, Jesus é a fonte de toda vida e salvação. No diálogo com Nicodemos, (um mestre em Israel, membro do Sinédrio, mesmo ignorando um monte de coisas, ele não entenderá a principio a mensagem de Jesus, ao permanecer no Sinédrio também será cúmplice da morte de Jesus, entenderá as palavras do Carpinteiro muito tarde, quando Jesus já estava morto) lhe dirá que Deus ama a todos sem distinção. Ele ama o mundo: a humanidade toda, que é capaz de aceitar e rejeitar este amor de Deus. Deus é bom, infinitamente bom, quer salvar em plenitude todos os aspectos da vida. E esta plenitude se realizou na encarnação e também na morte de Jesus. Jesus é o amor do Pai levado às últimas conseqüências. Por meio da fé, todos se salvarão em Jesus.
A palavra krisis, do grego, significa julgamento/condenação e distinção/separação. A luz de Jesus manifesta a realidade do ser humano, e também a realidade da fé que se traduz em obras feitas como Deus quer. A vida de Jesus provoca as pessoas à decisão. Para os judeus do tempo de Jesus, pensava-se que o julgamento se daria no final dos tempos, quando os vivos e os mortos se apresentariam no tribunal de Deus. Para a comunidade joanina, o julgamento se dá aqui e agora no confronto das pessoas e da sociedade em quem vivem com a pessoa e a prática libertadora de Jesus. Estar a favor de Jesus é estar a favor da vida. Não estar com Jesus é estar com a morte. Jesus não julga nem condena, mas provoca o julgamento de Deus. O julgamento vem dos seres humanos.
Se optamos pela vida não seremos julgados.
Se optamos pela morte já estamos julgados e condenados, pois não se aderiu ao nome do Filho único de Deus. O nome de Jesus significa Deus Salva. Quem acredita neste nome é a favor da vida em todas as suas expressões.
Devemos agir sempre conforme a verdade que é Jesus. Aquele que é fiel ao projeto do Pai até o fim.


Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Membro do Grupo de Assessores da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Aluno de Teologia do Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo – IFTAV.

Msn: emersonpjbes@hotmail.com
Blog: http://omisterioeautopia.blogspot.com/

Ilustração de Maximino Cerezo Marredo (http://servicioskoinonia.org/cerezo/)

domingo, 15 de março de 2009

"TIRAI ISSO DAQUI, E NÃO CONVERTAIS NUM MERCADO A CASA DO MEU PAI."

ICJ/ES – INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA


3º. DOMINGO DA QUARESMA – 15.03.2009


“TIRAI ISSO DAQUI, E NÃO CONVERTAIS NUM MERCADO A CASA DO MEU PAI.”


“Deu-me esta voz que não cansa que teima em cantar a esperança, quando me dizem que a História não poderá ser mudada, insisto em contradizer.” Pe. Zezinho, scj. CD Oremos pela Terra, Paulinas, 2003.

Para início de conversa


No Evangelho de hoje, a comunidade de João reflete que o episódio da purificação do templo refere-se a morte e a ressurreição de Jesus, e também que a partir deste evento, a diminuição do ministério na Galiléia. A celebração da Páscoa na época de Jesus consumia grande quantidade de reses, bois, ovelhas e pombas, que com a licença dos sumos-sacerdotes e de outras lideranças do templo, eram vendidos no átrio, transformando-o num estábulo mercantil. Jesus chega em Jerusalém e, visitando o templo, se escandaliza pela degeneração do culto. O templo não ajudava mais a formar a comunidade em torno do projeto de Deus. Estava a serviço da elite e já não era mais sinal da aliança que garantia o direito dos pobres. Neste terceiro domingo da Quaresma, testemunhamos o gesto profético e cheio de indignação contra os vendilhões e cambistas e sua insistência numa prática religiosa baseada na justiça. Ele aproveita a situação para dizer que ele é o novo templo. Fala do templo do seu corpo que seria destruído dentro de alguns dias, da mesma forma que o Templo de Jerusalém seria destruído no ano 70 E.C., por Tito, este nunca mais seria reconstruído, mas o Pai reconstruiria o novo templo, Jesus, pela ressurreição. O novo lugar de encontro com Deus é o próprio Jesus, nele o Primeiro Testamento, a Primeira Aliança é renovada.

Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Jo 2, 13 - 25.

Por ocasião da Festa da Páscoa, a cidade de Jerusalém se enchia de peregrinos, da Palestina e da Diáspora. A Páscoa era a festa principal para os judeus, pois era o memorial da libertação da escravidão do Egito. No tempo de Jesus, esta festa deixa de ser popular por estar manipulada pelas lideranças religiosas e políticas daquele tempo. Todo judeu maior de idade devia ir a essa Festa e pagar os impostos previstos para o templo. O povo vai para comemorar e acaba sendo ainda mais explorado. E se passa a idéia de que Deus estivesse de acordo com aquilo tudo. Mas nem sempre havia sido assim.
Todo grupo religioso organizado necessita de um espaço físico para seus encontros e reuniões. Este espaço impede que a religião professada se torne intimista e individual, promovendo assim a coesão do grupo e ao mesmo tempo a visibilidade da fé.
No tempo de Jesus, o Templo de Jerusalém era o único lugar oficial do encontro comunitário com Deus que os judeus tinham. Nele eram realizadas as grandes celebrações e as festas. Era meta de peregrinações de todas as regiões em que houvesse judeus. O Templo e a Torá eram as duas colunas do judaísmo. Nos seis séculos anteriores à missão de Jesus, por quase todo o tempo, foi o único e último espaço de autonomia que sobrou ao povo.
Como todo centro de poder, o templo estava sujeito a incoerências entre a santidade que visava promover e a realidade que se vivia nos meandros do poder. Ele foi de fato, pivô de luta pelo poder, politicagem, exploração comercial, defesa de interesses escusos, opressão e exclusão. Por causa da sua importância na sociedade judaica, não consegue se entender a sociedade judaica do tempo de Jesus sem a percepção da necessidade do Templo de Jerusalém, os que detinham o poder sacerdotal facilmente caíam na tentação de absolutizar o que era apenas mediação.
O gesto profético de Jesus inaugura os tempos do Messias, ninguém mais poderá, mesmo que o faça em nome de Deus, defender um culto ou religião coniventes com a exploração do povo, visou despertar a consciência da dignidade do templo, manchada por abusos de quem mais deveria promovê-la. Jesus tinha em mente todos os abusos que eram cometidos no templo e sabia que a maioria das terras da Palestina estavam nas mãos dos latifundiários. Jesus nunca se colocou contra o templo, contra este espaço do povo, pelo contrário, chama-o carinhosamente “a casa do meu Pai”, servia-se dele para falar em público, fez de tudo e com energia para purificá-lo dos abusos. Jesus não veio para pôr remendos em instituições que, além de não preservar e promover a vida, exploram o povo em nome de Deus. Expulsando os comerciantes do templo, Jesus entra em sério conflito com as autoridades religiosas. Com esta atitude, ele propõe uma nova realidade, baseada na obediência ao Pai. E ele se entregará como caminho desta nova relação. O lugar da verdadeira adoração a Deus não será mais o templo, comprometido com os poderes da morte, mas com o templo do seu corpo martirizado por causa da defesa da vida. Nossa fé deveria crer no Cristo morto e ressuscitado como um caminho de radicalidade ao reino.
Destruir o templo e o reconstruir em três dias é abolir os sacrifícios exigidos no templo. É a partir do seu corpo, morto e ressuscitado que o povo reencontrará Deus para celebrar a Páscoa da libertação.
Jesus desconfia das pessoas do seu tempo, até mesmo em seu próprio grupo de amigos, pois eles não conseguem entender e enxergar a profundidade de suas palavras e atos em favor da vida e do reino, mesmo convidando-as a partir dos sinais que realiza. As pessoas viam nele um reformador de uma instituição falida, mas o que deveriam ver era aquele que trazia o vinho novo e o pão recém saído do forno. Ele insistia em contradizer, em caminhar na contramão.




Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Membro do Grupo de Assessores da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Aluno de Teologia do Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo – IFTAV.

Msn: emersonpjbes@hotmail.com
Blog: http://omisterioeautopia.blogspot.com/

Ilustração de Maximino Cerezo Marredo (http://servicioskoinonia.org/cerezo/)

"ESTE É O MEU FILHO QUERIDO. ESCUTAI-O."

ICJ/ES – INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA


2º. DOMINGO DA QUARESMA – 08.03.2009


“ESTE É O MEU FILHO QUERIDO. ESCUTAI-O.”


“Sei que Deus nunca esqueceu dos oprimidos o clamor. E Jesus se fez do pobre companheiro e servidor. Os profetas não se calam, denunciando a opressão, pois a terra é dos irmãos. E na mesa igual partilha teve ter.” Frei Domingos dos Santos, CD O Canto das Comunidades, Paulinas, 1982.

Para início de conversa


O Evangelho de hoje traz o simbolismo das manifestações de Deus no Primeiro Testamento: a montanha, a nuvem, o trovão. A comunidade de Marcos reflete a identidade profunda de Jesus de Nazaré, o Messias, o Cristo, o filho querido de Deus, e dele nós nos tornamos todos irmãos e irmãs. É a certeza de que o Pai renova seu amor por nós, nós faz experimentar a sua intimidade e nos oferece, comunitariamente, sua força. Hoje, neste Evangelho, ele nos permite contemplar a imagem divina de Cristo, o filho amado e querido a quem somos chamados a escutar todos os dias de nossas vidas.
O tema central deste Evangelho é a transfiguração de Jesus no monte Tabor. Jesus sobe à montanha. A montanha faz o memorial da Primeira Aliança que Deus fez com o povo no monte Sinai. Jesus leva amigos com ele, três daqueles a quem primeiro chamou para serem discípulos: Pedro, Tiago e João. Está em diálogo com Elias, representando todos os profetas do Primeiro Testamento e com Moisés, o representante da Lei. Para os discípulos seria muito mais fácil ficar ali, na glória de Deus em Jesus, mas este desce a montanha, volta para o meio do povo, volta para a realidade. A transfiguração é o sinal, é o final feliz de sua história de vida: a ressurreição. Que os discípulos e a comunidade só entenderam com o passar do tempo.

Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Mc 9, 2 - 10.

A cena da transfiguração está situada no monte Tabor, teologicamente, é o novo Horeb ou Sinai de Elias e Moisés...a profecia e a aliança. Transfigurar significa em grego e em português: trans – formar. É um Evangelho cercado de muitos símbolos: a brancura incomparável das vestes, as tendas e a nuvem, que parecem aludir ao acampamento no deserto, à tenda do encontro e à nuvem do caminho, no trovão a voz de Deus referendando o batismo de seu filho. Este testemunho é a parte central do Evangelho. Versa sobre a pessoa em quem se deve crer, e o ensinamento que é preciso cumprir. A proibição de não falar nada para ninguém é a saída para que possam viver a experiência da transfiguração a partir da ressurreição do Mestre; à luz plena da ressurreição, brilhará a luz provisória da transfiguração.
A partir deste momento, temos um novo início, onde Jesus vai dedicar a maior parte do seu tempo ensinando os seus discípulos o sentindo profundo de seu ministério. Jesus que era incompreendido pelos de fora, sempre sendo acusado de blasfemar, de estar possuído, de ser louco e impuro, tem que repreender a Pedro que não consegue enxergar o anúncio do Reino além das tradições, se tornando Satanás, portanto, é incompreendido também pelos de dentro do seu grupo.
Jesus irá vencer. A transfiguração responde afirmativamente. Seu projeto será o vitorioso pois o Pai deu o seu aval, declarando o filho querido e pedindo que o escutem. A transfiguração é o sinal da vitória de Jesus e do seu projeto.
O comparecimento de Moisés e Elias, vem dar testemunho de Jesus: ele é o libertador definitivo, prometido e prefigurado nos líderes do passado. No final, está apenas Jesus, como única autoridade credenciada. Ele está conosco para nos ajudar a descer do monte e a vencer todo o medo. Ele nos ajuda a descer da cruz os pobres, e todos nós que sofremos de ignorância crônica a respeito de quem é Jesus. Por isso o pedido insistente do Pai: escutai-o.
Existem hoje em dia sinais desta vitória de Jesus na comunidade? É possível transfigurar a vida das pessoas hoje em dia? Qual é a boa noticia que esta Palavra traz para nós? Como esta Palavra pode nos ajudar a viver este tempo de Quaresma?



Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Membro do Grupo de Assessores da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Aluno de Teologia do Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo – IFTAV.

Msn: emersonpjbes@hotmail.com
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Ilustração de Maximino Cerezo Marredo (http://servicioskoinonia.org/cerezo/)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

"ARREPENDEI-VOS E CREDE NA BOA NOTÍCIA."

ICJ/ES – INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA


1º. DOMINGO DA QUARESMA – 01.03.2009


“ARREPENDEI-VOS E CREDE NA BOA NOTÍCIA.”


“Lavai-vos, purificai-vos, a maldade de vós tirais. O mal deixeis de lado, vosso olhar ao bem voltai.” Márcio Pimentel (La Paz – Bolívia), CD Em Cantar, 2005.

Para início de conversa


Neste primeiro domingo da Quaresma, o Evangelho pode ser dividido em dois momentos: 1. Jesus no deserto: a tentação. 2. Jesus na Galiléia: “o tempo se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e creiam no Evangelho”.
O Espírito, do qual Jesus está repleto, o impulsionara para o deserto; o Filho de Deus se deixa levar pelo Espírito. Acreditamos que todos, todas, que se deixam levar pelo Espírito de Deus, são filhos e filhas de Deus.
O deserto é o lugar de encontro com Deus, é o local onde se experimenta Deus.
A cada passo que damos ao proclamarmos e refletirmos o Evangelho, a obra vai revelando quem é Jesus. É na Quaresma que temos a oportunidade de fazermos uma revisão de vida para conhecermos e entendermos o que significa ser cristão hoje em dia, e qual a nossa missão enquanto membros da comunidade eclesial?
As primeiras palavras de Jesus, o seu programa, a sua pedagogia e sua prática libertadora aparece no Evangelho de Marcos a partir de uma vaga indicação de tempo: a prisão de João Batista; de espaço: ele se dirigiu do deserto, onde pode fazer o discernimento de sua missão, para a Galiléia onde segundo o texto bíblico proclamou a boa notícia de Deus.
O Evangelho de hoje, é um apelo e um convite para entrarmos no deserto de nossa solidão; para o nosso retorno à consagração do reino, deixando-nos seduzir e conduzir pelo Espírito.

Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Mc 1, 12 - 15.

Jesus foi para o deserto, inspirado pelo Espírito Santo para fazer um discernimento, quando retorna de lá se encaminha para a Galiléia onde dará início ao seu plantio da boa notícia. Ele mesmo confirma: “Cumpriu-se o prazo e está próximo o reinado de Deus: arrependei-vos e crede na boa notícia.”
O Evangelho está cheio de simbologia: “Imediatamente o Espírito o levou ao deserto, onde passou quarenta dias, posto à prova por Satanás.” O deserto é o local do encontro com Deus: os 40 dias fazem memória do tempo que durou o dilúvio e da nova humanidade que surge com a família de Noé; Israel foi provado durante 40 anos; Moisés esteve na montanha jejuando durante 40 dias e 40 noites para receber a Primeira Aliança; Elias permaneceu 40 dias na montanha, depois provocou mudanças radicais no Reino do Norte com a profecia inspirada por Deus. Podemos concluir que em Jesus, tudo recomeça, é selada uma nova Aliança e se aproxima uma mudança muito mais radical para a vida do povo.
Nos 40 dias que permaneceu no deserto, defronta-se com o grande adversário do reino de Deus: Satanás, que significa adversário = sistemas e pessoas que são contrárias ao projeto de Deus anunciado e realizado na prática e no anúncio de Jesus.
Está próximo efetiva e afetivamente o reinado de Deus. Arrependimento e fé são alicerces da comunidade, do mutirão, que escreve o Evangelho de Marcos.
O que acontece com Jesus quando este fica sabendo que João Batista foi preso por ter incomodado a Herodes Antipas, por ter mexido com os interesses e privilégios dos poderosos?
Jesus também não se deixará intimidar pelos poderosos, pelo contrário, lutará contra todos os mecanismos que fazem brotar a morte para o povo. A prática mostrará que todos que lutam pela vida, sofrem o martírio.
A Galiléia é o chão, o lugar social onde Jesus inicia sua atividade. Uma região onde todas as culturas se misturavam, por se tratar de passagem para outros territórios e por ser terra de livre comércio, por tanto marginalizada por grande parte dos judeus que viviam nos arredores de Jerusalém, pelos saduceus, fariseus e escribas. Era lugar de gente sem valor e impura aos olhos da classe dominante. É a partir desta gente excluída que Jesus anuncia sua prática, sua pedagogia, o seu programa de vida em três momentos: 1. O tempo já se cumpriu, portanto, a espera da libertação chegou ao fim. 2. O reinado de Deus está próximo, pois seus discípulos e discípulas praticam atos libertadores continuando assim o que o Mestre anunciou e fez. 3. A conversão e a fé na boa notícia, leva a comunidade se tornar realidade e firmar um compromisso com a vida.
Eis que surge no horizonte uma pergunta que incomoda a todos, todas nós hoje: como esta Palavra pode nos ajudar a viver este tempo de Quaresma?
A Quaresma é tempo de conversão, e a conversão se realiza em dois níveis que se completam: o pessoal e o comunitário. No nível pessoal, o ser humano busca analisar a própria vida tentando reconhecer suas fraquezas para transformá-las; anseia por experimentar um relacionamento profundo com Deus e com os irmãos e irmãs, para que cresça e supere sua condição atual. No nível comunitário, tudo se transforma a partir da tomada de consciência e da responsabilidade frente as estruturas de pecado.
A paz é fruto da justiça, mas se não enfrentamos nossas tentações interiores durante toda a nossa vida, nenhum resultado encontraremos no final da estrada. A luta contra o pecado dura toda a nossa vida. A gente não luta sozinho. Estamos em comunidade, lutamos juntos, assim somos mais fortes na luta contra o mal. Ao vencermos a força do diabo, anunciamos a boa nova. A exigência é a conversão. E esta não acontece de uma hora para outra, mas se leva a vida inteira. Conversão é mudança de rumo, é sair do egoísmo e da preguiça, da ambição do poder e da riqueza, é vencer a cada dia os obstáculos e as tentações, somente assim o reino irá acontecer. É a conseqüência natural do nosso Batismo.
Lembro-me de um encontro do Conselho de Leigos, onde D. Aldo, bispo emérito da Diocese de São Mateus/ES, falava da sua vocação e da sua conversão diária: “Todos os dias, quando abro meus olhos e tenho a graça de contemplar a Criação e a vocação de servir ao povo, busco a conversão para continuar firme na caminhada. Todos os dias me coloco em xeque-mate frente a Deus e ao Povo; por causa deles todos os dias me renovo me questionando: tenho sido fiel ao reino, ao sangue dos mártires? Se sinto a menor chance de dúvida em meu coração, me ajoelho e peço que o Espírito ilumine o caminho por onde Deus me manda caminhar...todos os dias me pergunto se realmente tenho sido uma simples ferramenta na engenhosa máquina da defesa da vida? A resposta, continuo buscando estando junto com o Povo.”


Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Membro do Grupo de Assessores da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

Msn: emersonpjbes@hotmail.com
Blog: http://omisterioeautopia.blogspot.com/

Ilustração de Maximino Cerezo Marredo (http://servicioskoinonia.org/cerezo/)