NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA
4º. DOMINGO DO TEMPO COMUM – 01.02.2009
“É UM ENSINAMENTO NOVO, COM AUTORIDADE.”
“Vejam, procurei bem aqueles que ninguém procurava e falei de meu Pai. Pobres, a esperança que é deles, eu não quis ver escrava de um poder que retrai.” José Thomaz Filho & Frei Fabreti – CD Missas – Paulinas.
Para início de conversa
No Evangelho de hoje nós experimentamos a primeira ação de Jesus contra o desumano: sua prática eficaz e poderosa contra todo o mal que maltrata o ser humano e também contra a Lei da Pureza (em que a santidade de Deus é ameaça para todos os pecadores e pecadoras) que marginalizava ainda mais a vida das pessoas daquele tempo. É a primeira atividade pública de Jesus com característica libertadora e ilegal, pois acontece num sábado, dentro de uma sinagoga em Cafarnaum; ele rompe com qualquer esquema pré-estabelecido. A novidade de seu ensinamento é o favorecimento aos pobres, aos que estão caídos, marginalizados, espoliados e excluídos. A autoridade de Jesus é constatação da eficácia em favor da vida, em favor do povo. É uma autoridade atribuída somente a Jesus e negada aos escribas. A pratica de Jesus acentua a distância entre a sua mensagem e a mensagem dos escribas. Jesus utiliza a sinagoga deles para espalhar a boa nova do Reino e automaticamente dizer quem ele é. Com base em seus gestos, nós podemos descobrir quem Jesus é e o que quer de nós?
Nessa primeira atuação de Jesus se unem ensinamento e milagre. A vitória de Jesus sobre os poderes do mal que escravizam o ser humano. O povo, ao ouvir e ver, começa a admirá-lo. Ele ensina como fonte autorizada da doutrina, mesmo não sendo um escriba. Será que hoje em dia, nós nos admiramos pelas palavras e gestos de Jesus?
A palavra de Jesus é confirmada pela sua prática, que tira os seres humanos do jugo da morte. Como esta palavra se cumpre para nós hoje em nossas comunidades eclesiais de base?
Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Mc 1, 21 - 28.
É um ensinamento novo, com autoridade. E acontece num sábado, dentro de uma sinagoga, acompanhado por seus discípulos. No sábado se celebrava a vida e a comunhão com Deus e a sinagoga era o local onde se estudava e se aprendia como estar em comunhão com Deus. Mas não era isso que estava acontecendo e Jesus decidiu intervir em favor de todo o povo representado naquele homem possuído por um espírito mau.
Todos nós sabemos que no Segundo Testamento, Satanás e os demônios em geral possuem papel de destaque, de protagonistas. Na época de Jesus, Satanás deixa de ser nome comum para ser nome próprio. Se vivia num mundo em que se pensava que o demônio era a fonte de toda enfermidade e de todo pecado. O demônio entra no homem. É chamado de impuro e de mau, um temível tentador que não se detém sequer diante da figura de Jesus. Os milagres feitos por Jesus refletem a forma como o povo simples da Galiléia, abandonado por todos o acolheu. Mas Jesus não aceita uma fé que se apóie em milagres, mas no compromisso com os pobres e com a comunidade dos fieis. O que mancha o ser humano nunca é o que vem de fora, mas o que vem de dentro; portanto, o perigo para o ser humano não é ser possuído por Satanás, mas ser invadido pela dureza em seu coração.
Jesus encerra o prazo de domínio do mal sobre o ser humano. Não é possível existir, coexistir dois poderes contrários, um a favor e outro contra a pessoa: a proximidade do Reino é a novidade e ela vence.
Neste Evangelho o ensino e a prática de Jesus são a mesma coisa: ele liberta ao mesmo tempo que ensina. O ensinamento dos escribas não conduzia à libertação, aprisionava toda a caminhada do povo. Entrando na sinagoga naquele sábado, Jesus procura aquele que ninguém procurava, se volta para aquele que ninguém dava atenção. Colocando aquele possuído por um demônio no centro das atenções, mostra que a libertação que traz é prática e ensino.
Os espíritos maus sabiam quem era Jesus...e nós, sabemos?
O silêncio que é imposto aos espíritos maus privilegia a nossa caminhada enquanto membros de uma comunidade?
A tarefa de libertar e ensinar a libertação é tarefa dos discípulos e das discípulas que devem proclamar quem é Jesus, mas para isso é preciso se converter e acreditar na boa notícia do Reinado de Deus.
Jesus é aquele que vem para destruir o mal que aliena, que despersonaliza e denigre a dignidade humana.
A fama não irá atrapalhar a vida pública e profética de Jesus, ele a renunciará em favor da vida de todos os marginalizados, pois ser famoso é cair na tentação de não construção do Reino.
Nós temos esta coragem de dizer não a fama e ao sucesso para fazer valer a construção do Reino de Deus?
Minha saudosa avó materna, Lavigna, em muitas histórias que contava, dizia que muitos que não tinham nada se enriqueciam rapidamente, de uma hora para outra, e se espalhava a notícia na região que haviam feito um pacto com o Diabo e que na época certa ele vinha para buscar a alma daquele que havia assinado o acordo...e parava e olhava para o horizonte e dizia calmamente: “Quem tem um coração duro não consegue sair do escuro e faz acordo com quem não presta; mas Deus sempre está à beira do caminho, levantando quem está caído, passando remédio nas feridas e fazendo a gente seguir em frente, ajudando outros pela estrada...aí se salva...aí se salva.” Vovó tinha razão.
Emerson Sbardelotti
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Membro do Grupo de Assessores da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Msn: emersonpjbes@hotmail.com
Blog: http://omisterioeautopia.blogspot.com/
Ilustração de Maximino Cerezo Marredo (http://servicioskoinonia.org/cerezo/)
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