segunda-feira, 30 de março de 2015

A IGREJA DOS POBRES HOJE!

A IGREJA DOS POBRES HOJE!





Estive presente na celebração dos 35 anos de martírio de Dom Oscar Romero, na Casa de Oração do Povo da Rua, próximo a estação Luz, em São Paulo. E sendo simples e singela, esta celebração mexeu muito comigo, por isso me atrevi a escrever estas palavras.
Há muitas pessoas na Igreja, que pedem para que não se fale mais de mártires. 
Isso é um absurdo!
Nossa Igreja latino-americana é martirial, ela foi erguida em solo encharcado de sangue das vítimas. 
Quantas pessoas precisaram morrer para que o povo tivesse um mínimo de dignidade?
No ano de 1980 em que Dom Oscar Romero foi assassinado, eu fazia a minha primeira comunhão. 
Aquilo me marcou profundamente, e me fez ver qual Igreja eu iria servir pelo resto da vida, assumindo todas as consequências por isso: a Igreja dos Pobres.
A Igreja dos Pobres é fruto de longa reflexão durante o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), capitaneada por bispos de várias partes do mundo, a maioria eram bispos do terceiro mundo, que estavam numa certa marginalidade institucional pois eram pouco familiares em Roma. Nasceu já na primeira sessão do Vaticano II e alcançaria no passar dos anos um total de 86 padres conciliares, apesar de nunca ter o status oficial no Concílio. O grande sonho não realizado era o de constituir um secretariado oficial ligado à pobreza. Porém, sua atuação nas margens da redação dos esquemas e textos conciliares foi muito significativa, pois se empenhou em colocar no coração de todo o processo conciliar as questões do apostolado dos pobres e da pobreza da Igreja. O tema da pobreza atraia e congregava sensibilidades diversas, que mesmo entre tensões, se completavam, mantendo a coesão do grupo.
Dom Helder Camara era o maior expoente brasileiro deste grupo. Vindo do Brasil e da América Latina e Caribe, denunciava o subdesenvolvimento no qual estava mergulhado o continente latino-americano, subdesenvolvimento acompanhado de ditaduras militares financiadas por capital estadunidense, que acentuavam os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres!
O grupo Igreja dos Pobres atuou como um lugar de debate para tudo aquilo que a redação dos esquemas não conseguia absorver. Foi assim que nasceu o Pacto das Catacumbas da Igreja Serva e Pobre.
Segundo José Oscar Beozzo, ao final da quarta sessão, o grupo mais permanente de 39 bispos, em concelebração discreta na Catacumba de Santa Domitila, no dia 16 de novembro de 1965, selou um compromisso com a pobreza e o serviço aos pobres, firmando o chamado Pacto das Catacumbas. Esse compromisso recolheu a assinatura de mais de 500 padres conciliares.
No dia 16 de novembro de 2015, o Pacto das Catacumbas fará 50 anos que foi firmado, assinado e vivido por muitos bispos, padres, religiosos, religiosas, leigos e leigas. É preciso reler este Pacto e ver onde estão as Catacumbas do Século XXI! É preciso reler este Pacto e se comprometer uma vez mais com as causas dos Pobres nas causas do Reino.
A Igreja dos Pobres está aí, mais viva do que nunca, não mais tão falada como antigamente, mas presente em várias lideranças que não se cansam de lutar por um outro mundo novo e possível; por uma comunidade eclesial de base, onde todos/as se conheçam e celebram a vida, a morte e a ressurreição do Moreno de Nazaré, e querem seguir os passos do Mestre, dentro de sua pedagogia e prática libertadora, assumindo todos os riscos que a caminhada irá oferecer. Todos, todas, sabem muito bem que não há como fugir da cruz para obter a salvação.
A Igreja quando é perseguida, é mais profética, mais cheia de vida!
Quando ela está acomodada, inerte, não cria problema nenhum para quem oprime e extermina!

Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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