segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O NOVO SEMPRE PROVOCA MEDO E TEMOR!

O NOVO SEMPRE PROVOCA MEDO E TEMOR!




Jean Paul Sartre já dizia que “Somos condenados a sermos livres!”, e com isso, na contramão deste pensamento, todo mundo ama somente a si mesmo e despreza o coletivo. O novo sempre provoca medo e temor!
Quem não quer ser criticado não participa de equipe nenhuma; quanto mais uma pessoa grita para impor sua ideia, seu argumento sempre será de ruim para péssimo; quanto mais desejar ser perfeito, mais arrogante será. O indivíduo só xinga o outro por causa do mal que há em cada um, cada uma de nós. O novo sempre provoca medo e temor!
De 1979 a 2013 se viveu na Igreja, ao mesmo tempo, deserto e inverno. Foram 34 anos de função ao invés de missão. Foram os tempos da infantilização e da clericalização dos leigos e leigas. Foram 34 anos errando..., ao invés de fazerem profetas e profetisas, fizeram príncipes e princesas medievais. A missão vêm antes da função. Quando isso não acontece, se perde o respeito, o diálogo e o encontro. Se edificam muros ao invés de pontes. Prefere-se o poder ao invés do carisma. O novo sempre provoca medo e temor!
Digo tudo isso depois de ler algumas entrevistas e pronunciamentos de Francisco. Em sua humildade e querendo estar próximo de todo o rebanho e ter o cheiro das ovelhas espalhadas pelo mundo, especialmente os pobres e os jovens, por muitas vezes já mostrou que ele não gosta de ser chamado de Sua Santidade, Pontífice, Santidade, mas simplesmente de padre Jorge ou pelo Projeto de Igreja que assumiu: Franciscus (Francisco). Não colocou o número romano I depois do nome pois não é um imperador, mas um pastor; um pastor vindo do fim do mundo. O novo sempre provoca medo e temor!
Na última Jornada Mundial da Juventude, acontecida no Rio de Janeiro em 2013, muitos jovens tradicionalistas, de tendência carismática e outros, gritavam a plenos pulmões: “Nós somos a juventude do Papa!”. Eles esperavam, como todos nós, a vinda do Papa emérito Bento XVI, e recebemos Francisco. Até a presente data, não se sabe o que fazer com Francisco, pois ele não quer uma Igreja fechada em si mesma, mas uma Igreja para fora, em missão, e isso incomoda muita gente. E Francisco irá dizer: “Não quero juventude do Papa, mas quero uma juventude para fora da Igreja, perto, com e ao lado dos pobres!”. O novo sempre provoca medo e temor!
Por causa do Projeto de Vida que Francisco representa é que querem assassiná-lo. Há vários sites no Brasil, de fundamentalistas e fanáticos pela Igreja da Cristandade, que pede “a Deus que leve logo embora este papa!”. Toda vez que Francisco lê os Evangelhos, muitos, muitas, sabem que virão ideias de mudança por aí. O novo sempre provoca medo e temor!
Hoje dia 17 de novembro de 2014, comemora-se os 49 anos do Pacto das Catacumbas, que deveria ser retomado e adaptado aos dias atuais. Acredito que teríamos um número menor do que aqueles que em Roma o assinaram originalmente, mas a fiel esperança deve prevalecer mesmo quando se está cansado, ferido e machucado. Tudo o que é maravilhoso, tudo o que é feito em mutirão, está na comunhão. O Pacto das Catacumbas nos convida hoje a olharmos o mundo de outra perspectiva: a misericórdia.
“É necessário sairmos de nós mesmos, pois evangelizar é a missão da Igreja, não só de alguns, mas a minha, a tua, a nossa. Caminhar com o nosso povo, por vezes à frente, por vezes no meio e outras atrás: à frente, para guiar a comunidade; no meio, para animar e sustentar; atrás, para a manter unida, a fim de que ninguém se atrase demais, para a conservar unida e também por outro motivo: porque o povo intui! Tem a sensibilidade para encontrar novas sendas para o caminho”... assim nos dirá Francisco.
Termino com um poema: SE[1].
Se os olhos não alcançam os abraços
Se os abraços não acolhem os beijos
Se os beijos são frios demais
Nunca se estará em paz
Se os passos não fazem o caminho
Se o caminho não conduz ao fim
Se o fim está longe demais
Nunca se estará em paz
Pra que chorar sem sofrer
Pra que sofrer sem tentar
Cada acerto é o resultado do erro
Que se pode ou não realizar


Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.




[1] TAVARES, Emerson Sbardelotti. Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

QUEM ESTÁ CONTRA FRANCISCO?

QUEM ESTÁ CONTRA FRANCISCO?


Não sou de olhar sites e páginas de fundamentalistas e fanáticos religiosos, muito menos de ultraconservadores da Igreja Católica Apostólica Romana; mas, devido a boatos que a cada dia observo que estão aumentando nas redes sociais, comecei a reparar tais páginas e sites e ler suas publicações.
Me assustei com tamanha raiva e indignação contra o Bispo de Roma.
Os curtidores e seguidores de tais páginas e sites não escondem sua decepção com os rumos que o Papa Francisco está aplicando na Igreja. Percebo que eles se sentem órfãos com a morte de João Paulo II e com a renúncia de Bento XVI.
O Papa vindo do fim do mundo tem incomodado muitas pessoas fora da Igreja e  criado muitos inimigos dentro dela. Não é a toa que ele nos pede diariamente para que rezemos por ele.
Vendo suas fotos de um ano atrás e as recentes publicadas no site do Vaticano, tenho a impressão que o padre Bergoglio envelheceu demais, ele, porém, sempre com um sorriso, diz que o trabalho é árduo mas que está gostando, assim seja. 
As más línguas dizem que ele não fará um pontificado longo e esperam que não consiga realizar as mudanças que almeja.
Inclusive um dos sites que visitei para ver com meus próprios olhos as inverdades, as loucuras, os devaneios contra o Papa Francisco, dizia assim, em um comentário fundamentalista: "Será que é pecado pedir a Deus que este papado termine logo?"
A pessoa está pedindo a morte do Papa! É isso mesmo, ou entendi errado?
Como que uma criatura dessa pode ainda entrar na fila da comunhão e bater no peito e dizer que é católico?
Para pessoas com esse tipo de pensamento é muito complicado abrir mão do poder e colocar em seu lugar o carisma.
Este Papa tem um projeto de refundação da Igreja! Isto é o que significa o seu nome: Francisco.
Este Papa se orienta apenas por um livro: o Evangelho de Jesus de Nazaré.
Este Papa prega uma Igreja da Misericórdia ao invés da punição; uma Igreja do Carisma ao invés do poder; uma Igreja da Opção pelos Pobres ao invés do lucro do mercado.
Ele afirma sem medo que a desigualdade é a raiz dos males sociais, e está corretíssimo. Vai além quando pede políticas públicas para reduzir a pobreza e as desigualdades sociais.
Nos dois papados anteriores ao de Francisco, se tinha um cenário de Igreja que dialogava com cismáticos, aqueles que negaram e negam o Concílio Vaticano II, por conseguinte não respeitaram e não respeitam nenhuma orientação que foi dada após este evento, e só souberam e sabem criticar e atrapalhar a caminhada; em contrapartida, estes papados não se esforçaram para dialogar com os teólogos e teólogas da libertação, foram mais de 20 anos, de perseguições, notificações, censuras...e pasmem, tais teólogos e teólogas nunca se desligaram da Igreja, alguns abandonaram o ministério ordenado, mas ainda hoje, é muito fácil de encontrá-los trabalhando e se doando a uma comunidade eclesial de base, a uma pastoral social, a um movimento social, ensinando numa universidade ou em cursos de teologia para leigos. 
Foi preciso um Papa da América Latina e do Caribe fazer esta reaproximação. Reaproximação que tem provocado erupções vulcânicas dentro das paredes do Vaticano e nas Conferências Episcopais espalhadas pelo mundo.
Infelizmente são vários os inimigos que Francisco está colecionando, estes não irão confronta-lo diretamente, mas farão a política da inércia: o Papa fala, escreve, pede, mas o cara deixa entrar por um ouvido e sair pelo outro e não faz nada - essa é a melhor maneira de acabar com um projeto; porém, ele também está colecionando vários amigos e amigas, pessoas que haviam se afastado da Igreja por conta do direcionamento anterior, viram que este Papa quer reencontra-los, quer abraça-los, sem distinção, sem discriminação.
Peço a você que está lendo este texto, que hoje, na hora de dormir, ou naquela folga no seu emprego, reze a Deus para ajudar e fortalecer o querido Papa Francisco.
Da nossa parte, poderemos formar grupos de apoio ao Papa: trabalhando em nossas comunidades eclesiais de base, junto às pastorais sociais, estudando a Evangelli Gaudium, conhecendo um pouco mais o Jesus Histórico e perceber que Francisco não tem feito outra coisa, do que colocar na prática os ensinamentos do Moreno de Nazaré.
Faça sua parte, se engaje em uma pastoral social, crie grupos de debate, questione. O Papa quer que sejamos revolucionários, que estejamos em movimento, que possamos ir para a rua e que tenhamos nós também o cheiro das ovelhas.
Que a Indígena Guadalupe, que a Negra Aparecida e São João XXIII intercedam a Deus pelo Papa Francisco e por nós que desejamos uma Igreja a cada dia mais profética e comprometida com a defesa constante da Vida e com a opção evangélica pelos pobres.

Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 
Bacharel em Teologia pelo Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo. 
Licenciado em História pelo Centro Universitário São Camilo, Vitória - ES.
Bacharel em Turismo pela Faculdade de Turismo de Guarapari - ES.
Autor de O Mistério e o Sopro - roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005 (www.cpp.com.br).
Autor de Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007 (www.cebi.org.br).
Correio eletrônico: est_capixaba@yahoo.com.br

quarta-feira, 7 de maio de 2014

I ENCONTRO NACIONAL DE JUVENTUDES E ESPIRITUALIDADE LIBERTORA

SE QUEREM CONTINUAR COM A TEOLOGIA E A ESPIRITUALIDADE DA LIBERTAÇÃO...BUSQUEM OS POBRES!



Emerson Sbardelotti Tavares[1]

            Me pediram para escrever um texto falando sobre a experiência de estar no I Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora, que aconteceu dos dias 01 a 04 de maio de 2014, na Faculdade Católica do Ceará (Seminário da Prainha), próximo à Praia de Iracema, em Fortaleza, no Ceará, o que faço com imenso prazer, pois passado já alguns dias do seu encerramento, posso olhar para o evento e constatar feliz que participei de um momento histórico e único na história da Igreja Católica, num local sagrado, pois ali estudaram, Padre Cícero, D. Hélder Câmara e D. Aloísio Cardeal Lorscheider.
            Me recepcionou no aeroporto, no dia 30 de abril de 2014, o querido padre Emílio Castelo, que me contou um pouco da realidade da paróquia que administra e do trabalho que desenvolve em um hospital na cidade de Fortaleza.
            Já no credenciamento no dia 01 de maio, a equipe nos recebeu com sorrisos e abraços fraternais, resolvendo os problemas com a hospedagem e a troca de oficinas. Aproveitei para rever João Facundo, um amigo querido que fiz no Congresso Continental de Teologia, que aconteceu dos dias 7 a 11 de outubro de 2012, na Unisinos, em São Leopoldo-RS, onde sonhávamos juntos com um Encontro Nacional de Novos Teólogos da Libertação (acredito que isso ainda bata forte em nosso peito, não é mesmo João?).
            Quando eu estava indo embora vem ao meu encontro a querida cantora da caminhada Eliahne Brasileiro, junto com a indígena Natália Tatanka; depois dos abraços e beijos, a Eliahne me convidou para fazer parte da Equipe de Animação, fiquei feliz com o convite e aceitei no ato, indo logo para a sala onde acontecia o ensaio. Ao encerrar o ensaio fui depressa no local onde eu estava hospedado, pois a abertura do evento se aproximava. Às 16 horas em ponto, lá estava eu com a Equipe de Animação levantando a galera, e passando os cânticos que seriam usados na celebração daquele dia. Era muita emoção, e eu ali vendo aquela juventude chegando de vários cantos do país, com sorrisos, olhos brilhando e fiel esperança.
            Na conferência de abertura o monge beneditino Marcelo Barros e o frei Betto, conversaram sobre a Espiritualidade Libertadora Hoje, mas não deixaram de falar um pouco de suas ricas experiências com D. Hélder Câmara e com frei Tito, e da conversa ligeira que frei Betto teve com o bispo de Roma, o papa Francisco. E findou o primeiro dia. E a juventude saiu para curtir a noite quente de Fortaleza no centro cultural Dragão do Mar que em vários locais oferecia os mais variados shows musicais.
            Na sexta-feira, dia 02 de maio, na chegada dos participantes, íamos entoando cânticos populares e sócio religiosos para que a galera fosse se enturmando ainda mais; após a celebração da manhã em que frei Betto, emocionado deu seu testemunho sobre o período em que foi preso e que na cadeia conviveu com frei Tito e leu uma parte do diário em que o frei contava como havia sido torturado. Todos nós choramos juntos com o frei Betto em determinado momento da leitura. Frei Tito vive em nós!
No auditório tivemos uma recordação do dia anterior, com o padre Manfredo e logo em seguida uma mesa de discussão com representantes de movimentos juvenis, onde os mesmos puderam falar um pouco de suas vivências e expectativas para o Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora.
Na parte da tarde partimos para as oficinas. A minha foi a de Espiritualidade Libertadora e Literatura de Cordel com Fernando Paixão.
Depois do jantar, aconteceu a apresentação de um grupo de maracatu; vários jovens se dirigiram após a apresentação ao Dragão do Mar para aproveitarem as atrações culturais.
No sábado, dia 03 de maio, celebramos a Páscoa de D. Tomás Balduíno e também a Páscoa do padre Joao Batista Libanio.
O monge Marcelo Barros falou da convivência com D. Tomás Balduíno e do amor que este tinha para com todos que estavam ao seu redor e como ele se colocava sempre em caminhada mesmo por vezes estando doente.
Não aguentei a emoção e precisei me retirar para chorar por estes dois amigos queridos, que com certeza estão ao lado do Moreno de Nazaré.
Como me disse o missiólogo da libertação Paulo Suess: "É tempo de Páscoa. As árvores que deram muitos frutos caíram, deixaram clareiras pelas quais a luz entra novamente na selva da Vida e faz brotar árvores jovens como você, como vocês. É Páscoa!".
É tempo de brotar árvores jovens!
Emocionado como estou agora, isso me faz ver, o quanto sou responsável também por uma Teologia Missionária e da Libertação.
Como me disse hoje o querido Leonardo Boff: "Não deixe de dizer as verdades que lhe vêm ao coração e à alma. Elas são verdades. Se lhe caluniam, se lhe dizem que você é persona non grata, saiba que disseram isso também a Jesus de Nazaré. Faça como faz o nosso Papa Francisco: use o Evangelho. Eles, elas, não terão argumentos para dizerem que você está errado!".
É tempo de brotar árvores jovens!
E fomos para o auditório onde animamos a galera e preparamos os 400 participantes para a conferência de Leonardo Boff. Conferência esta que seria partilhada com João Batista Libanio. De certa maneira o querido jesuíta estava ali com a gente e deve ter gostado do que viu e ouviu.
Leonardo Boff foi muito simpático, atencioso, bondoso e ressaltou sua profunda esperança de uma Igreja navio que parte para outros mares, que está sendo colocada em marcha pelo Papa Francisco. Falou da força da juventude, que ela não precisa pedir permissão para reivindicar e ser revolucionária. E se a juventude quer continuar com a Teologia da Libertação, com a Espiritualidade da Libertação, ela deve buscar os pobres. Fora dos pobres não há salvação, já diria o jesuíta Jon Sobrino. Partimos para o almoço.
A tarde iniciou com os trabalhos nas oficinas. A nossa produziu o seguinte Cordel que deveria ser cantado com uma linda toada, mas não tivemos tempo, e foi apenas recitado no último dia do Encontro:

CORDEL E ESPIRITUALIDADE

O nosso Primeiro Encontro
Nacional de Juventudes
E Espiritualidade
Nos convida à atitudes
Que sejam libertadoras
Como principais virtudes.

Ele uniu as Juventudes
De diversas regiões
Que veio trazer à pauta
Profundas reflexões
Que foram compartilhadas
Entre as duas gerações.

Juventudes seguem juntas
Fiquem todos à vontade
Tragam todo o seu amor
A bondade e a humildade
Para construirmos juntos
A nova sociedade.

Senhores eu vou pedir
Atenção pois vou falar
Do nosso encontro de jovens
Vindos de todo lugar
Com esperança e com fé
Pra Igreja refundar.

O Frei Betto e o Marcelo
Chamados a partilhar
A espiritualidade
Usadas pra libertar
Neste mundo desigual
Que precisamos mudar.

Quando prenderam Frei Betto
Sem dó e sem piedade
As grades não lhe roubaram
Nem a sua liberdade
Nem a sua devoção
Nem a espiritualidade.

Somos jovens sonhadores
A luta vamos vencer
Estamos todos unidos
Pra mudança acontecer
Caminhando todos juntos
Para a Deus agradecer.

Somos jovens conscientes
Nós gostamos das culturas
Relatamos no cordel
Nossos sinais de bravuras
E saímos pelo mundo
Revivendo as aventuras.

Leonardo Boff disse
Com a luz da sua crença
Que os jovens não precisam
Pedir nenhuma licença
Para lutar por justiça
E fazer a diferença.

Fernando Paixão pediu
Para um cordel preparar
Falar de jovens reunidos
Vindos de todo lugar
Estamos todos felizes
Por Deus nos abençoar.

Juventudes se encontram
E vimos quanta beleza
Juntos nos tornamos um
É o Reino com certeza
De um a quatro de maio
Na cidade Fortaleza.

Oficina de Espiritualidade e Literatura de Cordel
I Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora
Oficineiro: Fernando Paixão
02 e 03 de maio de 2014
           
            Após o jantar fizemos uma linda celebração onde saímos com candeeiros e ou lamparinas nas mãos pelas ruas próximas ao local do encontro em direção à Praia de Iracema. As pessoas iam se levantando nos bares e aplaudindo; de dentro dos ônibus algumas jovens perguntavam a quem estava na procissão o que estava acontecendo. E aquelas 400 pessoas iam cantando, numa crescente onda, cantos da caminhada.
            Ao chegarmos na praia foi feita uma grande roda e depois pequenos círculos onde foram partilhados peixes fritos e tapioca com água de coco. Voltamos para as casas que nos acolhiam.
          No domingo vieram as apresentações das oficinas, a celebração de encerramento com a leitura da carta oficial do Encontro.
          Ficou o gosto de querer mais. Espero que em breve tenhamos um II Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora.





[1] Mestrando em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Bacharel em Teologia pelo Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo; Licenciado em História pelo Centro Universitário São Camilo, Vitória-ES; Bacharel em Turismo pela Faculdade de Turismo de Guarapari – ES; autor do livro O Mistério e o Sopro – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005 (www.cpp.com.br); autor de Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007 (www.cebi.org.br); correio eletrônico: est_capixaba@yahoo.com.br. 

sexta-feira, 21 de março de 2014

ABRAÇOS COM FRATERNURA

Ipiranga, 19 de março de 2014.

Paz e bem!

         É com alegria que estou vivendo no bairro Ipiranga, do município de São Paulo, desde o dia 17 de fevereiro deste ano, por conta do Mestrado em Teologia Sistemática, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, campus Ipiranga.
         As muitas horas de estudo não conseguem tirar do meu peito a saudade que sinto das pessoas da Comunidade Eclesial de Base Nossa Senhora de Fátima, Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida – Cobilândia; dos alunos e colegas de magistério da Escola Teológica Santo Alberto Magno e da Equipe de Círculos Bíblicos, Paróquia Nossa Senhora das Graças – Coqueiral de Itaparica e da minha Família, que está aí em Vila Velha/ES, das amigas e amigos do Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo, da Pastoral da Juventude, das CEBs. Peço que continuem fazendo suas orações por mim.
         Tenho estudado muito, a semana toda, pois quero concentrar todos os esforços na pesquisa que estou realizando. O tema é A OPÇÃO PELOS POBRES NA OBRA DE PATATIVA DO ASSARÉ. Dentro da área Teologia  e Literatura. O meu orientador é o Padre Dr. Antonio Manzatto.
         Neste primeiro mês de pós-graduação, já apresentei duas resenhas que serão publicadas nas revistas da PUC IPIRANGA, apresentei um artigo científico sobre Juventude e Espiritualidade da Libertação, e aguardo a resposta se será publicado; ontem já recebi o aceite do meu pré-projeto, agora é começar a escrever o primeiro capítulo da dissertação. Como podem ver, é muita coisa em pouco tempo e ainda há mais para vir.
         Desejo que o Deus da Vida continue abençoando a todos, todas, vocês.
         Que o Moreno de Nazaré sempre faça vocês felizes.
      Se mantenham felizes e fieis na esperança, na humildade, na misericórdia e no amor. Não deixem a profecia cair!

         Abraços com fraternura.

Emerson Sbardelotti Tavares


 Festa de São José, esposo da Virgem, protetor do Salvador.

AINDA BEM QUE ELE NÃO VAI!


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

QUERIDOS IRMÃOS, QUERIDAS IRMÃS, PAZ E BEM!

Jardim Marilândia, 02 de fevereiro de 2014

“Eu venho desde menino, desde muito pequenino, cumprindo o belo destino que me deu Nosso Senhor. [...] Carrego nesses meus ombros o sinal do Redentor. E tenho nessa parada...quanto mais feliz eu sou”. (Sina – Raimundo Fagner / Ricardo Bezerra / Patativa do Assaré).

                 Queridos irmãos, queridas irmãs, paz e bem!
            No próximo dia 17 de fevereiro, inicio uma nova fase em minha vida. Como sabem, eu passei para o Mestrado em Teologia Sistemática, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Campus Ipiranga), depois de provas nada fáceis. Fui contemplado com a bolsa integral da CAPES, e por isso terei que me dedicar somente aos estudos e pesquisas, durante a manhã e a tarde. O Mestrado durará até o ano de 2015.
            Levarei em meu coração todos os sorrisos, abraços e desejos de felicidades que vocês me dispensaram nestes anos que nos conhecemos e trabalhamos juntos nas equipes, nas comunidades, nas paróquias, nas escolas por onde passei. Sempre procurei passar aquilo que aprendi; com amor, humor e humildade. Se magoei alguém, que este, esta, não fique com raiva nem me queira mal, pois de mim só encontrará os braços abertos. Pensar diferente não é não amar. Sempre respeitei o direito de todos, todas, discordarem do que eu falei ou ensinei. Com respeito, diálogo e encontro construímos uma sociedade mais humana e fraterna.
                Nosso querido Papa Francisco, na carta que me enviou, agradecendo os livros de minha autoria que enviei a Ele diz assim: “O Papa lhes exorta também a procurarem viver sempre mais como discípulos missionários, reconhecendo que cada batizado é um Campo da Fé - um Campus Fidei - de Deus, que deve estar pronto a responder ao chamado de Cristo: <>(cf. Mt 28,19). E, como penhor de conforto, contínua assistência e graças divinas, concede-lhe, extensiva à sua família, uma particular Bênção Apostólica”.
                 Vocês são minha família! Rezem por mim. Necessito da oração de cada um, cada uma de vocês.
                 Abreijos com fraternura!
Festa da Apresentação do Senhor!


                                                    Emerson Sbardelotti Tavares

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O PENSAMENTO EURÍSTICO!

O PENSAMENTO EURÍSTICO!
Emerson Sbardelotti Tavares[1]


"O que é o pensamento eurístico? É aquele pensamento que depois de ler alguém, conhecer alguém, eu começo a pensar!" João Batista Libanio

            Conheci o padre João Batista Libanio, no ano de 1985, Ano Internacional da Juventude. Ele havia sido um dos conferencistas naquele final de semana e nos falava sobre o Mundo dos Jovens (título dado a um de seus livros sobre e para a Juventude), as expectativas que se abriam no limiar da história da juventude brasileira. Com imensa humildade, amor e humor, o padre Libanio se aproximava de nós como verdadeiro assessor, pois suas inquietações nos levavam a pensar sobre o que estávamos vivendo na realidade de então. Ele nos fazia perguntas fáceis, mas que necessitavam de demoradas respostas, respostas ruminadas, respostas que fizessem o grupo crescer.
            Ele em todos os seus livros, didaticamente, sempre fez questionamentos que iam, vão, no mais íntimo de nosso ser. Mesmo sendo um Doutor em Teologia, não abria mão de estar no meio dos pobres, do Povo Santo de Deus, apesar de toda erudição que tinha, conseguia conversar de forma simples, delicada, para cada público um discurso, sempre coerente e vivo.  Aprendi com ele e tento a cada dia viver: um bom teólogo não pode estar nunca somente na academia, ele tem que estar onde o povo está, caso contrário de nada valerá a teologia que recebeu e que faz!
            Eu não conhecia os escritos do padre Libanio, mas conhecia os de seus amigos queridos: Leonardo Boff e Carlos Mesters. Através dos livros destes dois, e também depois daquela conferência, comecei a comprar seus livros, e assisti-lo em VHS que uma editora católica produzia, vídeos sobre Espiritualidade, Teologia, Jesus de Nazaré. Ele falava sobre todos os campos da teologia com imensa facilidade, convicção e clareza. Foi a partir do estudo de sua obra que comecei a entender melhor o que era a Teologia da Libertação.
            Autor de 125 livros, sem contar artigos, não se recusava a escrever de próprio punho, cartas respondendo perguntas ou me concedendo uma entrevista. Em todos os nossos encontros, e não foram poucos, sempre trazia o recente livro, autografado, e eu lhe dizia que um dia escreveria e também o presentearia. “Estarei esperando...” sempre dizia e sorria.
            Em 2012, nos agradecimentos da monografia Ecoteologia: dos gritos dos pobres ao grito da Terra na perspectiva da Teologia da Libertação em Leonardo Boff, que apresentei, assim está escrito:
Aos teólogos e teólogas da libertação, pela coragem e pelo testemunho de fé e vida frente às perseguições e martírios. A Leonardo Boff, João Batista Libanio, Marcelo Barros, Carlos Mesters e D. Pedro Casaldáliga, que mantêm viva a fé e a fiel esperança”. Lhe enviei um arquivo para seu email com a mesma, e ele respondeu: “Obrigado. Siga em frente!”. Neste ano tive o prazer de reencontrá-lo, o que seria a nossa última vez juntos, no Congresso Continental de Teologia, ocorrido na Unisinos – RS. Neste Congresso, eu lhe entreguei meus dois primeiros livros: O Mistério e o Sopro – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005 e Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007. O que ele com um imenso sorriso me disse: “Até que enfim...parabéns...siga em frente!” Na ocasião lhe perguntei se em meu terceiro livro (que ainda não está concluído) ele faria a apresentação? “Seria um prazer. Afinal, temos que dar apoio aos novos teólogos da libertação!”. Como era bondoso o professor Libanio...me chamar de novo teólogo da libertação. Ao escrever me emociono lembrando destas palavras, e peço a Deus, que essa profecia se cumpra. Infelizmente no último dia 30 de janeiro de 2014, o Moreno de Nazaré o chamou para junto dele. Fico com a lembrança do professor bondoso, inteligente, bem humorado e cheio de amor pela teologia e pelo povo.
Da minha parte irei me dedicar com afinco ao Mestrado em Teologia Sistemática. Ele me enviou um email dizendo: “Parabéns por mais esta conquista, não se esqueça nunca do povo.
Em nossa última conversa, dias antes de começar a Ampliada Nacional da Pastoral da Juventude, falávamos sobre a juventude, sobre o processo da educação da fé e ele sempre me pedia, me dizia isso: "que tenha coragem de lutar por uma pastoral livre, corajosa e libertadora"!
Obrigado professor querido por tudo o que semeou entre nós. A Teologia e a Teologia da Libertação perde um de seus maiores mantenedores do diálogo e do respeito, a Igreja perde um de seus maiores pensadores contemporâneos.
E eu sigo por aqui, nas suas pegadas, com amor, humor e humildade.
Até o nosso próximo encontro Libanio.




[1] Mestrando em Teologia Sistemática pela PUC-SP (Campus Ipiranga); Bacharel em Teologia pelo Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo; Licenciado em História pelo Centro Universitário São Camilo/ES (Campus Vitória); Bacharel em Turismo pela Faculdade de Turismo de Guarapari/ES; Autor de O Mistério e o Sopro – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005 (www.cpp.com.br); Autor de Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007 (www.cebi.org.br). Assessor para as áreas de Mística e Espiritualidade, Juventude, Bíblia e Liturgia. Correio eletrônico: prof.poeta.emerson@gmail.com. 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

LIBANIO: UM DOS MAIORES TEÓLOGOS DA IGREJA CATÓLICA

Faleceu nesta manhã em Curitiba, 30/01/2014, durante uma atividade apostólica (orientação de um retiro), o Moreno de Nazaré chamou para si o amigo, professor, mestre e doutor em Teologia de varias gerações de pensadores e uma das mentes mais brilhantes da Teologia da Libertação e da Igreja Católica Apostólica Romana: Padre João Batista Libanio, sj. O enterro será em Belo Horizonte. Daqui poucos dias o professor Libanio completaria 82 anos.
Nesta manhã, Padre Libanio levantou-se bem, nadou na piscina, tomou o café e se dirigiu para a sala, onde iria fazer a motivação matinal do retiro das Irmãs de Sion, em Curitiba. Ouviu-se um grito. Ao que parece, um ataque cardíaco fulminante. Faleceu momentos depois.
Tive o imenso prazer de ter sido seu aluno, de mandar para ele meus livros e minha monografia sobre a Ecoteologia da Libertação, e ele sempre com muito humor e carinho me dizia que eu estava no caminho certo. Em nossa última conversa, dias antes de começar a Ampliada Nacional da Pastoral da Juventude, falávamos sobre a juventude, sobre o processo da educação da fé e ele sempre me pedia, me dizia isso: "que tenham coragem de lutar por uma pastoral livre, corajosa e libertadora"!.
Obrigado professor querido por tudo o que semeou entre nós...a Teologia e a Teologia da Libertação perde um de seus maiores mantenedores do diálogo e do respeito.

Emerson Sbardelotti



ENTREVISTA COM JOÃO BATISTA LIBÂNIO

EM ABRIL DE 2002



João Batista Libânio, padre jesuíta, teólogo, educador e escritor, Belo Horizonte/MG

Esta entrevista foi concedida ao Jornal ESPERANÇA JOVEM, da Pastoral da Juventude, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Cobilândia, Vila Velha-ES.

Entrevistado por Emerson Sbardelotti Tavares



EMERSON – O que é a Teologia da Libertação? É a única teologia da América Latina? É a melhor?

LIBÂNIO: A Teologia da Libertação é, antes de tudo, uma libertação da Teologia. Ela quer ser uma teologia para a nossa situação e não simples xerox da teologia de outros países. Ao querer ser uma teologia para a América Latina, ela parte dos problemas da América Latina. Ora o maior problema que nós vivemos é a situação de opressão, de exploração das grandes massas populares. E a única maneira de superar uma situação de dominação é lutar pela libertação. Queremos, como cristãos, embarcar nessa luta pela libertação dos pobres, motivados e iluminados pela nossa fé.

A TdL é a teologia que motiva e ilumina o cristão na luta pela libertação. Por isso se chama Teologia da Libertação. Ela não organiza, nem faz a libertação. Isso fazem os homens e mulheres que estão lutando. Ela quer simplesmente ajudar esses homens e mulheres, que são cristãos, a verem o que a sua fé diz sobre tal luta, motivando-a, iluminando-a, criticando-a nos pontos em que possa ter entrado algo de anti-cristão. O papel da TdL é muito importante para sustentar a fé do cristão comprometido. Pois vimos com tristeza no passado muitos cristãos que, ao engajarem-se na luta, perderam a oposição entre fé e política, entre fé e luta libertadora, entre fé e compromisso social. Mostrar isso é uma das maiores tarefas da TdL.

Ela não é a única teologia da América Latina, mas aquela que nasceu aqui e se orienta para a nossa situação. Não se trata de comparar mas de ver sua relevância e pertinência para nossa situação latino-americana.


EMERSON – As CEBs são ainda um fenômeno ou não representam mais um novo jeito de ser Igreja?

LIBÂNIO: As CEBs são ainda verdadeiro jeito de ser Igreja. Mas há vários tipos de CEBs. Há aquelas que amadureceram. Há outras que fraquejaram e outras que desapareceram.
As CEBs têm manifestado uma capacidade criativa no campo da liturgia precisamente lá onde o ministro ordenado não chega regularmente. Elas continuam revelando um compromisso libertador, firme e decidido, sem talvez a aura militante de outras décadas, mas não menos sério e eficiente. Enfim, aí esta a vida das CEBs em sua beleza simples e corajosa.

EMERSON – Num mundo globalizado e globalizante, qual é o cenário de Igreja que sobressai atualmente na América Latina e Brasil?

LIBÂNIO: Predomina ainda na Igreja Católica, o cenário da Instituição. A preocupação interna com sua estrutura ainda é muito acentuada. No entanto, há sinais de um forte sopro carismático que vivifica toda a Igreja e flexibiliza suas instituições. Há crescente apreço à Palavra de Deus, às liturgias da Palavra, ao estudo da fé. E também ainda permanece animador em muitos setores da Igreja um entusiasmo no compromisso com o processo libertador dos pobres.

EMERSON – O que deve representar o estudo da teologia para a PJB? E o que a PJB deve representar para a teologia?

LIBÂNIO: Muito. A teologia é a busca de intelecção de fé. Na idade jovem se é mais exigente quanto as razões para crer. Deixa-se de ser criança que freqüenta a religião pelas mãos dos pais. Agora o jovem anda com suas pernas. Em termos de fé, significa aprofundá-la. E para fazê- lo, nada melhor que a teologia. E, por sua vez, a teologia também deve levar em consideração as perguntas que os/as jovens lhe levantam. Eles/as são como a febre do organismo da sociedade. Revelam a existência da infecção sem talvez apontar para qual ela seja exatamente. E a teologia percebendo tal aviso e alarme mergulha no problema e aprofunda.

EMERSON – Qual a mensagem que o sr. daria para os nossos grupos de base da PJB?

LIBÂNIO: Num mundo de desesperança e desânimo, ser um sinal de coragem e engajamento. Num mundo que só valoriza o presente, acreditar no futuro, forjando utopias. Num mundo hedonista, mostrar que o verdadeiro prazer está na entrega de si aos outros. Num mundo de corrupção política, exercer vigilante controle sobre a administração pública para evitar a malversação dos bens públicos. Num mundo de violência, revelar a liberdade e transparência acolhedora da tolerância e do amor. Enfim, anunciar em palavras e ações que é possível criar uma sociedade alternativa a esta que aí está, começando já no seu meio juvenil o ensaio do mundo futuro de fraternidade, igualdade, acolhida, paz e amor.

EMERSON – Pe. Libânio, nas comemorações de 75 anos de tua existência só temos agradecer a sua valiosa contribuição para o crescimento de nossos jovens, de nossas jovens na caminhada de PJB. Muito obrigado!