ICJ/ES - INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA
BATISMO DO SENHOR – 11.01.2009
“EU VOS BATIZO COM ÁGUA, ELE VOS BATIZARÁ COM ESPÍRITO SANTO”
“É por causa do que fez João Batista, que arriscou, mas preparou a sua vinda. É por causa de milhões de testemunhas que apostaram suas vidas no amor”. Pe.Zezinho,scj – Cd Sol Nascente, Sol Poente – Paulinas.
Para início de conversa
Na tradição o Evangelho de Marcos é o mais antigo dos Evangelhos, a temática principal é a pessoa de Jesus, muito mais que seus milagres e ensinamentos. Declara desde o princípio que Jesus é o Filho de Deus e que o relato sobre sua vida é a boa notícia. Marcos era um nome corrente na época de Jesus e nos anos seguintes, a tradição o coloca como discípulo de Pedro, com o personagem que figura nos Atos dos Apóstolos, mas a identificação é incerta.
O Evangelho é destinado aos convertidos de língua grega, por isso a existência de explicações sobre os termos e costumes dos judeus. A comunidade de Marcos supõe escrever a obra para responder seus problemas específicos: pobreza, perseguições, vacilações na fé...todos esses problemas estarão refletidos na conduta dos discípulos e discípulas do Evangelho. Mesmo assim a obra é muito mais abrangente do que uma conjuntura momentânea. No Evangelho o discipulado é o xodó de Jesus. É a primeira coisa que Jesus faz ao sair do rio Jordão depois de ser batizado por seu primo João Batista: chamar discípulos.
A pretensão do Evangelho: acordar o pessoal das comunidades. Estava colocando um espelho na frente deles. Para que tomassem consciência dos seus defeitos, para que não desanimassem diante dos seus defeitos e diante das muitas dificuldades.
As comunidades já viviam espalhadas pelo Império Romano quando o Evangelho foi escrito em mutirão e finalizado na cidade de Roma mais ou menos em 70 E.C., e as reuniões eram feitas nas casas, pois a comunidade de Roma passava por um período de insegurança e incerteza. A partir do ano de 62 E.C., as tensões sócio-políticas na Palestina, desencadearam movimentos que resultaram na guerra entre judeus e romanos nos anos de 66 a 70 E.C.; Tiago que chefiava a Igreja em Jerusalém, foi apedrejado em 62 E.C., Pedro e Paulo foram executados em Roma, entre 65 – 67 E.C. , na perseguição promovida por César Nero. Com o suicídio de Nero em 68 E.C. estourou uma guerra entre os generais romanos levando ao poder Vespasiano que lutava contra os judeus. Em seu lugar assume seu filho Tito que arrasa e destrói o Templo de Jerusalém.
O Evangelho de Marcos quer ajudar as comunidades a entender melhor o sentido e o alcance da sua fé em Jesus, o Filho de Deus, um roteiro de viagem na estrada, orientando como percorrer o caminho dos primeiros discípulos desde a Galiléia até Jerusalém e finalmente responder a questão fundante: Quem é Jesus?
Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Mc 1, 7 – 11.
Com o Batismo do Senhor, se encerra o Tempo do Natal. Fazemos o memorial do dia em que Jesus foi batizado e proclamou aos quatro cantos a sua adesão ao Pai e à missão que lhe foi confiada. O Evangelho de hoje é o início da atividade de Jesus.
A boa notícia já havia sido anunciada pelos profetas do Primeiro Testamento e agora João Batista a prepara. João se assemelha a Elias, não somente por causa de suas roupas ou do deserto onde prega, mas por causa do batismo de arrependimento que se expressa na confissão pública dos pecados para obter o perdão de Deus e na imersão na água purificadora. Representa, portanto, o batismo, um rito que sela e reconcilia o ser humano com a divindade.
João Batista é apresentado como o Profeta que precede o Messias. A prática de Jesus brota da prática de João Batista: a vida e o perdão não são oferecidos no Templo de Jerusalém, mas no deserto; não pelas mãos dos sacerdotes mas pelas palavras e ações do Profeta; não mais através de rituais de sacrifícios de purificação dos doutores da lei mas sim de um batismo que leva a conversão eficaz. Esta conversão muda o coração que recebe o Espírito anunciado por João e que paira sobre a cabeça de Jesus. João Batista será retratado pelo próprio Jesus como o profeta Elias; profeta em conflito com o sistema, que vive como nômade pobre e renuncia privilégios humanos, que está a margem de Jerusalém, e é se tornando marginalizado que pode anunciar um projeto igualitário de sociedade rompendo com toda e qualquer negativa de salvação do povo.
O Evangelho de hoje mostra o jeito certo de servir para instaurar a justiça: o veio de esperança que ainda resta entre os pobres, entre o povo. É a aliança divina sendo refeita com seu povo. E então a luz retorna as nações, aos olhos dos cegos, poderão gozar a liberdade e a vida. Jesus com a sua pedagogia e prática libertadora irá revelar ao mesmo tempo quem ele é e em que consiste o Reino de Deus. O Precursor não é o Messias esperado. João conhece e respeita seu lugar e função. Ele afirma que Aquele que vem depois irá batizar com o Espírito Santo. Só sentirá, enxergará este significado quem fizer a experiência a partir da prática de Jesus: adesão total ao projeto de Deus. O batismo ministrado por João era um sinal desta adesão e Jesus se deixa batizar para que solidário com a nossa condição de pecadores nos façamos como ele um forte. O caminho de Deus e o caminho da humanidade em Jesus são um e são o mesmo.
Receber de João o batismo, agora tem um outro sentido: seu submergir e subir, aponta para sua morte e ressurreição. Os céus se abrem e o Espírito desce até ele como profetizara Isaias. E se escuta uma voz celestial, a de Deus, num testemunho claro e definitivo: “Tu és o meu Filho querido, o meu predileto”.
A metáfora do Batismo se baseia enquanto inicio de uma nova vida. Simboliza não só a incorporação em Cristo, mas a união de todos os discípulos e discípulas como membros do corpo único de Jesus.
Em nossas comunidades, todos os anos, várias crianças, jovens e adultos se deixam batizar; uma festa maravilhosa, rica, liturgicamente. Mas, como está sendo o acompanhamento destes novos cristãos? Elas, eles, conseguem de fato ouvir a voz celestial: “Você é a minha Filha querida, a minha predileta”; “Você é o meu Filho querido, o meu predileto”? Será que somos capazes de escutar e auscultar a voz de Deus nos nossos irmãos e irmãs hoje? Não somente para assistencialismo mas para entrega real e total, um despojamento sem fronteiras?
Será que somos corajosos ao ponto de entrar junto com Jesus na fila dos pecadores, reconhecendo que somos responsáveis pela situação em que se encontra o nosso bairro, o município, o estado, o país, o continente e o mundo? Será que somos capazes de enxergar que o céu aberto é o fim da passividade para o fato da esperança para o povo?
A condição humana sempre será uma característica muito marcante, pois somente descendo ao inferno é que Jesus conhecerá e reconhecerá o seu povo. O inferno do sofrimento humano: indiferença, preconceito, intolerância, violência, abandono. A missão de Jesus será a de restaurar o povo.
Olhando as fotos de quando fui batizado, observei o sorriso de minha madrinha e de meu padrinho, o abraço carinhoso de minha mãe em meu pai, os olhares atentos do padre, e a cara de choro que fiz por causa da água que não molhava apenas, mas me inundava com a presença da Trindade Santa; observei como eram grandes as velas que meu pai e meu padrinho tiveram que segurar, com certeza, era para que eu nunca me desviasse da Luz. Deve ter sido muito boa a festa que fizeram no meu batismo, assim como deveriam ser as festas que as Primeiras Comunidades faziam quando uma pessoa se deixava batizar e aceitava ser discípula, discípulo.
A alguns anos atrás retornando da Semana de Liturgia em São Paulo, tive a experiência de assistir e testemunhar um batismo por imersão. Fiquei extremamente emocionado com toda aquela simbologia: o local próximo a porta principal da Igreja, as vestes brancas, cantos propícios e cantores entrosados com toda a Assembléia, que estava ao redor daquela jovem recebendo o batismo. Acredito que no coração dela, no meio das batidas, ela escutou, o que imaginei ter sido um bater de asas: “Você é minha filha querida, a minha predileta”!
Emerson Sbardelotti
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Membro do Grupo de Assessores da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Msn: emersonpjbes@hotmail.com
Blog: http://omisterioeautopia.blogspot.com/
Ilustração de Maximino Cerezo Marredo (http://servicioskoinonia.org/cerezo/)
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