SE
QUEREM CONTINUAR COM A TEOLOGIA E A ESPIRITUALIDADE DA LIBERTAÇÃO...BUSQUEM OS
POBRES!
Emerson Sbardelotti Tavares[1]
Me
pediram para escrever um texto falando sobre a experiência de estar no I
Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora, que aconteceu
dos dias 01 a 04 de maio de 2014, na Faculdade Católica do Ceará (Seminário da
Prainha), próximo à Praia de Iracema, em Fortaleza, no Ceará, o que faço com
imenso prazer, pois passado já alguns dias do seu encerramento, posso olhar
para o evento e constatar feliz que participei de um momento histórico e único
na história da Igreja Católica, num local sagrado, pois ali estudaram, Padre
Cícero, D. Hélder Câmara e D. Aloísio Cardeal Lorscheider.
Me
recepcionou no aeroporto, no dia 30 de abril de 2014, o querido padre Emílio
Castelo, que me contou um pouco da realidade da paróquia que administra e do
trabalho que desenvolve em um hospital na cidade de Fortaleza.
Já
no credenciamento no dia 01 de maio, a equipe nos recebeu com sorrisos e
abraços fraternais, resolvendo os problemas com a hospedagem e a troca de
oficinas. Aproveitei para rever João Facundo, um amigo querido que fiz no
Congresso Continental de Teologia, que aconteceu dos dias 7 a 11 de outubro de
2012, na Unisinos, em São Leopoldo-RS, onde sonhávamos juntos com um Encontro
Nacional de Novos Teólogos da Libertação (acredito que isso ainda bata forte em
nosso peito, não é mesmo João?).
Quando
eu estava indo embora vem ao meu encontro a querida cantora da caminhada
Eliahne Brasileiro, junto com a indígena Natália Tatanka; depois dos abraços e
beijos, a Eliahne me convidou para fazer parte da Equipe de Animação, fiquei
feliz com o convite e aceitei no ato, indo logo para a sala onde acontecia o
ensaio. Ao encerrar o ensaio fui depressa no local onde eu estava hospedado,
pois a abertura do evento se aproximava. Às 16 horas em ponto, lá estava eu com
a Equipe de Animação levantando a galera, e passando os cânticos que seriam
usados na celebração daquele dia. Era muita emoção, e eu ali vendo aquela
juventude chegando de vários cantos do país, com sorrisos, olhos brilhando e
fiel esperança.
Na
conferência de abertura o monge beneditino Marcelo Barros e o frei Betto,
conversaram sobre a Espiritualidade Libertadora Hoje, mas não deixaram de falar
um pouco de suas ricas experiências com D. Hélder Câmara e com frei Tito, e da
conversa ligeira que frei Betto teve com o bispo de Roma, o papa Francisco. E
findou o primeiro dia. E a juventude saiu para curtir a noite quente de
Fortaleza no centro cultural Dragão do Mar que em vários locais oferecia os
mais variados shows musicais.
Na
sexta-feira, dia 02 de maio, na chegada dos participantes, íamos entoando
cânticos populares e sócio religiosos para que a galera fosse se enturmando
ainda mais; após a celebração da manhã em que frei Betto, emocionado deu seu
testemunho sobre o período em que foi preso e que na cadeia conviveu com frei
Tito e leu uma parte do diário em que o frei contava como havia sido torturado.
Todos nós choramos juntos com o frei Betto em determinado momento da leitura. Frei
Tito vive em nós!
No auditório tivemos
uma recordação do dia anterior, com o padre Manfredo e logo em seguida uma mesa
de discussão com representantes de movimentos juvenis, onde os mesmos puderam
falar um pouco de suas vivências e expectativas para o Encontro Nacional de
Juventudes e Espiritualidade Libertadora.
Na parte da tarde
partimos para as oficinas. A minha foi a de Espiritualidade Libertadora e
Literatura de Cordel com Fernando Paixão.
Depois do jantar,
aconteceu a apresentação de um grupo de maracatu; vários jovens se dirigiram
após a apresentação ao Dragão do Mar para aproveitarem as atrações culturais.
No sábado, dia 03 de
maio, celebramos a Páscoa de D. Tomás Balduíno e também a Páscoa do padre Joao
Batista Libanio.
O monge Marcelo Barros
falou da convivência com D. Tomás Balduíno e do amor que este tinha para com
todos que estavam ao seu redor e como ele se colocava sempre em caminhada mesmo
por vezes estando doente.
Não aguentei a emoção e
precisei me retirar para chorar por estes dois amigos queridos, que com certeza
estão ao lado do Moreno de Nazaré.
Como me disse o
missiólogo da libertação Paulo Suess: "É tempo de Páscoa. As árvores que
deram muitos frutos caíram, deixaram clareiras pelas quais a luz entra
novamente na selva da Vida e faz brotar árvores jovens como você, como vocês. É
Páscoa!".
É tempo de brotar
árvores jovens!
Emocionado como estou
agora, isso me faz ver, o quanto sou responsável também por uma Teologia
Missionária e da Libertação.
Como me disse hoje o
querido Leonardo Boff: "Não deixe de dizer as verdades que lhe vêm ao
coração e à alma. Elas são verdades. Se lhe caluniam, se lhe dizem que você é
persona non grata, saiba que disseram isso também a Jesus de Nazaré. Faça como
faz o nosso Papa Francisco: use o Evangelho. Eles, elas, não terão argumentos
para dizerem que você está errado!".
É tempo de brotar
árvores jovens!
E fomos para o
auditório onde animamos a galera e preparamos os 400 participantes para a
conferência de Leonardo Boff. Conferência esta que seria partilhada com João
Batista Libanio. De certa maneira o querido jesuíta estava ali com a gente e
deve ter gostado do que viu e ouviu.
Leonardo Boff foi muito
simpático, atencioso, bondoso e ressaltou sua profunda esperança de uma Igreja
navio que parte para outros mares, que está sendo colocada em marcha pelo Papa
Francisco. Falou da força da juventude, que ela não precisa pedir permissão
para reivindicar e ser revolucionária. E se a juventude quer continuar com a
Teologia da Libertação, com a Espiritualidade da Libertação, ela deve buscar os
pobres. Fora dos pobres não há salvação, já diria o jesuíta Jon Sobrino.
Partimos para o almoço.
A tarde iniciou com os
trabalhos nas oficinas. A nossa produziu o seguinte Cordel que deveria ser
cantado com uma linda toada, mas não tivemos tempo, e foi apenas recitado no
último dia do Encontro:
CORDEL
E ESPIRITUALIDADE
O nosso Primeiro
Encontro
Nacional de Juventudes
E Espiritualidade
Nos convida à atitudes
Que sejam libertadoras
Como principais
virtudes.
Ele uniu as Juventudes
De diversas regiões
Que veio trazer à pauta
Profundas reflexões
Que foram
compartilhadas
Entre as duas gerações.
Juventudes seguem
juntas
Fiquem todos à vontade
Tragam todo o seu amor
A bondade e a humildade
Para construirmos
juntos
A nova sociedade.
Senhores eu vou pedir
Atenção pois vou falar
Do nosso encontro de
jovens
Vindos de todo lugar
Com esperança e com fé
Pra Igreja refundar.
O Frei Betto e o Marcelo
Chamados a partilhar
A espiritualidade
Usadas pra libertar
Neste mundo desigual
Que precisamos mudar.
Quando prenderam Frei
Betto
Sem dó e sem piedade
As grades não lhe
roubaram
Nem a sua liberdade
Nem a sua devoção
Nem a espiritualidade.
Somos jovens sonhadores
A luta vamos vencer
Estamos todos unidos
Pra mudança acontecer
Caminhando todos juntos
Para a Deus agradecer.
Somos jovens
conscientes
Nós gostamos das
culturas
Relatamos no cordel
Nossos sinais de
bravuras
E saímos pelo mundo
Revivendo as aventuras.
Leonardo Boff disse
Com a luz da sua crença
Que os jovens não
precisam
Pedir nenhuma licença
Para lutar por justiça
E fazer a diferença.
Fernando Paixão pediu
Para um cordel preparar
Falar de jovens
reunidos
Vindos de todo lugar
Estamos todos felizes
Por Deus nos abençoar.
Juventudes se encontram
E vimos quanta beleza
Juntos nos tornamos um
É o Reino com certeza
De um a quatro de maio
Na cidade Fortaleza.
Oficina de
Espiritualidade e Literatura de Cordel
I Encontro Nacional de Juventudes
e Espiritualidade Libertadora
Oficineiro: Fernando
Paixão
02 e 03 de maio de 2014
Após
o jantar fizemos uma linda celebração onde saímos com candeeiros e ou
lamparinas nas mãos pelas ruas próximas ao local do encontro em direção à Praia
de Iracema. As pessoas iam se levantando nos bares e aplaudindo; de dentro dos
ônibus algumas jovens perguntavam a quem estava na procissão o que estava
acontecendo. E aquelas 400 pessoas iam cantando, numa crescente onda, cantos da
caminhada.
Ao
chegarmos na praia foi feita uma grande roda e depois pequenos círculos onde
foram partilhados peixes fritos e tapioca com água de coco. Voltamos para as
casas que nos acolhiam.
No
domingo vieram as apresentações das oficinas, a celebração de encerramento com
a leitura da carta oficial do Encontro.
Ficou
o gosto de querer mais. Espero que em breve tenhamos um II Encontro Nacional de
Juventudes e Espiritualidade Libertadora.
[1] Mestrando em Teologia Sistemática
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Bacharel em Teologia pelo
Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo;
Licenciado em História pelo Centro Universitário São Camilo, Vitória-ES;
Bacharel em Turismo pela Faculdade de Turismo de Guarapari – ES; autor do livro
O Mistério e o Sopro – roteiros para
acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005
(www.cpp.com.br); autor de Utopia Poética.
São Leopoldo: CEBI, 2007 (www.cebi.org.br); correio eletrônico:
est_capixaba@yahoo.com.br.
Um comentário:
Feliz por você. Sucesso professor!!!Lúcia V. Oggioni
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