quarta-feira, 7 de maio de 2014

I ENCONTRO NACIONAL DE JUVENTUDES E ESPIRITUALIDADE LIBERTORA

SE QUEREM CONTINUAR COM A TEOLOGIA E A ESPIRITUALIDADE DA LIBERTAÇÃO...BUSQUEM OS POBRES!



Emerson Sbardelotti Tavares[1]

            Me pediram para escrever um texto falando sobre a experiência de estar no I Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora, que aconteceu dos dias 01 a 04 de maio de 2014, na Faculdade Católica do Ceará (Seminário da Prainha), próximo à Praia de Iracema, em Fortaleza, no Ceará, o que faço com imenso prazer, pois passado já alguns dias do seu encerramento, posso olhar para o evento e constatar feliz que participei de um momento histórico e único na história da Igreja Católica, num local sagrado, pois ali estudaram, Padre Cícero, D. Hélder Câmara e D. Aloísio Cardeal Lorscheider.
            Me recepcionou no aeroporto, no dia 30 de abril de 2014, o querido padre Emílio Castelo, que me contou um pouco da realidade da paróquia que administra e do trabalho que desenvolve em um hospital na cidade de Fortaleza.
            Já no credenciamento no dia 01 de maio, a equipe nos recebeu com sorrisos e abraços fraternais, resolvendo os problemas com a hospedagem e a troca de oficinas. Aproveitei para rever João Facundo, um amigo querido que fiz no Congresso Continental de Teologia, que aconteceu dos dias 7 a 11 de outubro de 2012, na Unisinos, em São Leopoldo-RS, onde sonhávamos juntos com um Encontro Nacional de Novos Teólogos da Libertação (acredito que isso ainda bata forte em nosso peito, não é mesmo João?).
            Quando eu estava indo embora vem ao meu encontro a querida cantora da caminhada Eliahne Brasileiro, junto com a indígena Natália Tatanka; depois dos abraços e beijos, a Eliahne me convidou para fazer parte da Equipe de Animação, fiquei feliz com o convite e aceitei no ato, indo logo para a sala onde acontecia o ensaio. Ao encerrar o ensaio fui depressa no local onde eu estava hospedado, pois a abertura do evento se aproximava. Às 16 horas em ponto, lá estava eu com a Equipe de Animação levantando a galera, e passando os cânticos que seriam usados na celebração daquele dia. Era muita emoção, e eu ali vendo aquela juventude chegando de vários cantos do país, com sorrisos, olhos brilhando e fiel esperança.
            Na conferência de abertura o monge beneditino Marcelo Barros e o frei Betto, conversaram sobre a Espiritualidade Libertadora Hoje, mas não deixaram de falar um pouco de suas ricas experiências com D. Hélder Câmara e com frei Tito, e da conversa ligeira que frei Betto teve com o bispo de Roma, o papa Francisco. E findou o primeiro dia. E a juventude saiu para curtir a noite quente de Fortaleza no centro cultural Dragão do Mar que em vários locais oferecia os mais variados shows musicais.
            Na sexta-feira, dia 02 de maio, na chegada dos participantes, íamos entoando cânticos populares e sócio religiosos para que a galera fosse se enturmando ainda mais; após a celebração da manhã em que frei Betto, emocionado deu seu testemunho sobre o período em que foi preso e que na cadeia conviveu com frei Tito e leu uma parte do diário em que o frei contava como havia sido torturado. Todos nós choramos juntos com o frei Betto em determinado momento da leitura. Frei Tito vive em nós!
No auditório tivemos uma recordação do dia anterior, com o padre Manfredo e logo em seguida uma mesa de discussão com representantes de movimentos juvenis, onde os mesmos puderam falar um pouco de suas vivências e expectativas para o Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora.
Na parte da tarde partimos para as oficinas. A minha foi a de Espiritualidade Libertadora e Literatura de Cordel com Fernando Paixão.
Depois do jantar, aconteceu a apresentação de um grupo de maracatu; vários jovens se dirigiram após a apresentação ao Dragão do Mar para aproveitarem as atrações culturais.
No sábado, dia 03 de maio, celebramos a Páscoa de D. Tomás Balduíno e também a Páscoa do padre Joao Batista Libanio.
O monge Marcelo Barros falou da convivência com D. Tomás Balduíno e do amor que este tinha para com todos que estavam ao seu redor e como ele se colocava sempre em caminhada mesmo por vezes estando doente.
Não aguentei a emoção e precisei me retirar para chorar por estes dois amigos queridos, que com certeza estão ao lado do Moreno de Nazaré.
Como me disse o missiólogo da libertação Paulo Suess: "É tempo de Páscoa. As árvores que deram muitos frutos caíram, deixaram clareiras pelas quais a luz entra novamente na selva da Vida e faz brotar árvores jovens como você, como vocês. É Páscoa!".
É tempo de brotar árvores jovens!
Emocionado como estou agora, isso me faz ver, o quanto sou responsável também por uma Teologia Missionária e da Libertação.
Como me disse hoje o querido Leonardo Boff: "Não deixe de dizer as verdades que lhe vêm ao coração e à alma. Elas são verdades. Se lhe caluniam, se lhe dizem que você é persona non grata, saiba que disseram isso também a Jesus de Nazaré. Faça como faz o nosso Papa Francisco: use o Evangelho. Eles, elas, não terão argumentos para dizerem que você está errado!".
É tempo de brotar árvores jovens!
E fomos para o auditório onde animamos a galera e preparamos os 400 participantes para a conferência de Leonardo Boff. Conferência esta que seria partilhada com João Batista Libanio. De certa maneira o querido jesuíta estava ali com a gente e deve ter gostado do que viu e ouviu.
Leonardo Boff foi muito simpático, atencioso, bondoso e ressaltou sua profunda esperança de uma Igreja navio que parte para outros mares, que está sendo colocada em marcha pelo Papa Francisco. Falou da força da juventude, que ela não precisa pedir permissão para reivindicar e ser revolucionária. E se a juventude quer continuar com a Teologia da Libertação, com a Espiritualidade da Libertação, ela deve buscar os pobres. Fora dos pobres não há salvação, já diria o jesuíta Jon Sobrino. Partimos para o almoço.
A tarde iniciou com os trabalhos nas oficinas. A nossa produziu o seguinte Cordel que deveria ser cantado com uma linda toada, mas não tivemos tempo, e foi apenas recitado no último dia do Encontro:

CORDEL E ESPIRITUALIDADE

O nosso Primeiro Encontro
Nacional de Juventudes
E Espiritualidade
Nos convida à atitudes
Que sejam libertadoras
Como principais virtudes.

Ele uniu as Juventudes
De diversas regiões
Que veio trazer à pauta
Profundas reflexões
Que foram compartilhadas
Entre as duas gerações.

Juventudes seguem juntas
Fiquem todos à vontade
Tragam todo o seu amor
A bondade e a humildade
Para construirmos juntos
A nova sociedade.

Senhores eu vou pedir
Atenção pois vou falar
Do nosso encontro de jovens
Vindos de todo lugar
Com esperança e com fé
Pra Igreja refundar.

O Frei Betto e o Marcelo
Chamados a partilhar
A espiritualidade
Usadas pra libertar
Neste mundo desigual
Que precisamos mudar.

Quando prenderam Frei Betto
Sem dó e sem piedade
As grades não lhe roubaram
Nem a sua liberdade
Nem a sua devoção
Nem a espiritualidade.

Somos jovens sonhadores
A luta vamos vencer
Estamos todos unidos
Pra mudança acontecer
Caminhando todos juntos
Para a Deus agradecer.

Somos jovens conscientes
Nós gostamos das culturas
Relatamos no cordel
Nossos sinais de bravuras
E saímos pelo mundo
Revivendo as aventuras.

Leonardo Boff disse
Com a luz da sua crença
Que os jovens não precisam
Pedir nenhuma licença
Para lutar por justiça
E fazer a diferença.

Fernando Paixão pediu
Para um cordel preparar
Falar de jovens reunidos
Vindos de todo lugar
Estamos todos felizes
Por Deus nos abençoar.

Juventudes se encontram
E vimos quanta beleza
Juntos nos tornamos um
É o Reino com certeza
De um a quatro de maio
Na cidade Fortaleza.

Oficina de Espiritualidade e Literatura de Cordel
I Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora
Oficineiro: Fernando Paixão
02 e 03 de maio de 2014
           
            Após o jantar fizemos uma linda celebração onde saímos com candeeiros e ou lamparinas nas mãos pelas ruas próximas ao local do encontro em direção à Praia de Iracema. As pessoas iam se levantando nos bares e aplaudindo; de dentro dos ônibus algumas jovens perguntavam a quem estava na procissão o que estava acontecendo. E aquelas 400 pessoas iam cantando, numa crescente onda, cantos da caminhada.
            Ao chegarmos na praia foi feita uma grande roda e depois pequenos círculos onde foram partilhados peixes fritos e tapioca com água de coco. Voltamos para as casas que nos acolhiam.
          No domingo vieram as apresentações das oficinas, a celebração de encerramento com a leitura da carta oficial do Encontro.
          Ficou o gosto de querer mais. Espero que em breve tenhamos um II Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora.





[1] Mestrando em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Bacharel em Teologia pelo Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo; Licenciado em História pelo Centro Universitário São Camilo, Vitória-ES; Bacharel em Turismo pela Faculdade de Turismo de Guarapari – ES; autor do livro O Mistério e o Sopro – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005 (www.cpp.com.br); autor de Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007 (www.cebi.org.br); correio eletrônico: est_capixaba@yahoo.com.br. 

Um comentário:

Lucia V. Oggioni disse...

Feliz por você. Sucesso professor!!!Lúcia V. Oggioni