sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

"ARREPENDEI-VOS E CREDE NA BOA NOTÍCIA."

ICJ/ES – INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA


1º. DOMINGO DA QUARESMA – 01.03.2009


“ARREPENDEI-VOS E CREDE NA BOA NOTÍCIA.”


“Lavai-vos, purificai-vos, a maldade de vós tirais. O mal deixeis de lado, vosso olhar ao bem voltai.” Márcio Pimentel (La Paz – Bolívia), CD Em Cantar, 2005.

Para início de conversa


Neste primeiro domingo da Quaresma, o Evangelho pode ser dividido em dois momentos: 1. Jesus no deserto: a tentação. 2. Jesus na Galiléia: “o tempo se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e creiam no Evangelho”.
O Espírito, do qual Jesus está repleto, o impulsionara para o deserto; o Filho de Deus se deixa levar pelo Espírito. Acreditamos que todos, todas, que se deixam levar pelo Espírito de Deus, são filhos e filhas de Deus.
O deserto é o lugar de encontro com Deus, é o local onde se experimenta Deus.
A cada passo que damos ao proclamarmos e refletirmos o Evangelho, a obra vai revelando quem é Jesus. É na Quaresma que temos a oportunidade de fazermos uma revisão de vida para conhecermos e entendermos o que significa ser cristão hoje em dia, e qual a nossa missão enquanto membros da comunidade eclesial?
As primeiras palavras de Jesus, o seu programa, a sua pedagogia e sua prática libertadora aparece no Evangelho de Marcos a partir de uma vaga indicação de tempo: a prisão de João Batista; de espaço: ele se dirigiu do deserto, onde pode fazer o discernimento de sua missão, para a Galiléia onde segundo o texto bíblico proclamou a boa notícia de Deus.
O Evangelho de hoje, é um apelo e um convite para entrarmos no deserto de nossa solidão; para o nosso retorno à consagração do reino, deixando-nos seduzir e conduzir pelo Espírito.

Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Mc 1, 12 - 15.

Jesus foi para o deserto, inspirado pelo Espírito Santo para fazer um discernimento, quando retorna de lá se encaminha para a Galiléia onde dará início ao seu plantio da boa notícia. Ele mesmo confirma: “Cumpriu-se o prazo e está próximo o reinado de Deus: arrependei-vos e crede na boa notícia.”
O Evangelho está cheio de simbologia: “Imediatamente o Espírito o levou ao deserto, onde passou quarenta dias, posto à prova por Satanás.” O deserto é o local do encontro com Deus: os 40 dias fazem memória do tempo que durou o dilúvio e da nova humanidade que surge com a família de Noé; Israel foi provado durante 40 anos; Moisés esteve na montanha jejuando durante 40 dias e 40 noites para receber a Primeira Aliança; Elias permaneceu 40 dias na montanha, depois provocou mudanças radicais no Reino do Norte com a profecia inspirada por Deus. Podemos concluir que em Jesus, tudo recomeça, é selada uma nova Aliança e se aproxima uma mudança muito mais radical para a vida do povo.
Nos 40 dias que permaneceu no deserto, defronta-se com o grande adversário do reino de Deus: Satanás, que significa adversário = sistemas e pessoas que são contrárias ao projeto de Deus anunciado e realizado na prática e no anúncio de Jesus.
Está próximo efetiva e afetivamente o reinado de Deus. Arrependimento e fé são alicerces da comunidade, do mutirão, que escreve o Evangelho de Marcos.
O que acontece com Jesus quando este fica sabendo que João Batista foi preso por ter incomodado a Herodes Antipas, por ter mexido com os interesses e privilégios dos poderosos?
Jesus também não se deixará intimidar pelos poderosos, pelo contrário, lutará contra todos os mecanismos que fazem brotar a morte para o povo. A prática mostrará que todos que lutam pela vida, sofrem o martírio.
A Galiléia é o chão, o lugar social onde Jesus inicia sua atividade. Uma região onde todas as culturas se misturavam, por se tratar de passagem para outros territórios e por ser terra de livre comércio, por tanto marginalizada por grande parte dos judeus que viviam nos arredores de Jerusalém, pelos saduceus, fariseus e escribas. Era lugar de gente sem valor e impura aos olhos da classe dominante. É a partir desta gente excluída que Jesus anuncia sua prática, sua pedagogia, o seu programa de vida em três momentos: 1. O tempo já se cumpriu, portanto, a espera da libertação chegou ao fim. 2. O reinado de Deus está próximo, pois seus discípulos e discípulas praticam atos libertadores continuando assim o que o Mestre anunciou e fez. 3. A conversão e a fé na boa notícia, leva a comunidade se tornar realidade e firmar um compromisso com a vida.
Eis que surge no horizonte uma pergunta que incomoda a todos, todas nós hoje: como esta Palavra pode nos ajudar a viver este tempo de Quaresma?
A Quaresma é tempo de conversão, e a conversão se realiza em dois níveis que se completam: o pessoal e o comunitário. No nível pessoal, o ser humano busca analisar a própria vida tentando reconhecer suas fraquezas para transformá-las; anseia por experimentar um relacionamento profundo com Deus e com os irmãos e irmãs, para que cresça e supere sua condição atual. No nível comunitário, tudo se transforma a partir da tomada de consciência e da responsabilidade frente as estruturas de pecado.
A paz é fruto da justiça, mas se não enfrentamos nossas tentações interiores durante toda a nossa vida, nenhum resultado encontraremos no final da estrada. A luta contra o pecado dura toda a nossa vida. A gente não luta sozinho. Estamos em comunidade, lutamos juntos, assim somos mais fortes na luta contra o mal. Ao vencermos a força do diabo, anunciamos a boa nova. A exigência é a conversão. E esta não acontece de uma hora para outra, mas se leva a vida inteira. Conversão é mudança de rumo, é sair do egoísmo e da preguiça, da ambição do poder e da riqueza, é vencer a cada dia os obstáculos e as tentações, somente assim o reino irá acontecer. É a conseqüência natural do nosso Batismo.
Lembro-me de um encontro do Conselho de Leigos, onde D. Aldo, bispo emérito da Diocese de São Mateus/ES, falava da sua vocação e da sua conversão diária: “Todos os dias, quando abro meus olhos e tenho a graça de contemplar a Criação e a vocação de servir ao povo, busco a conversão para continuar firme na caminhada. Todos os dias me coloco em xeque-mate frente a Deus e ao Povo; por causa deles todos os dias me renovo me questionando: tenho sido fiel ao reino, ao sangue dos mártires? Se sinto a menor chance de dúvida em meu coração, me ajoelho e peço que o Espírito ilumine o caminho por onde Deus me manda caminhar...todos os dias me pergunto se realmente tenho sido uma simples ferramenta na engenhosa máquina da defesa da vida? A resposta, continuo buscando estando junto com o Povo.”


Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Membro do Grupo de Assessores da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

Msn: emersonpjbes@hotmail.com
Blog: http://omisterioeautopia.blogspot.com/

Ilustração de Maximino Cerezo Marredo (http://servicioskoinonia.org/cerezo/)

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom o comentário de hoje companheiro! O testemunho do bispo é muito forte e deveria servir de exemplo pra cada um de nós.

Abraços,

Joilson.

Emerson Sbardelotti disse...

Sim, sensacional mesmo este testemunho de D. Aldo.
Sigamos fazendo o bem.

Emerson Sbardelotti