quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

"FALO CONTIGO, LEVANTA-TE, TOMA TEU LEITO E VAI PARA CASA."

ICJ/ES – INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA


7º. DOMINGO DO TEMPO COMUM – 22.02.2009


“FALO CONTIGO, LEVANTA-TE, TOMA TEU LEITO E VAI PARA CASA. ”


“E foi assim que aprendi e não esqueço jamais: eu tive pais entrevados, mas o meu lar tinha paz...” Pe. Zezinho – CD Os Melhores Momentos, Paulinas.

Para início de conversa

No Evangelho de hoje, um paralítico é levado à presença de Jesus, mas a casa onde o Mestre se encontrava, estava cheia de gente, povo de Deus, procurando escutar uma palavra de esperança, de paz e amor. O defeito físico na época de Jesus era considerado um castigo de Deus, fazendo com que a pessoa se sentisse rejeitada pela sociedade e por Deus.
A comunidade faz o memorial do confronto entre a casa e a sinagoga, entre o poder de Jesus e o poder dos fariseus e letrados. O povo já sabe que aquele carpinteiro tem autoridade muito superior a de seus líderes. Ele tem um ensinamento novo: ele expulsa o mal mais profundo (a pessoa possuída), ele toca e a febre passa (a sogra de Pedro), ele sente compaixão e por causa do seu toque a lepra desaparece. Os fariseus e os letrados dominavam a Lei, eram especialistas da Lei, mas não curavam os males que afligiam emocional e socialmente o povo.
Só Deus poderia perdoar o pecado do ser humano.
Jesus toma o caminho mais difícil: “Filho, teus pecados são perdoados.” Ele reivindica esse poder na terra, como ser humano, pois, o recebeu de Deus. E este fato o situa em pé de igualdade com Deus.
Para os fariseus e letrados, expiar os pecados deveria estar baseado num culto onde se tem necessidade de sacrifícios; que se tornava incapaz de devolver a vida. Por causa da dureza dos corações daqueles que estavam amparados na Lei, Jesus faz o mais fácil: “Falo contigo, levanta-te, toma teu leito e vai para casa.”

Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Mc 2, 1 - 12.

Em muitas passagens da Bíblia, quando se fala em impuro, vem à mente que tal indivíduo seja um pecador, alguém que cometeu alguma falha moral. Nem sempre foi assim. Nos primórdios a Lei continha nela dois sistemas: o da mancha; e o da culpa. A mancha era relativa a doenças, onde as pessoas deveriam ser separadas para se evitar o contágio. A culpa era relativa aquelas pessoas que eram censuradas por comportamento moral inadequado, de fato pecadoras. Acontece que, com o passar do tempo, esses dois sistemas se fundiram. O resultado foi desastroso: os doentes, aqueles que possuíam algum tipo de manchas ou defeitos físicos, como o paralítico do Evangelho, foram vistos como culpados de alguma coisa imoral. Isso aumentava ainda mais a rejeição e a baixa estima. Era a solução para que os poderosos, os que tinham saúde, não se preocuparem com o bem-estar daqueles em estado de necessidade. Jesus cura uma vítima dessa dupla rejeição. Ele oferece a paz para que antes que volte a andar, primeiro se volte para Deus. É o sentido da palavra religião: religar-se. No Evangelho, Jesus religa este paralítico a Deus. Jesus apresenta diante do povo e de seus líderes, um ser humano doente mas que está isento de qualquer culpa.
Os fariseus e os letrados irão acusá-lo de blasfemador, pois somente Deus tem o poder para curar. A blasfêmia era punida com a sentença capital: a lapidação. Eles analisam a prática de Jesus a partir de um passado onde não há novidade, algo que está enclausurado por Deus. Há no fundo o problema da responsabilidade assumida frente à vida e a morte do ser humano. Os fariseus e letrados nada fazem por aquele paralítico, apenas explicam a situação, não se sentem responsáveis por aquele ser, não se comprometem amorosamente com ele. Mas Jesus nos mostra que aquilo que até então se acreditava estar separado de Deus no céu, agora se faz assunto confiado ao Filho do Homem na terra: o compromisso e a defesa em favor da vida; o que será inevitável em toda a caminhada de Jesus neste Evangelho.
Os males que atingem e afligem o povo hoje, não são oriundos de Deus. Para vencer estes males é preciso muita solidariedade, para com aquele, aqueles que sofrem. O que seria do paralítico sem aqueles quatro seres humanos que o ajudaram? Que sem medo de serem vistos ou chamados de ladrões, só estes tirariam o telhado de uma casa, por amarem profundamente aquele que estava entravado numa cama, foram criativos o suficiente para que Jesus reconhecesse neles a fé que possuíam. E vai a raiz da paralisia e do preconceito: o pecado é vencido com o perdão. Este ato conjunto fez com que o caminho fosse aberto para a superação das maldades que escravizam os seres humanos. A coragem rendeu-lhe o perdão do Mestre.
A cura não está mais nos templos, nos locais sagrados, nos ritos, mas está em qualquer lugar que o ser humano venha a sofrer por causa da maldade no coração do próprio ser humano. Deus partilha em Jesus e ele conosco, a sua responsabilidade e o seu poder em favor da vida. Nada mais importa para o Deus de Jesus que não seja a vida.

EXTRA PAUPERES NULLA SALUS!

Não há salvação fora dos pobres, pois estes estão na herança de Jesus.
E nós, fazemos parte desta herança? Quantas são as vezes que pedimos perdão por nossos atos? Quantas vezes nos deixamos paralisar pela violência que contamina e assola a sociedade em que vivemos e nada fazemos? Quantas vezes somos ou fomos criativos ao ponto de arrancarmos os telhados de nosso egoísmo, de nossa mesquinhez, de nossa intolerância e jogamos fora, para longe, onde nunca mais possa ser experimentado novamente, em favor do outro que está doente mas que busca a paz?

Tive uma aluna, a alguns anos atrás que era paralítica, dependia de várias pessoas para ajudá-la a chegar na escola, a entrar na sala, para ir ao banheiro...mas, como era inteligente, como prendia a atenção de todos ao seu redor, não por estar numa cadeira de rodas, mas por seu sorriso e bondade nas palavras com todos que cruzavam seu caminho, como mantinha em seus olhos a chama insistente da vida... sem nunca culpar a ninguém por estar daquele jeito, sem nunca levantar a voz para zombar de alguém...era simplesmente repleta de paz e feliz. Que orgulho senti quando soube que havia passado em um vestibular muito tempo depois de ter terminado o ensino médio, e ainda mais por ter conseguido estar entre os três primeiros lugares, por continuar a sorrir, por continuar bondosa e com seus olhos em brasa...brasas da vida.

Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Membro do Grupo de Assessores da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

Msn: emersonpjbes@hotmail.com
Blog: http://omisterioeautopia.blogspot.com/
Ilustração de Maximino Cerezo Marredo (http://servicioskoinonia.org/cerezo/

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