terça-feira, 3 de novembro de 2015

II CONGRESSO CONTINENTAL DE TEOLOGIA

MEMORIAL DE UMA IGREJA QUE CAMINHA COM ESPÍRITO A PARTIR DOS POBRES



De 26 a 30 de outubro de 2015 participei do II Congresso Continental de Teologia, promovido por Ameríndia e pelo Instituto São Tomás de Aquino (ISTA), ocorrido na Casa de Retiro São José, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Fui muito bem acolhido no dia 25, na casa das Irmãs Sacramentinas, e lá reencontrei o querido amigo Pablo Richard e outros jovens teólogos e teólogas da libertação, originários de vários países da América Latina e Caribe, que conheci em 2012 durante o Congresso Continental de Teologia ocorrido na Unisinos, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Ouvi de Pablo Richard um singelo elogio ao meu novo livro Espiritualidade da Libertação Juvenil (CEBI, 2015), e o quanto essa publicação é necessária para a formação de novos teólogos e teólogas da libertação em todo o Continente. Ouvir tais palavras me encheram de alegria.
Pude ouvir histórias dos bastidores das Conferências de Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida; notar a preocupação com o avanço de forças ultraconservadoras em toda a América Latina e Caribe; celebrar a alegria do Evangelho nas mudanças propostas pelo Papa Francisco.
Na manhã do dia 26, acolhi o querido Frei Carlos Mesters, que chegava de Angra dos Reis-RJ e que foi tomar um café na casa das Irmãs Sacramentinas, onde ele tem uma amiga de muitos anos. Frei Carlos sempre com uma disposição de adolescente, apesar de ter mais de 80 anos, e com uma alegria contagiante. Me despedi e fui para o ISTA, para a última reunião de preparação e organização do Congresso com a equipe de Ameríndia e com o padre Manoel Godoy, que me pediu para marcar o tempo de caminhada da casa até o ISTA; “caminhando devagar”, como bem disse, para depois avisar aos participantes do II Congresso.
A caminhada foi maravilhosa, pois passei por dentro da Pontifícia Universidade Católica, olhando o prédio antigo, todo em branco e azul em contraste com os prédios novos; daqui a pouco avistei o Museu e finalmente cheguei ao ISTA, onde fui recebido por Manoel Godoy e a equipe de Ameríndia. Almoçamos juntos e fomos para a Casa de Retiro, onde credenciados continuamos a acertar os últimos detalhes.
A partir das 15 horas a Casa começou a receber teólogos e teólogas de todo o Continente. O idioma foi o espanhol, misturado em alguns momentos com o português. No final, todos, todas se entenderam muito bem.
A conferência inaugural foi feita pelo professor Leonardo Boff. Nos dias seguintes, seria a vez de Gustavo Gutiérrez, Carlos Mesters, Francisco Orofino, Victor Codina, José Oscar Beozzo, Pedro Trigo, várias teólogas da libertação; finalmente o II Congresso fez uma linda homenagem a João Batista Libanio.
O II Congresso Continental de Teologia avançou nos temas teológicos lançando perspectivas, propondo prospectivas.
Se assumiu publicamente apoiar o Papa Francisco nas mudanças que ele aos poucos vem fazendo. Uma carta feita por Leonardo Boff, lida em plenária, e assinada por todos, todas, foi enviada ao Papa Francisco.
Nos grupos de trabalho e nas comunicações científicas, as discussões tiveram profundidade teológica o que leva a equipe de Ameríndia a pensar numa publicação escrita que contemple os grupos e as comunicações, dando oportunidade para novos teólogos e teólogas da libertação.
Criei um poema a partir dos relatórios enviados pela maioria dos grupos de trabalho e que resume bem a criatividade e o compromisso de mulheres e homens envolvidos nas discussões teológicas daqueles dias:

IGREJA QUE CAMINHA COM ESPÍRITO E A PARTIR DOS POBRES

A Divina Ruah vem antes e caminha ao nosso lado.
A Divina Ruah sustenta as vozes em defesa da vida.
Reconstruir a Igreja enquanto discipulado de iguais
é garantir a cidadania que irá cicatrizar a ferida.

O diálogo é a casa onde hospedamos o outro.
Tudo é sagrado para quem encontra e respeita.
Eis a revolução humana que nos faz crescer.
Misericórdia é o dom que a profecia não rejeita.

A equidade, a igualdade e a diversidade,
são novas práticas pastorais e da educação.
O Reino de Deus acontece no meio do povo
como Palavra viva que jorra do coração.

Os pontos fundamentais na história bíblica,
deveriam ser os pontos da experiência humana.
Fé na Palavra, fé na gente, que lê com olhos novos
a realidade a partir dos pobres que não é profana

As cidades enquanto sinais de esperança
são aquelas que promovem a pluralidade:
de religião, de sonhos, de trabalho, de cultura.
Onde brotam espaços de participação e liberdade.

O Bem Viver é a exigência maior do Reino de Deus.
Se completa em autenticidade no seguimento da luz.
Os mártires e os profetas são sinais para hoje, neste lugar,
e, por isso, nada é mais alto que o mandamento da cruz.

A Igreja que caminha com Espírito,
que tem como riqueza o carisma e não o poder:
é a Igreja que caminha a partir dos Pobres.
Comunidade que constrói o homem e a mulher!

            De tudo o que vi e ouvi, posso dizer que a transmissão de conhecimento ocorreu de forma espontânea nos momentos de intervalos e na hora do almoço e do jantar. As mães e os pais da Teologia da Libertação ficaram desde o primeiro dia do Congresso, se misturaram em nosso meio, não deixaram de responder a nenhuma pergunta, brincaram, sorriram, nos levaram as lágrimas com seus depoimentos cheios de vida, ternura, vigor e esperança. Victor Codina me deu um abraço apertado quando me viu e me disse: “Li o seu livro Espiritualidade da Libertação Juvenil, gostei muito, parabéns”. Diego Irarrazaval ao me presentear com seu novo livro, me disse: “Seu livro Espiritualidade da Libertação Juvenil é uma ferramenta importantíssima para o trabalho com as lideranças juvenis, siga em frente, esse é o caminho”. Marcelo Barros me contou da alegria de reencontrar tanta gente bacana e sedentas da Teologia da Libertação. Gustavo Gutiérrez e Leonardo Boff falaram muitas coisas para mim, que até o presente momento, ainda estou refletindo e rezando, acredito que mais para frente irei colocar todas em prática, pois são indicações preciosas para ser um teólogo da libertação.
            De todas essas conversas nasceu a vontade de voltarmos para nossos países, para nossas casas, e pensarmos como difundir as propostas do Congresso no meio das juventudes, criar novos espaços para observação da realidade e da transmissão da Teologia da Libertação de acordo com cada lugar. Surgiu a ideia de se fazer no Brasil um II Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora, já que o anterior foi fruto do primeiro Congresso, e deu muito certo.
            Sou muito grato ao padre Manoel Godoy, a Rosario, e a toda a equipe de Ameríndia, que me convidaram para ajudar a organizar e a trabalhar no II Congresso Continental de Teologia, eu nunca mais vou esquecer todos os momentos ali vividos, guardei cada um deles dentro do meu coração. E rezando cada um deles, me preparo para seguir nesta caminhada, levando em frente, com outros jovens teólogos e teólogas da libertação a tarefa de continuar a defender a vida, a ser Igreja dos Pobres.
            Não se sabe ainda quando e onde será o III Encontro Continental de Teologia; nos corredores ouvi conversas que sugerem ser próximo à canonização de D. Oscar Romero (El Salvador) e ou nos 50 anos da Conferência de Medellín (Colômbia). Cenas dos próximos capítulos.
           

Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia – PUC-SP
Autor de Espiritualidade da Libertação Juvenil. São Leopoldo: CEBI, 2015.
Autor de Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Autor de O Mistério e o Sopro – Roteiros para Acampamentos Juvenis e Reuniões de Grupos de Jovens. Brasília: 2005.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

ESPIRITUALIDADE DA LIBERTAÇÃO JUVENIL NO SITE DA PUC-SP




Acesse o link do site da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e conheça o livro ESPIRITUALIDADE DA LIBERTAÇÃO JUVENIL:

http://www.pucsp.br/assessoria-de-comunicacao-institucional/noticias/mestrando-em-teologia-lanca-livro

RESENHA SOBRE ESPIRITUALIDADE DA LIBERTAÇÃO JUVENIL




SBARDELOTTI, Emerson. Espiritualidade da Libertação Juvenil. São Leopoldo: CEBI, 2015. ISBN: 978-85-7733-234-2.

O livro é prefaciado pelo monge Marcelo Barros e apresentado pela teóloga Rosemary Costa. Tem seis capítulos: 1. Espiritualidade e Juventude!; 2. Espiritualidade: um caminho de transformação!; 3. Juventude: um processo de educação na fé!; 4. Espiritualidade da Libertação, o que é?; 5. Espiritualidade Juvenil, o que é?; 6. Caminhos de uma Ecoespiritualidade à serviço da vida: um novo paradigma! O autor apresenta ainda um resumo dos seis capítulos em Retomando o Caminho. Apresenta as referências bibliográficas que utilizou para compor a obra.
Marcelo Barros diz em seu prefácio que o livro é uma aventura bela, mas exigente. É narrada de tal modo que o/a leitor/a se sentirá parte da história, através de uma reflexão que resgata vários textos sobre a Teologia da Libertação e sobre a Espiritualidade da Libertação. O autor convida a aprofundar uma Espiritualidade Libertadora, a partir da realidade e da sensibilidade da juventude atual.
Como toda boa reflexão teológica latino-americana, esse livro parte da prática. O autor entrevistou vários jovens sobre o assunto. Começou a escrever o livro no Congresso Continental de Teologia, de 2012, na Unisinos, em São Leopoldo-RS e o terminou no I Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora, de 2014, em Fortaleza-CE. O livro convida a viver o engajamento libertador no seguimento atualizado de Jesus, não importando de qual Igreja ou Religião seja o/a leitor/a, se descobrirá como viver o aprendizado de uma amorosidade universal.
Rosemary Costa convida em sua apresentação a saborear e a partilhar o livro. O Espírito, que sopra onde quer, se manifesta no novo, na novidade, no broto, fazendo novas todas as coisas. Essa é a chave para a Espiritualidade Libertadora, é a chave para a reflexão que convoca dia a dia, ao mais próximo, ao mais profundo de si mesmo, ao olhar atento e presente a cada ser, a cada realidade, à presença de Deus provocadora e sedutora.
No primeiro capítulo, Espiritualidade e Juventude!, o autor se apresenta e conta um pouco de sua história pessoal, profissional e pastoral. Teólogos e teólogas da libertação que influenciaram em sua caminhada na Pastoral da Juventude e nas Comunidades Eclesiais de Base. Diz que começou a escrever o livro num contexto não favorável à Teologia da Libertação e que terminou o mesmo na revolução iniciada pelo pontificado de Francisco.
No segundo capítulo, Espiritualidade: um caminho de transformação!, se afirma que a espiritualidade é beber do próprio poço, e que se ela não está inserida na caminhada de libertação do povo e ao mesmo tempo fincada na tradição bíblica e eclesial, nada será, não terá nenhuma importância. Neste capítulo apresenta a Fábula do Ser Humano. Explica os significados de mística e espiritualidade. Apresenta uma canção de sua autoria, em parceria com um cantador paulista, Lula Barbosa: Vou fazer uma oração, que tem o refrão “no chão da vida nasce o povo de Deus, no Deus da vida nasce o povo dos céus!”.
No terceiro capítulo, Juventude: um processo de educação na fé!, Emerson Sbardelotti diz que no processo de educação na fé, a juventude parte sempre da realidade em que vive, em que está inserida, na qual há uma sensibilização e testemunho em atividades de massa. Pedagogicamente é quando acontecem as etapas da formação de um grupo de jovens da base: a convocação, a nucleação, a iniciação e a militância.
No quarto capítulo, Espiritualidade da Libertação, o que é?, se apresenta a Espiritualidade da Libertação enquanto viés da espiritualidade de Jesus de Nazaré que fez a opção radical pelos pobres, solidarizando-se com eles, amando-os em profundidade, portanto, libertando-os das prisões (religiosas, sociais, econômicas e políticas) que não os deixavam ser seres humanos. A Espiritualidade da Libertação é útil, oportuna e necessária!
No quinto capítulo, Espiritualidade Juvenil, o que é?, o autor apresenta o depoimento de vários/as jovens durante o papado de Bento XVI e no início do papado de Francisco, para que respondessem a pergunta que dá título ao capítulo. As respostas são variadas e refletem o cenário vivido em ambos os papados. E afirma que a Espiritualidade Juvenil é uma realidade em desenvolvimento e em construção, que brota das entranhas do Povo Santo de Deus.
No sexto capítulo, Caminhos de uma Ecoespiritualidade à serviço da vida: um novo paradigma!, Emerson Sbardelotti diz que a espiritualidade passou e ainda passa por uma grande crise: a ecológica. A ecoespiritualidade pode ser teológica ou não, porém exige de nós uma ética e uma verdadeira conversão, pois mexe com nossos desejos consumistas e modifica nossos valores. O capítulo encerra-se com a oração do Credo da Ecologia Total de D. Pedro Casaldáliga.

Conclui-se que todos/as nós carregamos nas costas uma pergunta fundamental: qual é o sentido na nossa existência? Ela ganha um contorno novo quando uma crise se abate sobre a sociedade, sobre a Igreja, sobre a família, sobre a humanidade. Numa situação de crise o sagrado retorna com força, pois, na medida em que o cotidiano e a história não trazem as respostas que queremos ouvir, começa-se a apelar para o sobrenatural. A Espiritualidade da Libertação Juvenil de Emerson Sbardelotti está aí para fazermos fincar ainda mais os pés no chão.

REPORTAGEM DE A GAZETA E NOTÍCIA AGORA - 24 DE JUNHO DE 2015 - VITÓRIA/ES



segunda-feira, 1 de junho de 2015

ESPIRITUALIDADE DA LIBERTAÇÃO JUVENIL


ESPIRITUALIDADE DA LIBERTAÇÃO JUVENIL
CEBI
2015

PEDIDOS SOMENTE PELO SITE www.cebi.org.br

segunda-feira, 30 de março de 2015

A IGREJA DOS POBRES HOJE!

A IGREJA DOS POBRES HOJE!





Estive presente na celebração dos 35 anos de martírio de Dom Oscar Romero, na Casa de Oração do Povo da Rua, próximo a estação Luz, em São Paulo. E sendo simples e singela, esta celebração mexeu muito comigo, por isso me atrevi a escrever estas palavras.
Há muitas pessoas na Igreja, que pedem para que não se fale mais de mártires. 
Isso é um absurdo!
Nossa Igreja latino-americana é martirial, ela foi erguida em solo encharcado de sangue das vítimas. 
Quantas pessoas precisaram morrer para que o povo tivesse um mínimo de dignidade?
No ano de 1980 em que Dom Oscar Romero foi assassinado, eu fazia a minha primeira comunhão. 
Aquilo me marcou profundamente, e me fez ver qual Igreja eu iria servir pelo resto da vida, assumindo todas as consequências por isso: a Igreja dos Pobres.
A Igreja dos Pobres é fruto de longa reflexão durante o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), capitaneada por bispos de várias partes do mundo, a maioria eram bispos do terceiro mundo, que estavam numa certa marginalidade institucional pois eram pouco familiares em Roma. Nasceu já na primeira sessão do Vaticano II e alcançaria no passar dos anos um total de 86 padres conciliares, apesar de nunca ter o status oficial no Concílio. O grande sonho não realizado era o de constituir um secretariado oficial ligado à pobreza. Porém, sua atuação nas margens da redação dos esquemas e textos conciliares foi muito significativa, pois se empenhou em colocar no coração de todo o processo conciliar as questões do apostolado dos pobres e da pobreza da Igreja. O tema da pobreza atraia e congregava sensibilidades diversas, que mesmo entre tensões, se completavam, mantendo a coesão do grupo.
Dom Helder Camara era o maior expoente brasileiro deste grupo. Vindo do Brasil e da América Latina e Caribe, denunciava o subdesenvolvimento no qual estava mergulhado o continente latino-americano, subdesenvolvimento acompanhado de ditaduras militares financiadas por capital estadunidense, que acentuavam os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres!
O grupo Igreja dos Pobres atuou como um lugar de debate para tudo aquilo que a redação dos esquemas não conseguia absorver. Foi assim que nasceu o Pacto das Catacumbas da Igreja Serva e Pobre.
Segundo José Oscar Beozzo, ao final da quarta sessão, o grupo mais permanente de 39 bispos, em concelebração discreta na Catacumba de Santa Domitila, no dia 16 de novembro de 1965, selou um compromisso com a pobreza e o serviço aos pobres, firmando o chamado Pacto das Catacumbas. Esse compromisso recolheu a assinatura de mais de 500 padres conciliares.
No dia 16 de novembro de 2015, o Pacto das Catacumbas fará 50 anos que foi firmado, assinado e vivido por muitos bispos, padres, religiosos, religiosas, leigos e leigas. É preciso reler este Pacto e ver onde estão as Catacumbas do Século XXI! É preciso reler este Pacto e se comprometer uma vez mais com as causas dos Pobres nas causas do Reino.
A Igreja dos Pobres está aí, mais viva do que nunca, não mais tão falada como antigamente, mas presente em várias lideranças que não se cansam de lutar por um outro mundo novo e possível; por uma comunidade eclesial de base, onde todos/as se conheçam e celebram a vida, a morte e a ressurreição do Moreno de Nazaré, e querem seguir os passos do Mestre, dentro de sua pedagogia e prática libertadora, assumindo todos os riscos que a caminhada irá oferecer. Todos, todas, sabem muito bem que não há como fugir da cruz para obter a salvação.
A Igreja quando é perseguida, é mais profética, mais cheia de vida!
Quando ela está acomodada, inerte, não cria problema nenhum para quem oprime e extermina!

Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

domingo, 8 de março de 2015

NÃO FAÇAIS DA CASA DE MEU PAI UMA CASA DE NEGÓCIOS

NÃO FAÇAIS DA CASA DE MEU PAI UMA CASA DE NEGÓCIOS



Pra início de conversa

Neste terceiro domingo da quaresma, o Evangelho de João 2,13-25, nos situa na época em que Jesus sobe a Jerusalém pois a Páscoa dos judeus estava próxima. João coloca o relato, ao contrário dos Evangelhos Sinóticos, no início do ministério de Jesus. 
Em 19 a.E.C., Herodes Magno iniciou a ampliação e a reforma do templo que, no tempo de Jesus, ainda não estavam concluídas. Somente em 64 E.C., 6 anos antes do santuário ser arrasado pelos romanos, as obras terminaram. Suas imponentes pedras impressionaram os discípulos de Jesus (cf. Mc 13,1).
O templo era, ao mesmo tempo, um centro econômico, político, judiciário e religioso.
Ele se tornou o tesouro nacional. Era um verdadeiro banco onde os mais abastados guardavam suas riquezas, bem como a lista de seus devedores. Para ele convergia quase toda a economia do país. 
O templo cobrava dízimos, impostos, taxas e ofertas. Vejamos:
* Dízimo (10%) sobre a colheita que devia ser entregue ao templo sob a forma de produtos ou equivalente em dinheiro.
* O dízimo trienal para os necessitados.
* Um imposto para a manutenção do templo, dos sacrifícios, das reformas, bem como para manter os encarregados pelo culto.
* Muitos sacrifícios deveriam ser oferecidos no altar do templo, especialmente por ocasião das festas de peregrinação. Jesus vai em peregrinação para Jerusalém.
* Havia ainda as ofertas voluntárias que eram entregues aos sacerdotes ou depositadas num cofre para coleta.
Juntando os custos dos impostos a Roma com os do templo, pagava-se em tributos em torno de 65% de toda a produção. De fato, os impostos eram pesados. Até mesmo Jesus não pagava em dia o imposto devido ao templo.
Para se ter um ideia da quantidade de sacrifícios públicos que se ofereciam no templo, lembramos que eram consumidos, em apenas um ano, 1093 cordeiros ou cabritos, 113 touros e 32 bodes.
Ofereciam-se diariamente dois cordeiros de um ano como sacrifício perpétuo a YHWH. Um pela manhã e outro pela tarde. Os romanos obrigaram a oferecer, a cada dia, mais um em sacrifício a Deus pelas intenções do imperador. Além disso, havia oferta diária de inúmero sacrifícios particulares.
Do ponto de vista político e jurídico, o templo era central, porque ali funcionava o supremo tribunal - Sinédrio -, centro do poder judaico.
Em nível ideológico, seu poder de influência sobre o povo era grande. Por um lado, porque ali se ofereciam os sacrifícios, através dos quais os sacerdotes realizavam a mediação entre Deus e o povo.
O poder de influência do templo sobre o povo era grande por causa da sua força de controle sobre a vida das pessoas. É que os sacerdotes determinavam os graus de pureza ou impureza de maior ou menor proximidade de Deus. Assim, justificavam toda a estratificação social a partir da religião do templo.
Se o templo era o núcleo central do Judaísmo, convém lembrar que, por extensão, a cidade de Jerusalém era o centro político e espiritual do povo judeu. No tempo de Jesus, tinha em torno de 50 mil habitantes. Mais de um terço deles dependia das atividades normais do templo e das obras de ampliação.
Nas grandes festas de peregrinação, a população de Jerusalém chegava a triplicar. Eram nessas ocasiões que o procurador romano na Judeia e na Samaria deixava sua residência em Cesareia marítima, para comandar diretamente o controle de qualquer tumulto ou revolta em Jerusalém. Os romanos sabiam que a expectativa popular da vinda de um Messias era muito grande, especialmente por ocasião das festas.
Dai por que era importante reforçar as legiões de soldados na capital.

Atualizando a mensagem

     Este é o episódio conhecido como a purificação do templo. Representa, porém, um giro decisivo no relato da vida de Jesus. Em Jerusalém, Jesus entra pela primeira vez. É a cidade em que está predestinado a sofrer e morrer.
Como todo judeu piedoso, Jesus também tinha um sentimento de apreço pelo templo. Terá se dirigido para lá algumas vezes, por ocasião das festas de peregrinação. Os Evangelhos Sinóticos narram a subida ao templo já em sua derradeira Páscoa. No Evangelho de João, há referências a quatro subidas de Jesus ao templo.
Diante de tudo o que significava o templo na vida do povo, Jesus toma uma posição. Não fica neutro. E foi sua postura profética diante desse centro religioso, político e econômico a principal razão por que o Sinédrio decidiu sua morte.
Jesus percebeu que o templo havia sido transformado em idolatria. A maioria das elites já não praticava o culto  verdadeiro ao Deus da vida. Mas o que ditava todo o funcionamento do templo eram seus interesses econômicos. O culto do templo girava em torno do comércio. Já não estava mais, em primeiro lugar, para o culto a Deus, mas para o ídolo dinheiro. O dinheiro e Deus são incompatíveis! Um cria egoísmo, acúmulo e morte. O outro é a fonte do amor, da partilha e da vida.
Jesus denuncia a pior das formas de idolatria que é colocar o Deus da vida a serviço da opressão econômica e política. Por isso denuncia o templo como instituição que não produz frutos de vida para seu povo.
Desmascara esse sistema idolátrico, propondo eliminar a idolatria do templo. Só então seria possível o verdadeiro culto a Deus no santuário.
O incidente pode ter sido em torno de um ano antes de sua prisão. Foi essa atitude que pode tê-lo tornado mais conhecido e provocado preocupações nas autoridades.
Teria sido um ato planejado pelo movimento de Jesus, algo organizado antes. Pois seria impossível tomar tal atitude num templo com tamanha segurança.
Sua ação se desenvolve em quatro partes:
> Começou a expulsar os que compravam e vendiam.
> Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas.
> Espalhou o dinheiro (moedas tírias) dos cambistas e não deixou que carregassem através do templo.
> Ensinou-lhes.
O fato de ninguém prender Jesus naquele momento é sinal de que havia mais gente envolvida.
Pode ter sido depois do episódio do templo, que Jesus teria vivido na clandestinidade, pois era perigoso andar em público. As autoridades estavam decididas eliminá-lo fisicamente.
A ação no templo é descrita pelos quatro evangelistas (pelos sinóticos, no contexto da Paixão; por João, no início da atuação de Jesus), o que atesta a importância deste episódio para a comunidade primitiva. De igual importância é o dito sobre a destruição do santuário, que João apresenta em conexão com a ação no templo e os demais evangelistas em outros contextos.
Como diz o velho ditado: "a primeira impressão é a que fica!". Jesus não gostou do que viu, não concordou e tomou uma atitude que desagradou e incomodou no passado  e que incomoda bastante hoje em dia também. Pois o que Jesus viu não era raro de se acontecer, dia após dia, a mesma cena acontecia na frente de todo o povo. Era preciso fazer algo. Jesus o fez! E assumiu todas as consequências do ato.
"O zelo da tua casa me devorará!". Assim sentiu e falou o profeta no Primeiro Testamento. Assim agiu Jesus no Segundo Testamento.
A limpeza, a faxina que Jesus promoveu é para restaurar o significado de casa de Deus. A casa de Deus é para ser entendida como lugar do anúncio da Palavra, e não para fazer dela uma mercadoria, um comércio.
Ao falar da destruição do templo, ele fala da destruição de tudo que aprisiona o povo, de tudo que afasta o povo de Deus, de tudo que extermina o povo.
O corpo ressuscitado de Jesus é o novo templo. Não é um local que nos define, mas uma Pessoa.
A celebração deve estar ligada à vida cotidiana. Pois para Jesus, o sagrado, o religioso, a celebração deveria ser a extensão da própria vida.
A iniciativa de Jesus é a ação de alguém que se une a seu povo em solidariedade, e e esta iniciativa percorre todo o seu projeto de vida, levando-o até as últimas consequências: a morte na cruz!

Nesta semana que se inicia onde está o nosso coração? No Deus vivo que quer o nosso bem, que nos ama e espera que construamos uma sociedade mais justa e fraterna, ou numa prática mercantil e comercial do sagrado para obter resultados imediatos a qualquer preço?

De qual lado nós estamos? Do lado dos vendedores e das mercadorias? Ou da religião verdadeira que tem um projeto claro de libertação?

Ainda há tempo para você escolher a melhor opção!


Emerson Sbardelotti

Mestre em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O CUIDADO ESTÁ PRESENTE?

O CUIDADO ESTÁ PRESENTE?



Outro dia numa assessoria sobre Espiritualidade da Libertação Juvenil e Ecologia, uma jovem, me perguntava: "Estamos vivendo um caos em São Paulo, caos este já vivido e experimentado a anos por nossas irmãs e irmãos nordestinos, que é a questão da falta da água. Essa falta é resultado de não cuidarmos direito dos recursos naturais do planeta Terra e o que isso influencia na nossa espiritualidade?".
Não só do descaso em cuidarmos direito dos recursos naturais da Terra, mas também do descaso em cuidarmos de nós mesmos, uns dos outros. Um cuidar está ligado ao outro cuidar.
Há dois paradigmas para entendermos tal problemática: o primeiro é o da conquista - desde o século XVI até os dias atuais: conquistar terras, conquistar povos, conquistar tudo o que é possível no planeta inteiro foi a ordem bem obedecida, porém se conquistou devastando a Terra e todos os seus recursos e exterminando seus povos, de tais conquistas vieram o caos, sob o nome de mudanças climáticas. Ela é um organismo vivo, se ela morre, morreremos com ela. O oposto ao paradigma da conquistá é o paradigma do cuidado! O cuidado cura as feridas passadas e impede as feridas futuras, é uma relação amorosa, protetora com a Natureza, uma nova forma de organizar a nossa relação com a Terra. O cuidado derruba muros e barreiras e constrói pontes.
Nos últimos 50 anos, por exemplo, o cuidado esteve presente em nossas relações afetivas? O cuidado esteve presente nas nossas relações pastorais, comunitárias e em sociedade?
Infelizmente, precisaremos reconhecer que muitas foram as vezes que o egoísmo e o individualismo levantou muros e barreiras, e há em nosso meio, várias pessoas que querem manter isso em evidência.
O cuidado com o próximo, com a Natureza é urgente e necessário.
Do cuidado dependerá nossa sobrevivência.
E cuidar se inicia nas pequenas coisas: um bom dia, um boa tarde, um boa noite, por favor, como vai, sente-se aqui, deixa que eu pego para você...
E vai se estendendo no desenrolar dos dias.
Conversando outro dia com uma amiga, que não via a cinco anos, ela me dizia, que havia saído do estado onde ela morava e tinha ido morar em outro estado, envolvida com uma pessoa, e o relacionamento acabou não dando certo e precisou retornar para a sua terra natal; foi recebida com muito carinho e amor por seus familiares, mas não teve a mesma acolhida na Pastoral da Juventude, nem no grupo da paróquia de origem, nem pela equipe diocesana, o que a desmotivou em continuar se doando por esta pastoral social. Ela me disse que não queria voltar para os cargos que tinha quando precisou sair, nem tomar o lugar de ninguém no grupo de base ou na coordenação diocesana, ela só queria ter sido bem acolhida, e não o foi. Ela me confidenciou: "Quando eu estava no outro estado, viviam me mandando mensagens, dizendo que eu estava fazendo falta, que estavam com saudades, e que eu era importante para a caminhada. Agora que estou aqui, não sou convidada para nenhuma reunião, nenhum encontro e naqueles que consegui ir, via que os/as coordenadores/as estavam incomodados/as com a minha presença. Eu me doei tanto por esta pastoral, e a amo ainda, mas não vou ficar em um lugar que não me acolhem, falam de mim pelas costas, me caluniam, e não me aceitam como eu sou!".
Fiquei preocupado com esse desabafo, pois, acredito, que essa não é uma situação isolada, ela tem acontecido com outras pessoas, com outros/as jovens, em todos os cantos do país.
Vi claramente nesta fala sofrida, que ela ainda ama a PJ, mas não dará mais prioridade para a mesma por falta do afeto, por falta do carinho, por falta da atenção que não dispensaram a esta liderança. Somos seres de toque, somos seres de encontro e de diálogo, porém, quando o respeito não se faz presente, o cuidado desaparece e todos, todas nós sofremos.
Quantos participantes de grupos de jovens, militantes e assessores não estão na mesma situação desta minha amiga? Sentem que podem ajudar, que podem colaborar, mas por não serem acolhidos como deveriam, ou por serem mal interpretados, são colocados para escanteio, muitas vezes, por ciúmes e inveja. É preciso estar atento a isto. Uma pastoral, uma comunidade que não cuida dos seus colaboradores não é pastoral, não é comunidade. Uma pastoral, uma comunidade que não se preocupa com aquele, aquela que se afastou, por inúmeros motivos, não é pastoral, não é comunidade. Uma pastoral, uma comunidade, que se preocupa mais com o poder do que com o bem viver de todos os seus membros não é uma pastoral, não é comunidade. O Moreno de Nazaré procurou sempre em sua vida mostrar que unidos, juntos, eram mais fortes, mesmo sendo tão diferentes. Eis o segredo de uma pastoral, de uma comunidade, de uma Igreja forte: conviver com as diferenças. Uma Igreja que se quer mais humana, mais pobre, portanto, mais viva e profética deve cuidar para que haja de fato uma harmonia, diálogo, encontro e respeito. É a grande demonstração de cuidado.
Por querer cuidar da Natureza eu escrevi assim:

SABER CUIDAR

o ser humano é o responsável
pela sobrevivência do planeta
ele não é apenas mais um animal
não está acima do bem ou do mal

e a chuva cai sem parar
e a enchente já levou tudo
levou os sonhos e a esperança
só ficou o choro da criança

saber cuidar...saber cuidar...
é o que a canção pode ensinar...

até quando por erros iremos pagar
por aquilo que não compramos
que de graça recebemos
e que ainda não sabemos amar

o ser humano é o responsável
pela paz e felicidade das nações
pela sustentabilidade da Terra
pela bela e pela fera

saber cuidar...saber cuidar...
é o que a canção pode ensinar...

Somos todos, todas responsáveis por tudo aquilo que fazemos de bom ou de mal a nós mesmos e a Terra.
Somos todos, todas responsáveis pelo cuidado em nossas Comunidades Eclesiais de Base, em nossas Pastorais da Juventude, em nossas relações profissionais, em nossas relações afetivas.
A ética do saber cuidar é uma ética do ser humano em compaixão pela Terra.
Saber cuidar é olhar o mundo e as pessoas com o mesmo olhar do Moreno de Nazaré.
Saber cuidar é fazer valer a opção pelos pobres, pelos jovens, que continua atual e necessária, pois o Povo de Deus, ainda passa sede, fome, é exterminado, é excluído, é marginalizado.
Saber cuidar é fazer do sonho do outro mundo possível uma realidade.
Saber cuidar é abraçar todos os dias a quem não se conhece, mas que está ali, do seu lado, pedindo a sua atenção, o seu carinho.
Saber cuidar é abraçar todos os dias a quem não está mais na mesma caminhada, no mesmo grupo, na mesma pastoral, levando carinho e atenção.
A ecoespiritualidade do cuidado exige de nós, seres humanos uma atitude de oração e ação. Oração é apenas oração. Não é pedido, não é agradecimento, apenas oração. Deixar Deus falar e ouvir em silêncio. Aprenderemos a cuidar um pouco melhor de nós, das outras pessoas e da Criação.
Essa ação por que dela se inicia uma caminhada que o levará ao martírio.
E com o sangue de nossos/as mártires não se brinca!
Saber cuidar é aceitar de coração aberto as críticas que são feitas. Afinal, quem não aceita críticas não serve para trabalhar em equipe, não pode estar na pastoral nem na comunidade.
Saber cuidar é realizar o sempre novo mandamento dado pelo Moreno de Nazaré: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!".
Saber cuidar é saber amar.
Quem cuida ama.
Quem ama cuida.

Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Assessora grupos de jovens nas áreas de mística e espiritualidade.

ESPIRITUALIDAD DE LA LIBERACIÓN JUVENIL

Ameríndia Continental em dezembro de 2014 publicou em seu site oficial o meu mais novo livro. Abaixo segue o prefácio feito pelo querido amigo e irmão Marcelo Barros.
O original em português será publicado pelo CEBI.
Vamos aguardar.

Abreijos com fraternura.

Emerson Sbardelotti


ESPIRITUALIDAD DE LA LIBERACIÓN JUVENIL - Emerson Sbardelotti

Prefacio

Invitación para una aventura

Marcelo Barros

Todo libro es una conversación entre el autor y las personas que lo leen. Algunos libros hacen eso tan bien que tú te sientes como en una rueda de diálogo,  aunque, en el libro, no se puedan responder las preguntas que surgen. Algunos autores tienen el don de conducirnos por un viaje de descubrimientos y nuevas experiencias. Tu que, ahora, tomas este libro en tus manos sobre “Espiritualidad juvenil liberadora” debes saber que, con el, puedes entrar en una bella aventura, pero exigente. Esta aventura es narrada de tal modo, que tú puedes sentirte parte de la historia. A través de una reflexión que rescata varios textos sobre Teología de la Liberación y Espiritualidad, Emerson Sbardelotti nos invita a profundizar una Espiritualidad Liberadora, a partir de la realidad y de la sensibilidad de la juventud actual.

Espiritualidad no es un término bíblico. Fue San Gregorio de Nissa, padre de la Iglesia en el siglo IV, que tradujo en griego pneumatiké por la palabra latina spiritualitas y la explicó con una expresión del cuarto evangelio: “es una vida dirigida por el Espíritu”.

Durante muchos siglos, en las Iglesias cristianas, la Teología consideraba la Espiritualidad como la práctica de algún tipo de  devociones o experiencias místicas particulares. Aunque se respetaron las diversas escuelas y tratados de espiritualidad, no se asumía como un tema importante. Fue la Teología de la Liberación, en América Latina, que rescató la Espiritualidad como el corazón del eje principal e la práctica teológica y pastoral. Fueron teólogos latino-americanos, como Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff e Jon Sobrino, que recordaron expresiones de los padres de la Iglesia Oriental, en el siglo IV y afirmaron: “La teología debe comenzar  a practicarse de rodillas, esto es, una actitud de oración y afecto espiritual”. Desde los años 80, eso provocó varios libros específicos sobre Espiritualidad de la Liberación, algunos de los cuales ustedes encontrarán citados y comentados aquí en los capítulos del libro de Emerson Sbardelotti.

Es como experimentar la búsqueda y profundizar en la intimidad de Dios, alcanzada por los cristianos siguiendo a Jesús, en el camino amoroso. Sin embargo, la propuesta es vivir esto plenamente sumergidos/as con el compromiso de la liberación de los labradores, indios, comunidades afrodescendientes, trabajadores urbanos, desempleados, la población empobrecida de las zonas suburbanas, así como en la lucha de las mujeres, de las minorías sexuales (LBGT) por la igualdad de los derechos y la plena liberación. Esta Espiritualidad Liberadora no puede ser la excepción, una especie de agregado a las luchas de la liberación. Tanto las luchas de liberación cambian e influencian en el modo de vivir la Espiritualidad, como esta nos da una contribución específica y propia a la caminata social y política transformadora. La propuesta es que la caminata de la liberación se constituya, en sí misma, como camino de intimidad con la energía amorosa que las religiones llaman de Dios y a la cual Jesús se refería como “Padre de amor maternal” y que, al mismo tiempo, esa opción de fe y de amor se traduzca en una nueva manera de vivir el compromiso social y político liberador. Está claro que esto no es un proceso espontáneo, ni se da apenas por alguna teoría revolucionaria a ser probada. Es un camino místico e íntimo (lo que no quiere decir que intimide) a ser desenvuelto en lo concreto del día a día y esto pide un método y un cuidado que tiene que ser permanentemente cultivado y desenvuelto.

Al abordar la Espiritualidad de la liberación, siempre tenemos que referirnos al modo histórico de como Jesús vivía su fe y su relación con el Padre y  de su proyecto en el mundo. En esta línea, este libro está situado en la grande y bella tradición de la teología latino-americana y de la espiritualidad de la liberación que siempre se caracterizó por estar profundamente centrada en un Jesús histórico ..  De manera diferente de la teología europea que contrapone un Jesús histórico al Cristo de la fe, los escritos de la caminata de la liberación reconocen esa distinción, pero no se preocupan tanto con eso y si en, partir de la realidad presentada en los evangelios y recuperar la densidad teológica y espiritual de Jesús de Nazareth para nuestro modo de ser cristiano aquí y ahora, en la realidad concreta del continente latino-americano.

De hecho, para quien todavía piensa a los místicos como personas aéreas y con una sensibilidad diferente de los seres humanos como tú y yo, es satisfactorio este escrito y, por detrás de las palabras, ver el testimonio de fe y vida de este hermano que nos regala ese libro. Conocí a Emerson Sbardelotti aún joven en  Vitória, ES, comprometido en la Pastoral de la Juventud e en el CEBI. Desde el principio, sentí su sensibilidad que vibraba con la caminata de la Iglesia en el medio de los oprimidos. El martirio de Don Oscar Romero  y el testimonio de la Iglesia de los pobres lo tocaron de forma profunda y movilizadora. Leí los dos libros que Emerson escribió anteriormente. Ahora, él nos ofrece una reflexión sobre la Espiritualidad de la Liberación Juvenil. Parte de la realidad de la juventud actual y del proceso de educación de la fe. Refleja las relaciones entre una espiritualidad presente en la caminata de la juventud y la Espiritualidad de la liberación. Y encierra la reflexión con un capítulo sobre la Eco espiritualidad, camino para nosotros y para las Iglesias.

Como toda buena reflexión teológica latino-americana, ese libro parte de la práctica. Emerson entrevistó varios jóvenes sobre el tema. Empezó a escribir el libro en un congreso de teología y lo finalizó en un encuentro sobre la espiritualidad liberadora y juventud. Seguramente, el maestro Don mestre Hélder Câmara, se quedaría feliz al leer este libro. El predicaba: “El Espíritu Divino dio al ser humano el poder y la responsabilidad  de no conformarse con el sufrimiento y con el dolor inocente, pero, al contrario, nos enseñó a luchar contra la injusticia. Este es nuestro deber.”  .

A ti que ahora vas a aventurarte en estas páginas, el libro te invitará a vivir el compromiso liberador en el seguimiento actualizado de Jesús. Seas de la Iglesia que seas, o aunque actualmente, no pertenezcas a ninguna creencia, al meditar sobre la espiritualidad liberadora juvenil, descubre como vivir el aprendizaje de un amor universal. En un mundo cada vez más pluralista, la espiritualidad liberadora debe hacer de cada uno/a de nosotros, un “ser humano universal”, como sugería el padre Ernesto Balducci, filósofo italiano. Él nos enseñaba que los profetas y los místicos ya viven, de lo particular, a lo universal pluralista. Que Dios realice en nosotros lo que afirmaba Ibn Arabi, místico islámico del siglo XII: ‘Así es el hombre universal, que lleva en él la semilla de todos los seres y es capaz de abarcar toda la verdad”. Sin duda, quien es joven recibe, más que un adulto ya formado en sus costumbres de vida, esa vocación y apertura a lo humano y al universo.


Y a ti que empiezas ahora a leer, buena lectura y, principalmente, que esas palabras se vuelvan realidad en tu forma de vivir, de relacionarte y de actuar. De esta manera, nos volvemos cada vez más humanos como Jesús. Ese proceso no es el resultado del esfuerzo humano. Es la gracia divina. Pero, para recibirla, precisamos dejarnos llevar por el Espíritu que “sopla donde quiere, se escucha su voz, pero no se sabe a dónde va ni de donde viene”. A  nosotros, cristianos, él susurra  el nombre de Jesús. Pero, nos lleva también a otros nombres que son sinónimos de amor y paz, en las más diferentes religiones y en las más diversas culturas. Que riqueza. Ningún mortal puede amordazar el viento. Como, en el siglo IV, escribió Agostinho: “Señálenme alguien que me ame y el sentirá lo que estoy diciendo. Dame alguien que desee, que camine en este desierto, alguien que tenga sed y suspire por la fuente de la vida. Muéstrame esa persona y ella sabrá lo que quiero decir”.

Para baixar o livro em pdf gratuito acesse:

http://www.amerindiaenlared.org/biblioteca/6593/espiritualidad-de-la-liberacion-juvenil--emerson-sbardelotti