segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

"SE QUERES, PODES CURAR-ME...PODES PURIFICAR-ME."

ICJ/ES – INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA

6º. DOMINGO DO TEMPO COMUM – 15.02.2009


“SE QUERES, PODES CURAR-ME...PODES PURIFICAR-ME. ”


“Existirá e toda raça então experimentará para todo o mal, a cura.” Lulu Santos – CD Toda Forma de Amor – RCA.


Para início de conversa

No Evangelho de hoje, o nome de Jesus não aparece em nenhum momento, mas está implícito como sujeito dos verbos e pronomes e, também não aparecem os discípulos, mas ele aparece acolhendo um marginalizado da sociedade de seu tempo: um leproso. Este, condenado ao isolamento, se aproxima de Jesus; de onde brotará tamanha coragem para fazer algo que estava socialmente proibido?
O leproso era afastado do convívio humano, como se fosse habitado por um mau espírito. A Lei o colocava nesta condição: impuro.
Ao tocar o leproso, Jesus rompe com a Lei; indignado, irado, com compaixão estende a mão e o toca, automaticamente, também se torna um impuro e não pode mais entrar nos povoados, transgride ele também a Lei; mas o povo também marginalizado, de toda parte vinha para procurá-lo, pois sabia, assim como o leproso que, sua vida e sua libertação, não dependiam do Templo, nem de seus sacerdotes. O poder da cura, da purificação, não vinha da religião mas sim de Jesus. O leproso e o povo se aproximam de Jesus para serem curados, mesmo que seja preciso violar a Lei. Ele se revolta contra o código de pureza, que em nome de Deus, marginalizava as pessoas, considerando-as como mortas.
Na sociedade do tempo de Jesus levamos em consideração que não é certo que se tratasse de lepra em sentido clínico, porém, uma enfermidade grave da pele, que provocava impureza legal e impossibilitava a pessoa de participar e conviver em comunidade.
Cura-me tem o mesmo sentido de limpa-me ou purifica-me.
Curar um leproso era o mesmo que ressuscitar um morto
Jesus quis o mesmo que o leproso queria, pois era o mesmo que Deus quer: vida plena para todos, para todas. Querer já é, de fato, um primeiro passo para descobrir maneiras de poder fazer o que é preciso.

Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Mc 1, 40 - 45.


Na sociedade do tempo de Jesus, todo leproso era considerado como um morto e contra ele se manifestava o julgamento de Deus, pois sua impureza era uma ameaça mortal contra toda a vida. O sofrimento era muito maior com a solidão e com o fato de ser marcado como ameaça para a vida de todo o povo. Jesus o acolhe e o toca, torna-se leproso e fonte de contaminação. O Filho de Deus, o Messias foi morar com os marginalizados. Este é Jesus que a comunidade de Marcos quer mostrar e quer seguir: aquele que rompe com a religião dos saduceus e fariseus, e arma sua tenda entre os banidos. A cura tinha de ser testemunhada oficialmente: os sacerdotes diagnosticavam, não curavam. Os sacerdotes só podiam declarar ritualmente puro quem tinha sarado de sua lepra, admitindo-o assim oficialmente à comunidade, porém não tinham o poder de dar-lhe a saúde. E ainda, o leproso tem que oferecer vários sacrifícios. O sacrifício para Jesus, tem um caráter de denúncia e de abolição do código da pureza.
Ao anunciar o que havia acontecido, Jesus não pode mais entrar em nenhuma cidade ou povoado, pois o código de pureza era bem claro. O povo vai por toda parte procurando por Jesus, é sinal de que a novidade do Reino está aberta e seu ponto de chegada é Deus. Mas Deus, a partir deste toque de Jesus, só será encontrado na clandestinidade, entre os que o sistema religioso e social discriminou. E hoje? Há discriminados no nosso meio? Há pessoas vivendo na clandestinidade social por serem portadoras de alguma doença? O que estamos fazendo por elas? Quem são estas pessoas? Quem as marginaliza?
Construir uma sociedade sem exclusões leva tempo, mas não é impossível. Construir uma sociedade onde todas as pessoas possam exercer seus direitos e desenvolver seus talentos, é missão de todos nós, como diria a canção do Zé Vicente. Para Jesus não interessa dar um grande show da fé, mas, vale mesmo a consistência da mensagem e a firmeza do seguimento pois o final de sua vida será de perigo e cruz.
Recentemente, recebi a notícia de que um ex-aluno estava muito doente e estava internado num hospital especializado em trabalhar com e cuidar de portadores do HIV. Escolhi um dia da semana e fui fazer uma visita, ele havia acabado de ter uma crise muito forte, sua família, mesmo com todos os remédios sendo fornecidos pelo Governo Federal, não tinha condições para mantê-lo no hospital, os amigos não o visitavam mais, estava sozinho e triste, e isso fazia com que suas defesas caíssem ainda mais. Eu me lembrava daquele jovem, era bem forte e esbanjava vida, estava agora numa cama e triste, como dizem, esperando a morte...conversamos sobre a morte mas tentei lhe falar da vida. Aprendi muito naquele dia sobre a morte e sobre a vida. Sobre ter tempo para recomeçar e de não recomeçar. Nos abraçamos demoradamente e ele chorou, ninguém de fora da família o abraçava mais, ninguém o tocava mais, ninguém o desejava mais, como amor, como amante, como amigo, como irmão...naquele momento me senti incapaz de qualquer outro gesto que não fosse o abraço e permanecemos em silêncio, ouvíamos o som de nosso choro e as batidas de nossos corações...ele apenas me pediu quando eu estava saindo que rezasse por ele pois tinha medo, eu respondi que rezaria, mas que ele soubesse que todos nós temos medo...e é por querer vencê-lo que a cada tropeço nos levantamos e seguimos em frente, nos aproximando um pouco por dia da cruz com a sensação de que anunciar é preciso, viver não é preciso...mas é preciso.


Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Membro do Grupo de Assessores da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

Msn: emersonpjbes@hotmail.com
Blog: http://omisterioeautopia.blogspot.com/
Ilustração de Maximino Cerezo Marredo (http://servicioskoinonia.org/cerezo/

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