O
NOVO SEMPRE PROVOCA MEDO E TEMOR!
Jean Paul Sartre já dizia
que “Somos condenados a sermos livres!”, e com isso, na contramão deste
pensamento, todo mundo ama somente a si mesmo e despreza o coletivo. O novo
sempre provoca medo e temor!
Quem não quer ser
criticado não participa de equipe nenhuma; quanto mais uma pessoa grita para
impor sua ideia, seu argumento sempre será de ruim para péssimo; quanto mais
desejar ser perfeito, mais arrogante será. O indivíduo só xinga o outro por
causa do mal que há em cada um, cada uma de nós. O novo sempre provoca medo e
temor!
De 1979 a 2013 se viveu
na Igreja, ao mesmo tempo, deserto e inverno. Foram 34 anos de função ao invés
de missão. Foram os tempos da infantilização e da clericalização dos leigos e
leigas. Foram 34 anos errando..., ao invés de fazerem profetas e profetisas,
fizeram príncipes e princesas medievais. A missão vêm antes da função. Quando
isso não acontece, se perde o respeito, o diálogo e o encontro. Se edificam
muros ao invés de pontes. Prefere-se o poder ao invés do carisma. O novo sempre
provoca medo e temor!
Digo tudo isso depois de
ler algumas entrevistas e pronunciamentos de Francisco. Em sua humildade e
querendo estar próximo de todo o rebanho e ter o cheiro das ovelhas espalhadas
pelo mundo, especialmente os pobres e os jovens, por muitas vezes já mostrou
que ele não gosta de ser chamado de Sua Santidade, Pontífice, Santidade, mas
simplesmente de padre Jorge ou pelo Projeto de Igreja que assumiu: Franciscus
(Francisco). Não colocou o número romano I depois do nome pois não é um
imperador, mas um pastor; um pastor vindo do fim do mundo. O novo sempre
provoca medo e temor!
Na última Jornada Mundial
da Juventude, acontecida no Rio de Janeiro em 2013, muitos jovens
tradicionalistas, de tendência carismática e outros, gritavam a plenos pulmões:
“Nós somos a juventude do Papa!”. Eles esperavam, como todos nós, a vinda do
Papa emérito Bento XVI, e recebemos Francisco. Até a presente data, não se sabe
o que fazer com Francisco, pois ele não quer uma Igreja fechada em si mesma,
mas uma Igreja para fora, em missão, e isso incomoda muita gente. E Francisco
irá dizer: “Não quero juventude do Papa, mas quero uma juventude para fora da
Igreja, perto, com e ao lado dos pobres!”. O novo sempre provoca medo e temor!
Por causa do Projeto de
Vida que Francisco representa é que querem assassiná-lo. Há vários sites no
Brasil, de fundamentalistas e fanáticos pela Igreja da Cristandade, que pede “a
Deus que leve logo embora este papa!”. Toda vez que Francisco lê os Evangelhos,
muitos, muitas, sabem que virão ideias de mudança por aí. O novo sempre provoca
medo e temor!
Hoje dia 17 de novembro
de 2014, comemora-se os 49 anos do Pacto das Catacumbas, que deveria ser
retomado e adaptado aos dias atuais. Acredito que teríamos um número menor do
que aqueles que em Roma o assinaram originalmente, mas a fiel esperança deve
prevalecer mesmo quando se está cansado, ferido e machucado. Tudo o que é maravilhoso,
tudo o que é feito em mutirão, está na comunhão. O Pacto das Catacumbas nos
convida hoje a olharmos o mundo de outra perspectiva: a misericórdia.
“É necessário sairmos de
nós mesmos, pois evangelizar é a missão da Igreja, não só de alguns, mas a
minha, a tua, a nossa. Caminhar com o nosso povo, por vezes à frente, por vezes
no meio e outras atrás: à frente, para guiar a comunidade; no meio, para animar
e sustentar; atrás, para a manter unida, a fim de que ninguém se atrase demais,
para a conservar unida e também por outro motivo: porque o povo intui! Tem a
sensibilidade para encontrar novas sendas para o caminho”... assim nos dirá
Francisco.
Termino com um poema: SE[1].
Se os
olhos não alcançam os abraços
Se os
abraços não acolhem os beijos
Se os
beijos são frios demais
Nunca
se estará em paz
Se
os passos não fazem o caminho
Se o
caminho não conduz ao fim
Se o
fim está longe demais
Nunca
se estará em paz
Pra que
chorar sem sofrer
Pra que
sofrer sem tentar
Cada
acerto é o resultado do erro
Que se
pode ou não realizar
Emerson
Sbardelotti
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
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